Rússia
A
economia russa, a partir de 1999, com o governo Putin, iniciou uma fase de
rápida expansão econômica. No período mais recente, o país vem apresentando expressivas
taxas de crescimento do PIB (média de 6,7% entre 1999 e 2005), taxas de
inflação declinantes, contas fiscal e corrente superavitárias, além de um alto volume
de reservas internacionais.
A
literatura indica que o crescimento do PIB russo esteve apoiado nos preços
mais altos do petróleo (o preço médio do petróleo no mercado internacional aumentou
de US$ 17,9 em 1999 para US$ 66,5 em 2006, atingindo valores próximos a US$ 100
em 2007), na moeda desvalorizada, no aumento da produção nos setores industrial
e de serviços, e no fortalecimento do mercado interno (IMF, 2007; De Paula;
Ferrari Filho, 2006; World Bank, 2005).
O
esforço governamental para fazer avançar as reformas estruturais contribuiu
para aumentar a confiança das empresas e dos investidores nas perspectivas
russas, favorecendo o processo de aceleração do crescimento econômico (Owen;
Robinson, 2003). Além disso, o próprio governo declarou o objetivo de dobrar o
PIB em dez anos, por meio de uma estratégia de médio prazo de desenvolvimento
econômico e social baseada na maximização do crescimento econômico e na
diversificação da economia para além dos produtos baseados em recursos
naturais, a fim de limitar os riscos decorrentes da dependência dos preços
internacionais do petróleo.
A
elevação dos preços e do volume dos recursos naturais exportados pela Rússia –
petróleo, gás, eletricidade e hidrocarbonetos – consistiu o fator que mais contribuiu
para a rápida recuperação pós-crise de 1998, resultando em um acúmulo na
balança comercial com um superávit próximo a US$ 250 bilhões entre 1999 e 2003
(De Paula; Ferrari Filho, 2006). Contudo, a aceleração do crescimento da
economia russa envolve outros determinantes não estruturais.
Nesse
sentido, verifica-se que as mudanças nos principais preços relativos da economia
russa acarretaram uma reação endógena à crise e ajudaram a despertar o crescimento.
A desvalorização da taxa de câmbio nominal (rublo/dólar), de 5,8 para 24,6,
além de estimular o setor exportador, ajudou a manter o alto crescimento da
produção por meio de um processo de substituição de importações. Por outro
lado, o aumento dos salários reais acima da evolução do PIB e o declínio das
taxas de juros possibilitaram a ocorrência de um boom de consumo doméstico.
Mudanças
no comportamento dos formuladores de política, decorrentes da experiência de
alta inflação e moratória, conduziram a uma política monetária mais restritiva,
o que forçou uma política de superávit orçamentário através de um forte ajuste
fiscal da ordem de 10% do PIB entre 1997 e 2001, de redução da dívida e de
administração da taxa de câmbio (Owen; Robinson, 2003; World Bank, 2005; IMF,
2007).
De
Paula e Ferrari Filho (2006) indicam que a recente melhoria nos indicadores de
vulnerabilidade externa da Rússia decorre fundamentalmente do desempenho da
balança comercial e da elevação das reservas cambiais. Com relação aos fluxos
de capitais, verifica-se que a conta de capital russa é parcialmente
conversível, com controles sobre entrada e saída. Recentemente o governo
liberalizou as transações cambiais, embora tenha adotado requerimentos de
reserva no fluxo de entrada. Os fluxos de curto prazo tornaram-se positivos somente
em 2003, já que os fluxos de saída de capitais compensavam significativamente
os empréstimos externos feitos pelos bancos e pelo setor corporativo russo. Os
fluxos de IDE permanecem pequenos devido, em parte, à dificuldade do ambiente
de negócios no país e à predominância de transações off
shore
para grandes investimentos.
O
estudo do Banco Mundial (World Bank, 2005) sugere que a extensão das mudanças
estruturais implementadas na Rússia é mais importante do que os fatores não
estruturais para a explicação do rápido crescimento de longo prazo. Há cinco
dimensões para as mudanças estruturais na economia russa: i) necessidade de
realocação espacial devido ao legado de industrialização e urbanização sob planejamento
central; ii) realocação do emprego entre os setores da economia, especialmente
da indústria para o setor de serviços; iii) reestruturação intrassetorial,
especialmente na indústria, gerando maiores ganhos de produtividade; iv)
redução do tamanho das antigas unidades e criação de novas empresas (pequenas e
médias) para melhorar a produtividade; v) desconcentração da propriedade, pois
a propriedade na indústria é dominada por grandes proprietários privados e é
concentrada em setores estratégicos (petróleo, matérias primas, automóveis e
químicos). Nesse contexto, o papel do Estado consistiria em alimentar a mudança
estrutural e consolidar os efeitos de uma economia de mercado mais dinâmica
através do estabelecimento de regras e de uma estrutura que incentivassem a
atividade econômica e a competição.
Owen
e Robinson (2003) e IMF (2007) apontam que o crescimento da economia
russa no longo prazo depende da elevação do atual nível de investimento
a fim de aumentar a produtividade nos diversos segmentos da economia. Nesse
sentido, sugere-se que o governo avance na implementação de políticas
econômicas para fortalecer a taxa de investimento doméstica e estrangeira,
entre as quais: investimentos em infraestrutura, parcerias entre o setor público-privado,
reformas no setor bancário e financeiro, estímulos à maior integração global,
desenvolvimento das zonas econômicas especiais, além de reformas institucionais
para reduzir a corrupção e a burocracia.
[1] Professor do
Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisador
do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e
Fapemig (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais). Pós-Doutor –
Bolsa Capes (University of Glasgow, UK).
[2] Professora do
Instituto de Economia da UFU. Doutoranda em Economia (IE-UFU), Uberlândia, MG, Brasil.
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