Peregrinos islâmicos na Grande Mesquita, em Meca, na Arábia Saudita,
onde fica a Kaaba (o cubo negro no centro da foto), lugar mais sagrado do
Islamismo. Atualmente, há cerca de 1,6 bilhão de muçulmanos em todo o mundo,
que correspondem a quase 25% da população mundial, estimada em 7 bilhões (Fonte:
Pew Forum on Religion & Public Life, 2012)
Protestos contra os Estados Unidos espalharam-se nesta semana por mais
de vinte países islâmicos, em dois continentes, deixando 30 mortos. O motivo da
crise foi um vídeo contendo material considerado ofensivo à religião muçulmana.
As cenas foram divulgadas na internet no dia do aniversário de onze anos dos ataques do 11 de Setembro.
Direto ao ponto: Ficha-resumo
Na mesma noite, o embaixador americano na Líbia, Christopher Stevens,
morreu em um ataque ao consulado dos Estados Unidos em Benghazi, segunda maior
cidade líbia. Outros três funcionários do corpo diplomático também morreram no
prédio da embaixada, que foi incendiado. Essa foi a primeira morte de um
diplomata americano em três décadas.
Nos dias seguintes, outras embaixadas americanas foram alvo de
manifestações em países árabes e de maioria muçulmana, no norte da África e na
Ásia central e meridional. Entre eles,Egito, Tunísia, Sudão, Iêmen, Irã, Iraque, Afeganistão, Indonésia e territórios palestinos.
Não por acaso, o “mapa” dos tumultos coincide, em parte, com o palco da
onda de protestos pró-democracia do ano passado, a chamada “Primavera Árabe”.
Nessas nações, a queda de regimes ditatoriais gerou instabilidade política e
fortalecimento de grupos islâmicos radicais, que agora insuflam a ira contra os
americanos.
Um dos casos mais exemplares é o do Egito. Pressionado por manifestações
populares, o presidente Hosni Mubarak renunciou ao cargo no dia 11 de
fevereiro, encerrando três décadas de ditadura. Em junho, no segundo turno das
primeiras eleições livres da história do país, o candidato da Irmandade
Muçulmana, Mohamed Morsi, venceu as eleições presidenciais.
A Irmandade Muçulmana é um dos movimentos que segue o fundamentalismo
islâmico moderno, surgido nos anos 1980, que defende um Estado baseado nos
princípios do Islã. Para os fundamentalistas, os Estados Unidos são vistos como
inimigo por apoiar Israel nos conflitos contra os árabes e pelo histórico de
intervenções militares na região.
YouTube
Nesse contexto, o vídeo polêmico
tornou-se o estopim de novas revoltas. O vídeo de 14 minutos, veiculado no
YouTube, contém cenas de um filme amador. A película foi produzida nos Estados
Unidos e intitulada A Inocência dos Muçulmanos. As cenas mostram
o islamismo como uma seita de fanáticos, e o profeta Maomé como um homem
violento, pedófilo e bissexual. Os muçulmanos consideraram o filme uma
blasfêmia.
Dois dias depois da divulgação, o diretor Sam Bacile foi identificado
como Nakoula Basseley Nakoula, um cristão copta (egípcio) de 55 anos que vive
na Califórnia e já foi condenado por fraudes em 2010. Atores disseram que foram
enganados pelo diretor, que não teria revelado, durante as filmagens, o teor
religioso da produção. O presidente Barack Obama e sua secretária de Estado, Hilary Clinton,
criticaram o filme.
Charges
Não é a primeira vez que insultos ao
islamismo provocam protestos no mundo. Em 30 de setembro de 2005, o jornal Jyllands-Posten, de maior tiragem na Dinamarca,
publicou 12 caricaturas intituladas “As faces de Maomé”.
As charges provocaram manifestações violentas, incêndio em embaixadas
dinamarquesas e uma crise diplomática com países árabes. O redator-chefe do
jornal, ameaçado de morte, pediu desculpas publicamente.
Em setembro de 2010, o pastor Terry
Jones despertou a atenção mundial por seu plano de queimar exemplares do Corão no aniversário dos atentados terroristas do 11 de
Setembro. Após as fortes reações no mundo muçulmano e das críticas de líderes
internacionais, Jones desistiu da ideia.
Mas em 20 de março de 2011 ele voltou atrás e cumpriu o prometido em uma
igreja na Flórida, diante de 50 fiéis. Em reação, houve protestos no
Afeganistão que deixaram vinte mortos, entre eles sete funcionários da ONU.
Ambos os casos voltaram a se repetir
este ano. Em abril Terry Jones queimou exemplares do livro sagrado do
Islamismo. Mais recentemente, no último dia 19, o semanário de humor francês Charlie Hebdo publicou charges do profeta Maomé que
contribuíram para aumentar a tensão no mundo árabe. Preocupado com a
repercussão, o governo francês anunciou o fechamento temporário de suas embaixadas
e escolas em 20 países.
Consequências
políticas
Essa nova onda de protestos é relevante porque afeta a política externa
dos Estados Unidos em suas relações com o Oriente Médio. Ela pode também ter
consequências nas eleições presidenciais americanas deste ano.
Quando Barack Obama assumiu a Presidência, em janeiro de 2009, ele mudou
os rumos da política isolacionista e beligerante de seu antecessor, George
Bush, cujo governo promoveu a invasão do Iraque e do Afeganistão. Essas guerras
foram respostas aos atentados terroristas de 2001.
Agora, a mudança dos rumos políticos no Oriente Médio compromete os
esforços diplomáticos na região. Os atos antiocidente podem ser ainda usados
por adversários políticos, uma vez que a campanha de reeleição de Obama se baseia,
em parte, no sucesso da abertura do diálogo com os povos islâmicos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário