Estado distante das regiões mais
desenvolvidas do Brasil, o Acre tem sido a principal porta de entrada para
milhares de haitianos que buscam no país oportunidades de emprego e de melhoria
de vida. Estima-se que mais de 20 mil pessoas vindas do Haiti tenham entrado no
Brasil entre o início de 2012 e meados de 2014. Neste ano, a cidade acreana de
Brasiléia vem registrando também a chegada de africanos, vindos principalmente
do Senegal, além de imigrantes de outras nacionalidades.
País mais pobre das Américas,
abalado por lutas políticas, o Haiti foi devastado por um terremoto em janeiro
de 2010, o que agravou as já difíceis condições de vida locais. O Brasil, que
chefa no país a missão militar Minustah, das Nações Unidas (ONU), passou a ser
uma alternativa para os haitianos, atraídos pelas notícias de crescimento
econômico e de possibilidades de emprego.
Para atingir seu objetivo, os
haitianos submetem-se a uma aventura na qual arriscam a vida: uma viagem de
milhares de quilômetros por barcos ou aviões e, depois, por caminhões, até
chegar ao território brasileiro. Chegam em geral famintos e sem dinheiro, pois
gastaram o que tinham para pagar os chamados “coiotes” – pessoas que ganham
dinheiro conduzindo grupos de imigrantes clandestinos através das fronteiras.
São comuns os casos de roubos e extorsão.
Essa situação ilustra um fenômeno
que cresce no mundo atual: as novas rotas de migração, dirigidas não aos países
desenvolvidos, e sim a nações em desenvolvimento, transformadas atualmente em
polos de atração.
231 milhões de migrantes
O total de migrantes internacionais no mundo chegou
a 231,5 milhões de pessoas em 2013, segundo dados da ONU. Esse número engloba
qualquer pessoa que viva em um país diferente daquele em que nasceu, mesmo que
sua ida tenha ocorrido há décadas.
Nos últimos anos, algumas das principais rotas de migração mudaram de forma significativa, com os países em desenvolvimento – como Brasil, México ou Catar – atraindo bem mais pessoas do que antes. Essa mudança pode ser ilustrada pelo ranking dos principais corredores bilaterais de migração existentes no mundo. Se, entre 1990 e 2000, sete dos dez maiores destinos de migração eram países desenvolvidos (chamados genericamente de Norte), de 2010 a 2013 a situação se inverteu, com os países em desenvolvimento (o Sul) ocupando sete posições na lista.
Nos últimos anos, algumas das principais rotas de migração mudaram de forma significativa, com os países em desenvolvimento – como Brasil, México ou Catar – atraindo bem mais pessoas do que antes. Essa mudança pode ser ilustrada pelo ranking dos principais corredores bilaterais de migração existentes no mundo. Se, entre 1990 e 2000, sete dos dez maiores destinos de migração eram países desenvolvidos (chamados genericamente de Norte), de 2010 a 2013 a situação se inverteu, com os países em desenvolvimento (o Sul) ocupando sete posições na lista.
Os termos Norte e Sul não são empregados aqui de
forma geograficamente precisa, mas segundo a terminologia da ONU e do Banco
Mundial, para as quais o Norte representa as regiões e países
desenvolvidos: Europa, América do Norte (sem o México), Japão, e também
Austrália e Nova Zelândia (que, do ponto de vista geográfico, estão bem ao sul
do Equador). Nessa classificação, o Sul engloba regiões e países pobres
ou em processo de desenvolvimento econômico: América Latina, África, Ásia (sem
Japão) e Oceania (sem Austrália e Nova Zelândia).
Crise econômica
Destinos anteriormente pouco importantes na rota
das migrações passaram a atrair milhares de pessoas. Países produtores de
petróleo no Golfo Pérsico, por exemplo, empregam muitos homens em áreas como a
construção civil. Com isso, os estrangeiros são agora a grande maioria da
população nos Emirados Árabes Unidos e no Catar.
O México, que ainda é o ponto de partida da
principal rota bilateral de migração internacional (em direção aos Estados
Unidos), passou também a atrair mais estrangeiros. Entre 2000 e 2010, quase
dobrou o número de imigrantes legais no país. Muitos mexicanos que viviam há
anos nos EUA regressaram.
