China
A
economia chinesa tem se destacado, no período recente, por apresentar elevadas
taxas de crescimento quando comparada às demais economias em desenvolvimento
(taxa média de crescimento do PIB igual a 10% nos anos 1990 e 9,4% entre 2000 e
2005).
Andrade
(2006) aponta, entre os principais condicionantes do elevado
crescimento
chinês, as altas taxas de investimento, uma maior abertura comercial, política
de estímulos favoráveis às exportações e à atração de investimentos externos, a
manutenção de um regime cambial rígido e favorável ao desempenho do setor
externo a partir de meados dos anos 1990 e os investimentos em capital humano.
Cabe
ressaltar ainda o papel desempenhado pelos controles de capitais e o câmbio
administrado como elementos que favoreceram o crescimento chinês, e que, no
caso dos controles de capitais, serviu como política de proteção a choques externos
e possível volatilidade dos fluxos de capitais. O autor observa que as elevadas
taxas de crescimento estão atreladas às altas taxas de poupança e investimento,
e que a formação bruta de capital fixo apresentou um crescimento recorrente nos
anos 1990, atingindo 40% em 2003, com um comportamento similar da taxa de
poupança, também acima dos 40% nos anos 1990 e 2000.
O
investimento em capital humano apresentou razoável crescimento
(4,28%)
no período de 1953 a 1999 de acordo com Wang e Yao (2003). Heckman (2005), no entanto,
ressalta o desequilíbrio existente entre investimento em capital físico e
capital humano na China. A razão entre investimento em capital físico e capital
humano é alta. Em 1995 a China gastou aproximadamente 2,5% do PIB em escolaridade
e 34% em acumulação de capital físico. No entanto, a parcela da população com
nível superior foi igual a 4,7% em 2002, relativamente baixa se comparada com
alguns países desenvolvidos onde esta proporção excede 30%. O autor aponta uma
taxa de retorno da educação na China de 7% nos anos recentes, muito abaixo da
taxa de 20% de retorno do capital físico.
Cabe
destacar que, segundo Rodrik (2006a), a China não seguiu de
maneira
rígida várias das recomendações sugeridas para uma maior integração global. Na
realidade, as políticas chinesas têm sido até certo ponto morosas e específicas,
com uma abertura comercial gradual e com defasagens em várias reformas
comerciais e financeiras. Ainda permanecem em vigor várias barreiras
tarifárias,
não tarifárias e licenças comerciais, além de determinados controles sobre os
fluxos de capitais, principalmente sobre os de curto prazo.
Sobre
o comércio exterior, observam-se a ampliação da participação
chinesa
no comércio internacional (6% do comércio mundial em 2003), o aumento do grau
de abertura da economia (soma das exportações e importações em relação ao PIB)
e sucessivos superávits na balança comercial. Lai (2004) sugere que a trajetória
ascendente da relação exportações de bens e serviços/PIB decorre de
mudanças
no ambiente econômico chinês. Destacam-se as reformas orientadas para o
mercado, a adoção de políticas comercial e cambial apropriadas, investimentos
diretos originados de Hong Kong e Taiwan e de corporações multinacionais, o
aumento nas importações de bens de capital e na eficiência das indústrias
manufatureiras.
Andrade
(2006) destaca que a política comercial chinesa se desenvolveu de acordo com as
linhas de outros países asiáticos, restringindo importações e incentivando as
exportações, principalmente o processamento e a exportação de produtos
intermediários importados. Nesse sentido, muitas empresas da região
Ásia-Pacífico
se lançaram no mercado chinês em busca de vantagens em termos de baixo custo da
mão de obra e de impostos para montagem e reexportação. Em 2000, verifica-se
uma alteração do perfil das exportações chinesas, passando a predominar as
exportações de produtos manufaturados (89% das exportações totais), aumentando
a proporção de bens associados à mão de obra qualificada e insumos
tecnológicos. Rodrik (2006a) ressalta que o perfil das exportações chinesas
direcionado para produtos mais sofisticados, com elevados níveis de produtividade,
consistiu, de forma mais significativa que o volume exportado, em um dos
principais fatores explicativos do rápido crescimento chinês.
O
regime cambial chinês tem se caracterizado, desde 1994, pela rigidez da taxa de
câmbio (8,28 yuan/dólar), configurando um importante instrumento de estímulo às
exportações, cujo desempenho está diretamente atrelado às elevadas taxas de
crescimento econômico. A atual taxa de câmbio é considerada desvalorizada em
termos reais (De Paula; Ferrari Filho, 2006) e encontra-se distante do chamado
nível de equilíbrio. Nos anos mais recentes, existem recorrentes pressões para
que a China transite para um regime de câmbio mais flexível, ainda que tal
flexibilização deva ser implementada em consonância com medidas em direção a um
sistema financeiro mais sólido e eficiente e a uma maior liberalização da conta
de capitais. Caso ocorra a flexibilização do regime cambial chinês, tal mudança
deve vir acompanhada de uma apreciação da taxa de câmbio (nominal e real).
Os
fluxos de investimento direto estrangeiro (IDE) tiveram um crescimento
significativo a partir do início dos anos 1990. Em 2002 e 2003, a economia
chinesa passou a receber IDE em torno de US$ 47 bilhões, atingindo patamares
superiores a US$ 100 bilhões em 2006 e 2007. Quanto aos fluxos de portfólio, a
oscilação é mais significativa, alternando anos de entrada significativa, como
em 2003, com períodos de saída, entre 1999 e 2002 (pós-crise asiática). De Paula
e Ferrari Filho (2006) argumentam que a atração de IDE foi favorecida pelas perspectivas
de bons negócios a longo prazo e pelo fato de que as políticas de liberalização
para os fluxos de IDE começaram mais cedo, impondo à China pouco controle sobre
os mesmos. Por outro lado, os empréstimos externos tiveram menor crescimento em
função da existência de restrições à contratação de empréstimos do exterior.
Portanto, ao mesmo tempo em que procurou atrair IDE, a China foi bastante
cautelosa em administrar os empréstimos externos e os capitais de portfólio.
Fogel
(2006) sugere que a China tem condições de manter as atuais taxas de
crescimento (média de 9%) nos próximos anos, uma vez que as condições favoráveis
ao crescimento ainda se encontram presentes. O autor acredita que os graves
problemas políticos, econômicos e internacionais vivenciados pelo país, tais
como ineficiência do sistema bancário e das empresas estatais, tensões com parceiros
comerciais devido ao câmbio desvalorizado, as disparidades regionais e entre o
trabalho altamente qualificado e o trabalho manual, problemas de infraestrutura
(energia elétrica e combustíveis) e poluição ambiental, poderão ser resolvidos
ao longo do tempo, o que permitirá a manutenção do crescimento no longo prazo.
SAIBA MAIS SOBRE A
CHINA
[1] Professor do
Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisador
do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e
Fapemig (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais). Pós-Doutor –
Bolsa Capes (University of Glasgow, UK).
[2] Professora do
Instituto de Economia da UFU. Doutoranda em Economia (IE-UFU), Uberlândia, MG, Brasil.
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