Resultados
do Atlas da Violência 2016 mostram que o Brasil tem o maior número absoluto de
homicídios no mundo. Uma em cada dez vítimas de violência letal reside no
Brasil.
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Homens, jovens,
negros e com baixa escolaridade são a maioria das vítimas.
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Na
análise por cidades, a taxa de homicídios tem diminuído nas grandes cidades,
como São Paulo e Rio de Janeiro, e aumentado
no interior.
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Os
estados que implementaram políticas de segurança mais efetivas tais como São
Paulo, Pernambuco e Rio de Janeiro testemunharam queda das taxas de mortes
violentas.
Você
tem medo de ser assassinado? No ano passado, o Instituto Datafolha revelou que
8 entre 10 pessoas que vivem em cidades brasileiras têm medo de morrer
assassinadas. Mas o medo é desproporcional à realidade. Ainda assim, os números
registrados da violência letal estão cada vez mais elevados.
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Municípios mais violentos do Brasil |
Resultados
do Atlas da Violência 2016 mostram que o Brasil tem o maior número absoluto de homicídios no mundo. Uma em cada dez
vítimas de violência letal reside no Brasil. O estudo foi desenvolvido pelo
Instituto de Pesquisa Econômica aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de
Segurança Pública (FBSP), que analisaram dados do número de vítimas de
registros policiais e do Ministério da Saúde. Importante lembrar que é
assustador este indicador pois temos população absoluta inferior aos EUA,
Indonésia, Índia e é claro China.
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Anamorfose - Número absoluto de Homicídios |
As
informações mais recentes são de 2014, ano em que o país bateu seu recorde
histórico de homicídios - 59.627 registros – o que equivale a uma taxa de
homicídios de 29,1 (a taxa é calculada por 100 mil habitantes). O índice é
considerado epidêmico pela Organização das Nações Unidas (ONU). Só para ter uma
ideia, há dez anos, em 1996, a taxa de homicídios nacional foi de 24,8 e em
2011 e atingiu a marca dos 27,1.
Em relação à taxa
de homicídios, o Brasil está em 15º no ranking mundial. Mas os dados do
Atlas da Violência 2016 tornam o Brasil campeão mundial de assassinatos, em
números absolutos. Segundo o relatório, “além de outras consequências, tal
tragédia traz implicações na saúde, na dinâmica demográfica e, por conseguinte,
no processo de desenvolvimento econômico e social”.
Segundo
dados do Banco Mundial, em 2013, houve 437 mil vítimas de homicídio em todo o
planeta. Chama a atenção que 14 dos 20 países considerados mais perigosos do
mundo (aqueles com as maiores taxas de homicídio) estão localizados na América
Latina e no Caribe.
As vítimas no
Brasil: jovem, negro e pobre
Embora a população brasileira seja de maioria absoluta branca e parda, a população negra é a que mais morre por homicídios.
O
gênero, cor e a educação podem determinar as chances de alguém morrer? Segundo
a pesquisa, se fossemos escolher um símbolo para personificar a principal
vítima de morte violenta no país, suas características seriam um homem, jovem,
negro e com baixa escolaridade. Ele ainda teria 21 anos, a idade em que o risco
de ser assassinado é maior.
Isso
porque os homens (92%) e jovens entre 15 e 29 anos (54%) são a maioria das
vítimas. Em 2013, cerca de 29 jovens foram assassinados por dia no Brasil. E
mais: a probabilidade de um jovem com escolaridade inferior a sete anos de
estudo sofrer homicídio é 15,7 vezes maior do que aqueles que possuem ensino
superior completo.
Em
relação à cor, 77% dos jovens que morrem assassinados no Brasil são negros. E
no período analisado de dez anos (entre 2004 e 2014) da pesquisa, foi
registrado crescimento de 18,2% na taxa de homicídio de negros e pardos,
enquanto houve redução de 14,6% na taxa de pessoas brancas, amarelas e
indígenas. Em 2014, para cada não negro que sofreu homicídio, 2,4 indivíduos
negros foram mortos.
Essas
discrepâncias são alarmantes. O estudo avalia que uma possível explicação é que
a taxa de homicídios diminuiu mais nos Estados onde há proporcionalmente menos
negros, como na região Sudeste e no Sul. Ainda assim, se a comparação for feita
por unidade federativa, a violência contra a população negra é maior em quase
todos (à exceção de Roraima e Paraná), o que mostra que o grupo está mais
exposto a situações de vulnerabilidade e que essa situação reflete o racismo
estrutural do país.
