quinta-feira, 29 de setembro de 2016

A Reestruturação do Ensino médio: MP 746/2016

Para promover a reforma do Ensino Médio e justificar a urgência da implementação das novas medidas, o atual governo representado pelo Ministro da Educação Mendonça filho, argumenta que a postura está relacionada ao resultado do ensino médio no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que ficou em 3,5 no ano passado em relação às redes estaduais. 

A meta estipulada era de 4,0. No caso das particulares, o resultado ficou em 5,3, também abaixo do horizonte previsto para o setor, que era de 6,3.

Quero aqui deixar claro que os textos abaixo das citações representam a minha opinião de educador e, você sendo ou não da área, pode discordar ou concordar. Mas, embora possa parecer arrogante, acho neste momento que a opinião dos educadores é a mais importante! Assim como a de um médico  é mais importante que a minha quando se trata de saúde.

Então vamos por partes, ou melhor, com trechos originais da MP:

“Atualmente o ensino médio possui um currículo extenso, superficial e fragmentado, que não dialoga com a juventude, com o setor produtivo, tampouco com as demandas do século XXI.”

A justificativa do atual governo para o desastroso resultado de Ideb é que o Ensino Médio é desinteressante e por isso vamos mal. A parte interessante é que em geral, os resultados do Ensino Fundamental que ocorre obviamente antes do médio são pavorosos também, e este nível não está na mira das mudanças desta MP. Aqui eu tenho uma clareza muito grande de que querem mudar o médio para capacitar mais rápido e de forma mais volumosa, os nossos jovens para o trabalho vide “setor produtivo”.

“A presente proposta também estabelece a ampliação progressiva da jornada escolar, conforme o Plano Nacional de Educação, e limita a carga horária máxima de mil e duzentas horas para Base Nacional Curricular Comum, com autonomia dos sistemas estaduais de ensino para organização de seus currículos, de acordo com as realidades diversas.”

O texto diz em fazer escolas em tempo integral gradativamente e isso é um aspecto bem interessante sim, mas na prática temos a maioria das escolas públicas com ensalamento extremamente justo e com os três turnos ocupados. Muito difícil hoje imaginar que teremos talvez o triplo de escolas mesmo em décadas!

Quando o texto fala em “autonomia dos sistemas estaduais para organização de seus currículos”, podemos esperar que os gestores vão ofertar aquilo que tiver mais profissionais disponíveis para compor o quadro de professores. Não que eu seja pessimista, mas infelizmente realista quanto ao funcionamento do sistema público.
  
“Na perspectiva de ofertar um ensino médio atrativo para o jovem, além da liberdade de escolher seus itinerários, de acordo com seus projetos de vida, a medida torna obrigatória a oferta da língua inglesa, o ensino da língua portuguesa e da matemática nos três anos desta etapa, e prevê a certificação dos conteúdos cursados de maneira a possibilitar o aproveitamento contínuo de estudos e o prosseguimentos dos estudos em nível superior e demais cursos ou formações para os quais a conclusão do ensino médio seja obrigatória.”

Primeiramente não creio que uma carga maior de Matemática, Português e Inglês sejam exatamente atraentes aos jovens! Obvio que é de extrema importância, mas dizer que será mais atrativo é estranho.

Outra coisa interessante. Como o texto ainda não foi amplamente discutido e está longe disso, podem esquecer-se de fixar um percentual de aulas de cada componente das disciplinas obrigatórias e termos por exemplo uma escola oferecendo 10 aulas de Inglês, 1 de Matemática e 1 de Português... Caso isso represente a carga horária obrigatória da instituição, não tem por enquanto nada que impeça esse tipo de aberração.

Notório Saber

“Para efeito de cumprimento de exigências curriculares do ensino médio, os sistemas de ensino poderão reconhecer, mediante regulamentação própria, conhecimentos, saberes, habilidades e competências, mediante diferentes formas de comprovação, como:

I - demonstração prática;
II - experiência de trabalho supervisionado ou outra experiência adquirida fora do ambiente escolar;
III - atividades de educação técnica oferecidas em outras instituições de ensino;
IV - cursos oferecidos por centros ou programas ocupacionais;
V - estudos realizados em instituições de ensino nacionais ou estrangeiras; e
VI - educação à distância ou educação presencial mediada por tecnologias.”

Neste exato momento que escrevo este texto o Ministro Mendonça Filho fala em entrevista que o ensino integral vai fazer o sistema ter que contratar mais professores e que os mesmos terão mais facilidade em compor grande carga horária em apenas uma instituição.

Mas essa história do notório saber, em minha opinião, vai acabar inundando as escolas de pessoas desempregadas em outras atividades que vão fazer “bicos” temporários como professores. E isso, inevitavelmente provocará ainda mais precarização das mesmas.

Outra interpretação que tenho disso é que vão empurrar disciplinas distintas para complemento de carga horária para professores da mesma área. Por exemplo: eu sou formado em Geografia e vão poder me entulhar de aulas de História, Sociologia e Filosofia porque como me formei em “Humanas” tenho notório saber para lecionar as demais! Só que não procede! Não tenho preparo pra isso! E quem recusar esse tipo de coisa, acredito que terá dificuldades em formular uma boa carga horária numa instituição.

Considerações Finais

Como ainda é uma MP falta muita coisa ser definida! Agora é a hora de especialistas, entidades, pais e estudantes refletirem sobre o que querem para o futuro do país e pressionarem deputados, senadores e demais responsáveis por redigir o futuro texto da lei que deve substituir a 9394/96 que é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

Eu particularmente não confio na pessoa do Ministro Mendonça Filho para direcionar a educação deste país e temo por uma precarização generalizada da educação brasileira. Escrevi tudo isso sem praticamente mencionar a palavra Geografia, ciência que amo muito lecionar e que acredito contribuir muito com a formação acadêmica e moral dos nossos adolescentes.

Jonathan Kreutzfeld, com muito orgulho, professor de Geografia.

Fonte:





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