O
mundo “globalizado” criou na sociedade contemporânea uma grande contradição. A
revolução técnico-científico-informacional colocou nas mãos do ser humano meios
de comunicação e transportes que facilitam cada vez mais o contato entre os
humanos e as coisas criadas por eles. Mas infelizmente nem sempre é o que
acontece, temos uma tendência cada vez maior de solidão e desculturalização.
O
maior instrumento da globalização cultural na sociedade tecnológica tem sido
certamente a expansão das redes de comunicação de massa. A abrangência,
extensão e eficácia dessas redes estão na raiz das grandes transformações
ocorridas na virada do século XX. A redução do planeta a uma aldeia produziu uma
verdadeira revolução espaço-temporal. Esse pensamento é bastante conhecido pela
obra de Harvey que bem antes da internet viralizar já escrevia sobre isso em
1989.
O
convívio humano que resulta de contatos primários é a característica dominante
das sociedades pouco industrializadas, das zonas rurais ou de pequenos grupos
sociais. A industrialização e a urbanização estabeleceram um modo de vida no
qual o contato primário, interpessoal, foi reduzido, favorecendo a
generalização dos contatos secundários e das relações impessoais.
Observa-se,
assim, uma tendência inversa entre a formação de grandes aglomerados
populacionais e o convívio humano. A instauração da sociedade de consumo e da
sociedade de massa para o surgimento de um ser humano massificado.
O
ser humano, nesse modelo social, deixa de ser considerado pessoa e passa a ser
encarado como máquina devoradora de produtos, ideias ou mercadorias. Não se
consideram valores pessoais ou anseios individuais. Por um processo de
condicionamento gradual irreversível, vão sendo terminados seus anseios, de
acordo com as necessidades de reprodução do sistema. Sua personalidade vai se
transformando e seu comportamento se adaptando no sentido de atender aos
objetivos dessa nova ordem. O ser humano deixa de ser um indivíduo e passa a
ser apenas uma entidade numérica, parte de uma grande engrenagem, da qual é um
simples objeto.
A
complexidade urbana, a generalização do anonimato, o surgimento da selva de
pedra e a massificação de alguns dos fatores que contribuem para a
despersonalização dos indivíduos. Na sociedade pós-industrial, o contato em
geral entre as pessoas é apenas físico; o significado das interações sociais
fica reduzido a seus papéis sociais formais e suas funções profissionais. À
medida que os contatos meramente formais se generalizam, expande-se o
anonimato. Conforme afirma Delfim Soares.
“O homem vive no
meio da multidão, mas não convive com ninguém, como pessoa; a multidão nas
ruas, o congestionamento no trânsito, a moradia em apartamentos superpostos, as
turbas nos estádios esportivos e os enxames humanos nas praias são
manifestações sociais frequentes. Nelas, raramente se verifica convívio humano;
mesmo as relações mais íntimas são, muitas vezes, mero contato de objetos
humanos e não relações interpessoais. Os indivíduos não se encaram mais como
pessoas, mas como objetos. Nesse contexto, cresce a sensação de solidão.”
Diante
desse mundo massificado e cada vez mais homogêneo e isolado, vejo no Pokémon Go
um novo passo sutil ao remodelamento social. Vivemos cada vez mais em um mundo
virtual cada um dentro de sua casa onde nossos computadores e smartphones se transformam
em um mundo paralelo.
O
Pokémon Go pode nem durar muito tempo, mas já fez muita gente tirar a bunda do
sofá e ir pra rua, ver pessoas reais. Assim ao menos eu enxergo. Mas deixo
minhas palavras de lado e segue abaixo um vídeo do menino Adam feito pela BBC
explicar melhor.
Tenho
certeza que não foi só a vida de Adam que mudou e tenho certeza de que muitas
novidades do gênero ainda vão surgir e fazer as pessoas saírem de casa!
Voltando
ao contexto da massificação da cultura, deixo abaixo uma entrevista do famoso
fotógrafo Sebastião Salgado à Paula Diniz (National Geographic) que percorreu o
mundo buscando mostrar o que ele tem de DIFERENTE!
Jonathan Kreutzfeld
ENTREVISTA
Perto
de completar 70 anos - 40 deles dedicados à fotografia -, Sebastião Salgado
mantém o encantamento ao falar das experiências vividas durante a produção de
Gênesis, seu mais recente projeto. Entre 2004 e 2011, ele visitou cinco
continentes, em mais de 30 viagens para regiões quase sempre inóspitas, como
Sibéria, Galápagos e Papua Nova Guiné. Pela primeira vez, Salgado documentou,
como frisa, "outros animais além do homem". Retratou paisagens,
fauna, flora e comunidades humanas que ainda vivem dentro de suas tradições
ancestrais, imunes às transformações impostas pelo modo de vida contemporâneo.
Como foi a
experiência de fazer Gênesis?
Com
dois anos de preparação, oito de fotografia e mais dois de pós-produção, passei
grande parte da minha vida dentro desse projeto. Foram, em média, oito meses
por ano viajando, naquele que talvez possa considerar o período mais rico da
minha carreira. Gênesis fecha um ciclo com os projetos que fiz antes, sobre as
guerras na África, trabalhadores e refugiados. Agora, tive a chance de conhecer
locais fabulosos e aprender a respeito da minha relação com o planeta e com
outros seres humanos. Convivi com grupos que representam o que fomos 10 mil
anos atrás. Fui bem recebido. O homem é um ser gregário por natureza. Minha
impressão é que a agressividade surgiu depois de certa organização espacial.
Como foi a sua
relação com os povos retratados?

Aprendi
com eles algo que nós perdemos na nossa sociedade: o conceito de essencial.
Temos uma quantidade enorme de coisas. Compramos, acumulamos e não usamos. Se
você der aos nenets um presente que eles não possam transportar no trenó, eles
não aceitam. Eles possuem apenas o necessário para subsistir em uma condição
climática extrema e são tão felizes quanto uma pessoa que vive em um grande
apartamento em São Paulo.
O que perdemos com
a massificação global dos modos de vida?
Quando
eu era menino, o Brasil tinha 90% de população rural. Hoje, 90% da população é
urbana. Por outro lado, na Amazônia brasileira, restam povos ainda não
contatados, que vivem como há 10 mil anos. São uma referência viva do nosso
passado ancestral.

O que você diria
aos jovens documentaristas brasileiros?
Que
fotografem mais os nossos grupos indígenas. No início da história escrita da
humanidade, na antiga civilização egípcia, pessoas já habitavam a Floresta
Amazônica. Temos a obrigação de conhecer e proteger esse legado cultural e
ambiental.
Qual a missão da
fotografia?
As
duas únicas linguagens que não necessitam de tradução são a fotografia e a
música. E a fotografia é, possivelmente, a linguagem mais acessível e universal
que possa existir.
Fonte:
Nenhum comentário:
Postar um comentário