Os Estados

Em seis Estados brasileiros, o aumento das taxas foi superior a 100%, todos na Região Nordeste. O Rio Grande do Norte foi o que apresentou maior crescimento no indicador (308%), seguido do Maranhão (209,4%) e Ceará (166,5%).
Por outro lado, São Paulo teve a maior redução na taxa de homicídios, com queda de 52,4% entre 2004 e 2014. Outros sete Estados apresentaram redução no indicador no mesmo intervalo: Rio de Janeiro (-33,3%), Pernambuco (-27,3%), Rondônia (-14,1%), Espírito Santo (-13,8%), Mato Grosso do Sul (-7,7%), Distrito Federal (-7,4%) e Paraná (-4,3%).
Taxa de homicídios por 100 mil habitantes - ESTADOS
Nos Estados em que se verificou queda, o estudo identificou que políticas de segurança pública foram adotadas, como no caso de São Paulo, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Pernambuco, esse último, o único do Nordeste a diminuir a taxa.
Ações como a integração da Polícia Militar no Paraná, a implementação das Unidades de Polícia Pacificadora no Rio de Janeiro e o programa Pacto Pela Vida em Pernambuco foram citadas como possíveis contribuições para a queda.
No estado pernambucano, por exemplo, o programa do governo começou em 2007 e a curva de homicídios caiu nos anos seguintes. Apesar dos avanços, os dados da violência do PE voltaram a subir este ano e o motivo apontado é justamente a falta de continuidade das políticas do programa criado.
Diminuição nas grandes cidades e aumento nas cidades do interior
Na análise por cidades, a taxa de homicídios tem diminuído nas grandes cidades e aumentado no interior. As maiores quedas da violência letal ocorreram nas localidades com maior população, enquanto os maiores aumentos aconteceram em localidades com menor povoamento, mas com crescimento rápido.
Entre 2004 e 2014, a maior diminuição da taxa foi observada em São Paulo (-65%), com quase 15 milhões de habitantes. A queda seria resultado de novas políticas públicas de segurança, como a integração das polícias Civil e Militar e o desenvolvimento de sistemas de informações mais eficientes, voltados às atividades de inteligência e análise criminal.
O crescimento mais acelerado foi observado na microrregião de Senhor do Bonfim, na Bahia, com aumento de 1.136,9% no mesmo período. Outro destaque é Cajazeiras, na Paraíba, que teve alta de 771%.
As microrregiões mais violentas do Brasil
Analisando a tabela acima é possível concluir que TODAS as microrregiões mais violentas do Brasil estão na região norte e nordeste do país.
Já quando se trata das regiões menos violentas há predomínio de regiões do sudeste e sul do país, conforme podemos observar na tabela abaixo.
As microrregiões menos violentas do Brasil
Desarmamento e a
violência
A grande maioria
dos homicídios no Brasil é cometida com armas de fogo (76%). Segundo o estudo,
o Estatuto do Desarmamento, em vigor desde 2003, teria contribuído para uma
menor circulação de armas no país. O estudo estima que, se ele não tivesse sido
implementado, o número médio de homicídios entre 2011 e 2013 seria de 77.889, e
não de 55.113.
O
Estatuto passou a exigir do interessado em comprar arma para sua defesa alguns
requisitos básicos, como teste de aptidão e psicológico. Segundo o IPEA, após a
lei, a média de armas compradas anualmente no mercado civil brasileiro caiu
40%. Não se sabe o número de armas ilegais no país.
O que faz o Brasil
matar demais?
A
violência é um fenômeno social complexo, influenciado por diversos fatores.
Segundo especialistas, as desigualdades econômicas e sociais estruturais, a
criminalidade associada ao tráfico de drogas, a existência de grupos de
extermínio, as práticas repressivas em detrimento das ações preventivas e de
investigação, a violência policial e as altas taxas de impunidade da Justiça (somente 5 a 8% dos homicídios no Brasil
chegam a virar processo criminal) são algumas explicações para as altas taxas
do país.
Jonathan Kreutzfeld
Fonte:
O que pode ser feito para contornar tantos homicidios?
ResponderExcluirEu acredito que massivos investimentos em educação básica podem proporcionar melhorias significativas em saúde, economia, por fim, tudo! Fazer isso seguindo exemplos europeus, adaptados em nossa realidade. Não seguir o modelo americano que tem na periferia escolas horrorosas e em outros lugares, exemplares. Mais igualdade de condições ao acesso!
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