Por Marcos
Margarido, Campinas (SP). Retirado de: http://www.pstu.org.br/node/21589
No dia 20 de julho de 2015, a embaixada dos EUA foi
reaberta em Cuba após mais de 50 anos. O que há por trás dessa reaproximação?
Porém, afirma o documentário, Cuba sofre um embargo
econômico dos Estados Unidos que já dura 53 anos e impede um desenvolvimento
maior da ilha, situada a cerca de 300 Km da costa da Flórida. Tantos elogios
têm um objetivo: defender a reabertura das relações diplomáticas entre os
Estados Unidos e Cuba, realizada pelo presidente Obama, e o fim do embargo
econômico.
O mais importante passo nesse sentido foi a
reabertura da embaixada norte-americana em Cuba, e da reabertura da embaixada
cubana nos EUA. Algo que era impensável para alguns até poucos anos atrás.
À primeira vista, parece que a Globo, famosa por
atacar os trabalhadores brasileiros e suas conquistas, está sensibilizada pelo
socialismo cubano e pretende ajudá-lo. Será que é isso mesmo? Ou será mais uma
das artimanhas globais?
Uma revolução que abalou a América Latina
Em primeiro lugar, é preciso concordar com as afirmações do morador de Havana e as observações do programa. A pobreza em Cuba é diferente, a saúde e a educação são públicas e de alto nível e a alimentação e a moradia são subsidiadas pelo estado. Nestes e em outros aspectos um país pequeno como Cuba superou os mais desenvolvidos da América Latina, como o México, Brasil e Argentina.
Mas estas conquistas não ocorreram porque os
cubanos votaram em bons governantes, que buscaram o melhor para o país. Elas se
deram por causa de uma revolução social, que derrubou pela força das armas o
ditador Fulgencio Batista, um capacho dos Estados Unidos, em 1959.
Fidel Castro, Che Guevara, Camilo Cienfuegos e
outros revolucionários organizaram grupos de guerrilha no campo que, ao se
combinarem com a revolta popular nas cidades, tomaram o poder e após alguns
anos transformaram uma colônia dos Estados Unidos num estado operário, onde os
patrões foram expropriados – isto é, perderam todos os seus bens e riquezas
- e as empresas estrangeiras foram nacionalizadas. Além disso, a economia
foi planificada em função das necessidades da população, o comércio exterior
foi controlado pelo estado e a terra foi nacionalizada.
Tudo isso permitiu a elevação do nível de vida da
população, o fim da miséria, da prostituição, a garantia de emprego para todos
e as conquistas já mencionadas, que perduram até hoje, mesmo depois de tantos
anos de embargo econômico.
A revolução cubana animou a luta revolucionária e o
sonho de uma América Latina socialista embalou as esperanças de grupos
revolucionários em todos os países. Infelizmente, a maioria deles copiou o
modelo cubano de guerrilhas no campo, mesmo em países mais industrializados
como o Brasil e a Argentina, e se afastaram da classe operária. Foi mais fácil
para os governos capitalistas derrotar as guerrilhas e impedir novas revoluções
no continente. Os Estados Unidos, por sua vez, após tentativas fracassadas de
derrubar o governo de Fidel Castro, como em 1961, estabeleceu o embargo
econômico ao país.
Porém, nem tudo são flores e nem tudo dura para
sempre...
Um estado operário sob uma direção de burocratas
Muitos sindicatos têm dirigentes sindicais pelegos. Estes acabam com a democracia, impedem as discussões da base, fazem assembleias sem ampla convocação, não promovem a organização nos locais de trabalho e fazem acordos com os patrões sem a aprovação dos trabalhadores.
Mas nenhum trabalhador pensa em abandonar seu
sindicato por causa disso. Ao contrário, organizam chapas de oposição para
derrubar o pelego e devolver o sindicato para a base.
Ocorreu o mesmo em Cuba após a revolução
socialista. Apesar da expulsão dos patrões e da organização do Estado para
atender os interesses dos trabalhadores, os novos dirigentes do país acabaram
com a democracia, estabeleceram o sistema de partido único, impediram a livre
organização dos trabalhadores em seus sindicatos e governaram com mão de ferro.
Da mesma forma que os pelegos dos sindicatos, a
burocracia do Estado cubano utilizou seus postos para garantir privilégios para
si e ficar cada vez mais ricos, através da administração das empresas estatais,
das fazendas e usinas.
Uma crise econômica devastadora e a abertura do
país ao capital estrangeiro
Isso ocorreu desde a revolução até 1994, quando ocorreram transformações importantes na estrutura do Estado cubano. Desde o fim dos anos 80, Cuba vivia uma crise econômica que paralisou o país. A União Soviética deixava de existir, dividindo-se em vários países e acabando com o sistema chamado de “socialismo real”. Isto é, as fábricas, bancos, a terra voltaram a ser propriedades privadas. Voltaram para as mãos dos patrões. Era a restauração capitalista no país que fez a primeira revolução social vitoriosa no mundo. Com isso, o comércio com Cuba, que enviava produtos agrícolas em troca de petróleo e produtos industrializados, deixou de existir e levou o país a uma situação muito difícil.