O motivo principal para o retorno é também um dos
fatores que explicam o crescimento da migração para países em desenvolvimento:
a crise econômica global, que em 2008 atingiu com mais força os países ricos,
causando recessão nos EUA e em várias nações da União Europeia. Como resultado,
há altos índices de desemprego e situações instáveis na economia, que
afugentaram possíveis candidatos a ingressar nesses países, refreando a ida
nessa direção – mesmo que, globalmente, o Norte continue a ser o principal
destino de imigração no mundo, pois quase 60% dos migrantes internacionais
vivem no mundo desenvolvido.
Xenofobia
Outro fator que explica a mudança de
fluxo da migração é político: as decisões adotadas por vários países
desenvolvidos, mesmo antes da crise de 2008, de tornar cada vez mais
restritivas as regras para a entrada de estrangeiros vindos de nações pobres. A
menos que sejam trabalhadores altamente qualificados, as chances de ingresso
legal no mercado de trabalho do mundo desenvolvido são cada vez menores. As
diferenças culturais e a concorrência por postos de trabalho entre os
habitantes dos países e os imigrantes têm gerado tensão nos países ricos.
Fronteiras europeias e norte-americanas passaram a ser protegidas por muros e
cercas vigiados por câmeras e guardas.
Na Europa, políticos de extrema
direita, contrários ao ingresso de imigrantes, vêm obtendo repercussão em sua
pregação xenófoba, ou seja, de aversão aos estrangeiros. Propõem o
endurecimento das leis de imigração e o combate aos clandestinos como forma de
proteger os interesses dos cidadãos naturais da terra. Muitas vezes, isso vem
acompanhado de um discurso abertamente racista ou que procura, por exemplo,
identificar pessoas de origem árabe ou muçulmana com o terrorismo. As recentes
eleições ao Parlamento Europeu, em maio, registraram votações altas para
partidos que defendem posições assim – ainda que as eleições tenham sido
marcadas por enorme taxa de abstenção (60%), o que distorce as posições da
população como um todo.
A circulação de pessoas no mundo
toca em um dos grandes paradoxos da globalização. Governos e instituições
multilaterais, como a ONU, defendem que, no mundo atual, não haja barreiras
para o livre fluxo de capitais. Dizem que o comércio deve funcionar sem
fronteiras, para permitir a todas as populações o acesso aos mais modernos
produtos e serviços. Empresas se deslocam pelo planeta em busca de mercados de
trabalho com menor custo, nos quais possam lucrar mais. Esse livre trânsito, no
entanto, é cada vez menos permitido para as pessoas, que enfrentam barreiras e
não têm a mesma liberdade para escolher o país no qual queiram morar e
trabalhar – muitas vezes, nem ao menos viajar de férias.
AS MIGRAÇÕES FORÇADAS
As migrações que mais chamam a nossa
atenção atualmente são motivadas por violência e pobreza extrema, ou seja,
risco iminente de morte na origem do migrante.
A principal motivação que leva as
pessoas a migrar é econômica: a busca por melhores condições de vida e
trabalho. Mas existem situações de migração nas quais as pessoas são obrigadas
a ir para longe de seus lares contra a vontade, para escapar de uma perseguição
religiosa ou política, de uma guerra, de violações a seus direitos humanos ou
de calamidades naturais, como terremotos. As pessoas que migram nessas
condições são chamadas genericamente de “deslocadas”.
Em 2013, no mundo, 51,2 milhões de pessoas viviam na terrível condição de deslocadas à força, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur). Desde a II Guerra Mundial, encerrada em 1945, não se via um número tão alto.
Esse total se divide da seguinte
forma:
• 16,7 milhões de refugiados:
pessoas que fugiram para outro país, onde receberam asilo;
• 33,3 milhões de deslocados
internamente: pessoas que não saíram das nações em que nasceram;
• 1,2 milhão de solicitantes de
asilo: que ainda estão esperando.
O maior grupo nacional de refugiados
é o de palestinos, que somam mais de 5 milhões de pessoas. A Agência das Nações
Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA, na sigla em inglês)
acompanha a situação desse grupo, enquanto o Acnur dá assistência aos demais
11,7 milhões pelo mundo.
Os refugiados palestinos foram
obrigados a deixar seus locais de residência, na Palestina, por causa dos
conflitos ligados à criação do Estado de Israel (1948). Os 750 mil palestinos
nessa condição em 1950 tiveram descendentes, o que elevou a população refugiada
para os atuais 5 milhões, espalhados por cinco locais principais: os
territórios palestinos da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, a Síria, o Líbano e a
Jordânia.
