DEMO, Pedro. “Demarcação científica” in: Metodologia Científica nas Ciências Sociais. São Paulo: Atlas, 1981. Pp. 13-28.
Jonathan Kreutzfeld[1]
Pedro Demo é catarinense, nascido em Pedras Grandes no ano de 1941. Teve uma vida acadêmica iniciada em instituições franciscanas, fez doutorado em Sociologia na Universität Erlangen-Nürnberg – Alemanha. Professor Titular da Universidade de Brasília, desde 1982, Departamento de Sociologia (SOL). Dedicação exclusiva desde 1994. Aposentado em maio de 2008. Ocupou cargos importantes em ministérios e secretarias de vários governos, fez dezenas de participações em governos e missões nacionais e internacionais. Possui 92 livros lançados até o ano de 2011 além de numerosos artigos. Mesmo aposentado, ainda faz palestras e oferece assessoria a diversas instituições.
O texto “Demarcação científica” se inicia com o próprio dilema que o intitula, a ciência e suas definições tendo como elo a metodologia que por sua vez está sujeita as diversas ideologias que a cercam, sempre buscando retirar do senso comum e organizar cientificamente. É um texto bastante polêmico, denso e com conceitos importantes para o pesquisador, tendo como resultado final, a dialética como vertente metodológica mais adequada na visão do autor.
A ciência retira as “coisas” do senso comum por seus meios mais precisos, críticos e realistas. Através de suas justificativas, a ciência “inclui sempre a deturpação dos fatos em favor da posição a ser defendida, e chega mesmo à falsificação, quando atinge o nível da própria mentira (p.14).” É importante, portanto controlar-se diante da ideologia, pois ela mesmo que o pesquisador não queira e se negue a dizer que é tendenciosa, será.
Todo trabalho, deve seguir alguns critérios importantes para que seja de fato científico: coerência, consistência, originalidade e objetividade. Não que isso seja uma regra, afinal o autor propõe uma demarcação científica e não julga ser a única. Estes critérios são importantes para que o trabalho seja honesto, coeso e relevante. Mesmo que nem para todas as vertentes ideológicas a importância seja a mesma. Afinal o “importante é acentuar a tentativa de visualizar a ciência como produto social [...] (p.18).”
Com relação ao objeto, Demo utiliza conhecimentos da Antropologia para exemplificar. Há pelo menos dois tipos de sujeito, o ontológico e o lógico, sendo que o ontológico é o ser criado, e é aí que entra o antropólogo, afinal, não haveria família indígena na ciência, sem que o antropólogo tivesse utilizado dos meios empíricos para construir o “sujeito índio”. É o mesmo que uma árvore caindo sem que ninguém a perceba ou ouça. Pelo menos para o objeto da ciência.
Demo demonstra frieza na causa científica quanto à originalidade e significância dos objetos e resultados da ciência acusa a universidade e os pesquisadores de criarem meios de continuarem existindo para continuar com seu “status” e seus ordenados. Afirma que “o cientista é um cafajeste qualquer e a universidade é um prostíbulo ordinário (p.20).” Ele destaca que os principais produtos, os mais tecnologicamente desenvolvidos sempre acabam sendo utilizados primordialmente para as guerras. Demo encerra esta etapa dizendo que entre ideologias, interesses e ciência, há sim a grande dificuldade de percepção da realidade e por este motivo há um constante e interminável período de construção.
A ciência é verdade durante um período, é o que propõe o autor, que a ciência é de fato um processo e sucessivamente é superada por novos métodos. Não que deixe os pressupostos anteriores num recipiente inútil, apenas superado, mas não deixa de ser utilizado. A ciência é interessante e evolui por conta das críticas e não pelas verdades, a verdade é uma necessidade temporária de um processo. Demo diz que “a prática só pode ser parcial, porque está historicamente determinada. A teoria pode ser absolutizante, porque não tem compromisso histórico (p.25).” No entanto, não existe afirmação absoluta, neste caso a teoria acabada seria um engano. Neste dilema pode-se chegar a conclusão de que a ciência é um a Utopia. No entanto, a evolução que buscamos é fruto dessas sucessivas verdades e críticas. Uma ciência acabada colocaria fim no processo científico e seria contraditório com relação à utopia. Demo considera que a dialética seria a postura metodológica mais congruente com a busca absoluta e constante da aproximação da verdade.
[1] Aluno do Mestrado Profissional em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Socioambiental da FAED/UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina).
Excelente!
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