quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Desmilitarização: Afinal o que significa ser militar?

Reflexões sobre a greve dos Policiais Militares do Espirito Santo.

Diante da crise referente à greve dos Policiais Militares do Espirito Santo, verificamos diariamente em redes sociais e nas próprias conversas do dia a dia o assunto ressoando. E como praticamente em tudo que se discute nos últimos anos, o radicalismo e a generalização tomando conta de discursos que por vezes são vazios em conhecimento. Sendo assim resolvi pesquisar um pouco mais e expor alguns detalhes importantes, e também emitir a minha opinião sobre o assunto.

Primeiramente é importante salientar que as nossas polícias militares possuem este nome porque estão vinculadas às forças armadas como forças auxiliares, e por este motivo seguem regras e leis que dizem respeito à mesma. Podemos começar falando do significado da palavra militar: relativo às forças armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica), à sua organização, às suas atividades. Isso é só pra ratificar o que já havia dito. Ser militar em qualquer esfera significa, portanto respeitar a hierarquia e a disciplina. Lembrando que nem todas as pessoas precisam concordar com o que é ser um militar e podem, por exemplo, abominar uma escola militar e decidir por não estudar nela ou que seus filhos estudem nela. E é muito importante que sempre, SEMPRE haja opções.

Desmilitarização

Duas Propostas de Emenda à Constituição (PEC 102 e PEC 430) tramitam no Congresso Nacional sobre o assunto. Além de desmilitarizar a PM, as propostas tratam, também, da unificação das policias Militares e Civis. De acordo com a Constituição Federal de 1988, cabe à Polícia Militar o policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública.

Enfim, estas propostas pretendem retirar as características militares de nossa polícia, este artigo é pra justamente tentar explicar um pouco sobre o que mudaria.

No caso do Espirito Santo, podemos notar que militares não possuem exatamente sindicatos e sim associações, isso porque ser militar está fundamentado na tal da hierarquia e disciplina e que em geral é ratificada por um juramento. Abaixo temos uma breve descrição sobre este juramento.

Juramento Militar

O juramento, em outras palavras, consiste em afirmação ou promessa solene, em que se toma por testemunha uma coisa que se tem como sagrada. No Brasil existem inúmeros juramentos ou compromissos, inclusive na vida civil. Para ser admitido ao oficialato ou ao ingressar como praça, cada candidato presta um juramento, o qual é decorrente de exigência legal, influência histórica e tradição. O presidente do Brasil presta juramento antes de ser empossado. Os senadores, os parlamentares, os juízes e outros funcionários do governo prestam o juramento do cargo. Os formandos de cursos universitários também prestam compromissos de ética e fidelidade para com suas novas profissões, a exemplo do médico que ao se formar jura cumprir o Código de deontologia médica, atribuído a Hipócrates.

Os juramentos militares remontam à Roma antiga, em que os soldados juravam lealdade a um general específico, para uma campanha específica. Após terminada a campanha, o juramento já não tinha valor. Em 100 a.C. Roma havia estabelecido uma força armada profissional, e o juramento tornou-se eficaz para todo o período de 20 anos de serviço do soldado.

Desde então, este costume se manteve e se ampliou. Por exemplo, os reis da Inglaterra nos anos 1500 (Henrique VIII), 1600 (Jaime I) e 1700 (Jorge III), estabeleceram juramentos exigindo que os súditos prometessem lealdade a seu rei específico.

Todo cidadão, após ingressar nas Forças ou nas Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, presta compromisso de honra, no qual afirma a sua aceitação consciente das obrigações e dos deveres militares e manifesta sua livre disposição de bem cumpri-los, se preciso, com o sacrifício da própria vida.

As afirmações, pronunciadas em uníssono, são extremamente profundas em suas expressões de sentimento cívico e patriótico. Alcançam a plenitude da compreensão clara e precisa de devoção absoluta às essenciais manifestações de fidelidade e dedicação exclusiva ao serviço do Estado, além da defesa da honra, integridade e instituições.

Podemos voltar ao Espírito Santo. Eu particularmente, diante do exposto até aqui, creio que não há dúvidas de que houve uma quebra da hierarquia e da disciplina por parte desses militares em “greve”. O porém é que temos amplamente divulgadas neste momento, as condições péssimas de trabalho que tais militares encontram naquele estado (que obviamente não é o único). Falta farda, falta coturno, falta arma, falta viatura decente... falta praticamente tudo! Além de ter um salário bem pouco atraente. Pesquisei sobre esse assunto e a fonte que julguei mais condizente com a realidade vem da ANERMB – Associação Nacional das Entidades Representativas de Policiais, Bombeiros Militares e Pensionistas do Brasil Observação importante é que estes valores se referem ao cargo de soldado em início de carreira e referente ao ano de 2015.