Além de ser o grupo mais numeroso,
os palestinos integram uma categoria que causa crescente preocupação entre os
organismos internacionais: os que estão em situação prolongada de refúgio. Mais
de 11 milhões de pessoas em todo o mundo vivem há anos em campos planejados
para ser temporários, e que na prática viraram permanentes, com escolas, hospitais
e estabelecimentos comerciais.
A ausência da verdadeira moradia e o
fato de viverem em eterna situação provisória, muitas vezes por décadas,
constitui uma agressão suplementar aos direitos dessas pessoas. O direito ao
retorno dos refugiados palestinos para seus locais de origem é uma das questões
mais difíceis de resolver no conflito entre os israelenses e os árabes, e,
assim, se estende sem solução à vista.
Confito sírio
Os países que enfrentam guerras e
lutas internas são, como é previsível, os que dão origem à maior parte dos
deslocados à força. O Afeganistão, que passa por conflitos em seu território
desde 1979, quando foi invadido pela ex-União Soviética (e pelos EUA desde
2001), tem mais de 2,5 milhões de seus cidadãos refugiados em outros países.
Grande parte vive no vizinho Paquistão.
Na Síria, um conflito mais recente,
iniciado em 2011, opõe rebeldes ao governo de Bashar al-Assad e é responsável
pela existência de quase 2,5 milhões de refugiados sírios em dezembro de 2013.
O Líbano, que também passou por
graves conflitos internos, recebeu grande quantidade de refugiados da Síria. Os
dois países são vizinhos, têm uma história comum, e laços fortes ligam as suas
comunidades. A chegada em massa de sírios, no entanto, agrava as deficiências da
infraestrutura local. Estima-se que, em dezembro de 2013, de cada quatro
habitantes do Líbano, um era refugiado,sobretudo palestinos e sírios.
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Não Confunda
Refugiado: pessoa fora de seu país que não
pode retornar por causa de perseguição por motivo de raça, religião,
nacionalidade, por pertencer a um grupo social ou por opiniões políticas.
Deslocado interno: pessoa que, em virtude de conflito
armado, violência generalizada, violações a direitos humanos ou desastres, é
forçada a deixar o local de residência, mas permanece em seu país.
Solicitante de asilo: pessoa que pediu proteção
internacional e aguarda a concessão de status de refugiado.
51,2 MILHÕES DE PESSOAS
no mundo estavam deslocadas à força de suas
residências no final de 2013, como resultado de perseguições, conflitos,
violência generalizada ou violações aos direitos humanos. É o número mais alto
desde a II Guerra Mundial. O aumento em relação ao ano anterior foi de 6
milhões de pessoas.
Deslocados internos
Das pessoas deslocadas, a categoria
mais numerosa são os 33,3 milhões de deslocados internos, obrigados a sair das
habitações e cidades de origem em virtude de violências ou desastres, mas que
não ultrapassaram as fronteiras de seus países de origem. Esse número é o mais
alto já registrado.
O confito interno levou a Síria ao
topo também dessa lista, como o país com mais deslocados internos no mundo em
2013 – 6,5 milhões de pessoas. A Colômbia, com 5,4 milhões, é a segunda nesse
ranking, em consequência de décadas de lutas que opõem as forças do governo às
das guerrilhas.
Crianças desacompanhadas
Um problema que cresce é o de
crianças desacompanhadas, ou separadas de suas famílias, que pedem asilo em
outros países. Em 2013, havia 25,3 mil solicitações de asilo desse tipo, em 77
países. A maioria refere-se a crianças do Afeganistão, na Ásia Central, e do
Sudão do Sul e da Somália, no leste da África.
Esse problema estourou nos EUA em
2014, onde o presidente Obama pediu ajuda de 3,7 bilhões de dólares ao
Congresso para combater a imigração ilegal de crianças sozinhas vindas da
América Central, sobretudo de El Salvador, Honduras e Guatemala. Apenas entre
outubro de 2013 e junho de 2014, 52,2 mil crianças e adolescentes chegaram
ilegalmente aos EUA pela fronteira do México, ficando em abrigos provisórios.
Os três países centro-americanos têm
enormes índices de violência, ligada ao tráfico de drogas, que controla várias
localidades pobres. A situação leva muitos pais a preferirem ver seus filhos
partirem em uma arriscada viagem rumo ao território norte-americano do que ficar
à mercê desses bandos.
A SÍRIA POSSUI ATUALMENTE MAIOR
NÚMERO DE DESLOCADOS INTERNOS
A capital Damasco ainda representa
um local seguro pra grande parcela da população Síria que deseja ficar no
país.
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