O governo cubano, numa atitude típica de pelegos
sindicais, foi pedir ajuda aos países capitalistas em vez de discutir com os
trabalhadores cubanos as opções para sair daquela situação.
Instituíram novas leis a partir de 1995 que abriram
o país para a entrada de capital estrangeiro, possibilitaram a exportação e
importação de produtos sem o controle do estado e a livre remessa dos lucros
para o exterior.
A entrada do capital estrangeiro ocorreu em
praticamente todos os setores da produção em um ritmo acelerado. As empresas
mistas (entre o Estado e o capital estrangeiro) dominam 100% da exploração de
petróleo, de minério de ferro, da produção de lubrificantes, de serviços
telefônicos, da produção de sabão, de perfumaria e da exportação de rum; 70%
das agroindústrias e de cítricos e 50% da produção de níquel, de cimento e do
setor de turismo.
Quem mais se aproveitou disso foi o capitalismo
europeu, pois as empresas dos Estados Unidos são proibidas de investir em Cuba
devido ao bloqueio econômico. Mas agora o presidente Barack Obama quer reverter
isso e fazer com que os capitalistas de seus país corram atrás do tempo
perdido.
Em 2013 foi aprovada uma nova lei de investimentos
estrangeiros, que facilitou ainda mais a entrada de empresas privadas em Cuba.
Com exceção das áreas de saúde, educação e comunicação, todas as demais podem
receber investimentos estrangeiros, com isenção de impostos por 8 anos e a
garantia de que o governo não vai estatizar estas empresas. Além disso, deixou
de ser necessária a associação com o Estado em empresas mistas; elas podem ser
totalmente privadas.
Isto é, o país passou a ter uma economia
subordinada ao sistema capitalista internacional. As leis de mercado, onde o
que vale é a obtenção de lucro, prevaleceram sobre o planejamento econômico
para atender os interesses dos trabalhadores. Em outras palavras, em Cuba o
capitalismo também foi restaurado.
Os trabalhadores são os mais prejudicados
Muitos trabalhadores podem pensar que isso não é ruim. Afinal, a entrada de empresas privadas aumenta o nível de emprego e pode até aumentar os salários devido ao aumento da concorrência entre elas. Muitos trabalhadores cubanos pensam assim, atualmente, e defendem as mudanças feitas pelo governo. Mas sempre dizem: nosso sistema é socialista e precisa continuar assim!
No entanto, isso não é assim. Para se ter uma
ideia, em 2010 o governo cubano aprovou a demissão de 1 milhão de trabalhadores
de empresas estatais. Até agora, já foram demitidos cerca de 360 mil e já
provoca os primeiros danos aos trabalhadores. O índice de desemprego oficial é
de 3,8%, mas o índice real pode chegar a 18,5%, pois muitos afirmam que não
estão procurando emprego e não são contados nas estatísticas.
O salário médio dos trabalhadores é de 20 dólares,
e mesmo se as empresas privadas pagarem mais que isso, o governo, que funciona
como um intermediário de mão-de-obra, fica com o valor excedente. Além disso,
em 2013 foi aprovada uma nova legislação trabalhista para as empresas privadas.
Esta estabelece uma jornada de 44 horas semanais, 1 dia de descanso por semana
e férias pagas de 7 dias por ano.
Esta é uma legislação bem mais atrasada que no
Brasil, que prevê férias de 30 dias com gratificação de 1/3 do salário, por
exemplo. Além disso, não se fala em verbas indenizatórias caso o trabalhador
seja demitido, pois os contratos de trabalho têm duração determinada. Como se
vê, não há nada vantajoso para os trabalhadores nessas mudanças.
Se somarmos a isso o fato de que não há liberdade
sindical nem direito de greve, Cuba se torna um paraíso para a exploração dos
trabalhadores pelos patrões.
É necessária uma nova revolução socialista
É por isso que o presidente Obama decidiu restabelecer relações diplomáticas com Cuba e pede que o Congresso dos Estados Unidos aprove o fim do embargo econômico. As oportunidades para as empresas norte-americanas são enormes, mas quem está se aproveitando são as empresas da Europa, do Canadá e até do Brasil.
A Odebrecht, uma das acusadas no Lava Jato, está
construindo o porto de Mariel, que pretende ser a porta de entrada para uma Zona
Franca.
Os patrões da maior nação capitalista do mundo não
podem ficar de fora desse verdadeiro assalto ao país, apoiado pelo próprio
governo cubano.
É claro que os trabalhadores de todo o mundo devem
defender o estabelecimento de relações diplomáticas entre estas nações e o fim
do embargo econômico de uma nação mais forte contra uma mais fraca. Mas é nosso
dever alertar que estas ações estão feitas de comum acordo entre os governos
dos Estados Unidos e Cuba para aumentar a exploração dos trabalhadores cubanos
e para transformar Cuba numa colônia dos Estados Unidos. Os únicos beneficiados
serão os patrões e os membros do governo cubano, que estão se transformando
numa nova classe burguesa.
É preciso que a classe operária cubana se organize
independentemente do governo, expulse a burocracia sindical e construa um
partido revolucionário para derrubar o atual governo de Raul Castro (irmão de
Fidel Castro) e realizar uma nova revolução socialista em Cuba. Desta vez com
democracia para todos os trabalhadores.
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