Estado – Salário inicial

1 – BRASILIA – R$ 7.190,98
2 – RONDÔNIA – R$ 5.952,80
3 – TOCANTINS – R$ 4.872,80
4 – GOIAS – R$ 4.485,92
5 – SANTA CATARINA – R$ 4.173,85
6 – MINAS GERAIS – R$ 4.098,01
7 – PARANÁ – R$ 3.651,75
8 – ALAGOAS – R$ 3.368,86
9 – CEARÁ – R$ 3.336,14
10 – MARANHÃO – R$ 3.333,57
11 – ACRE – R$ 3.278,65
12 – AMAPÁ – $ 3.230,02
13 – RONDÔNIA – R$ 3.182,66
14 – PARÁ – R$ 3.155,49
15 – PIAUÍ – R$ 3.101,21
16 – MATO GROSSO – R$ 3.067,40
17 – MATO GROSSO DO SUL – R$ 3.055,49
18 – RIO DE JANEIRO – R$ 2.909,50
19 – RIO GRANDE DO NORTE – R$ 2.904,01
20 – SÃO PAULO – R$ 2.901,63
21 – AMAZONAS – R$ 2.726,37
22 – SERGIPE – R$ 2.702,78
23 – PERNAMBUCO – R$ 2.819,88
24 – ESPIRITO SANTO – R$ 2.632,97
25 – RIO GRANDE DO SUL – R$ 2.632,88
26 – PARAÍBA – R$ 2.548,16
27 – BAHIA – R$ 2.497,79

A mesma ANERMB emitiu recentemente uma nota de repúdio onde critica as condições de trabalho que os militares possuem para trabalhar no país e solicita “a sensibilidade do Exmo. Senhor Governador do Estado do Espírito Santo em exercício, César Conalgo, no sentido de reconduzir o Comandante Geral, conceder reajuste salarial, e condições dignas de trabalho aos respectivos agentes”. É natural que uma associação de militares tenha esta postura.

O Governador em exercício César Conalgo acompanhado do Governador Paulo Hartung por sua vez, critica duramente a paralisação dos policiais militares e afirmou que eles serão punidos, pois esse “motim não tem nenhuma legalidade e base constitucional”.

Segundo ele, a suspensão do policiamento “é uma chantagem”, “um caminho errado que rasga a Constituição”. Em tom de desabafo, ele declarou também: “Sequestraram o direito do povo e estão cobrando resgate, mas não se paga resgate descumprindo a Lei de Responsabilidade Fiscal. Se não enfrentarmos isso, é hoje aqui e amanhã no resto do Brasil”.

Considerações Finais

Em um país com forte crise econômica, onde os estados e municípios ficam com parcela irrisória da arrecadação, o sujeito precisa ter muito sangue frio para aceitar um cargo no executivo. Mas é uma escolha que os governadores e prefeitos também fizeram. A segurança pública é notoriamente de extrema importância principalmente para os que dependem única e exclusivamente dela, portanto jamais deve ser cessada por uma greve e por outro lado jamais deveria também ser precária como é o caso. Eu naturalmente não vejo nenhuma solução simples para esse assunto, e não acredito que a maioria de nossos cidadãos esteja, por exemplo, preparada para ter PORTE de arma. Ter arma nós podemos, com restrições, mas podemos. Quanto à desmilitarização da polícia, creio que seria muito mais perigoso para nosso país. Isso porque acredito que se temos greve numa instituição que tem como principio a hierarquia e a disciplina, penso que poderíamos ter uma reincidência de greves muito maior sem a tal da hierarquia e disciplina. Simples assim. Outro detalhe, precisamos inclusive de efetivo maior de militares, pois como eu sou contra o porte de arma generalizado para civis, também sou contra as guardas armadas. Isso mesmo, adoraria que todo o efetivo de guardas armados fosse MILITAR, pois eu acredito que este regime de trabalho e treinamento (quando bem feito) é insuperável quando se trata de lidar com armas.

Quem me conhece sabe que, na medida do possível, respeito opiniões que divergem da minha seja qual for o assunto. Adoro debater, conhecer e ampliar horizontes. Por fim, sei que muitos que talvez leiam este artigo até aqui, fiquem com raiva do fato de eu não defender o porte de arma. Minha resposta é simples: este país não tem EDUCAÇÃO SUFICIENTE PARA ISSO.

Jonathan Kreutzfeld

Fonte:

VALLA, Wilson Odirley. Cultura Policial Militar: O real significado do juramento ou compromisso do militar do Estado do Paraná. PMPR. 2015






2 comentários:

  1. Muito bom teu texto, profe!! Sempre simplificando as notícias e ajudando a entender a atualidade.. sobre o porte de armas, concordo plenamente contigo!! "não acredito que a maioria de nossos cidadãos esteja preparada para ter PORTE de arma." No Brasil, com os casos que já vimos, como os linchamentos, etc, claramente o povo não teria cabeça para andar armado.

    Abraço!

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    1. Olá! Muito obrigado! lamentável né, e sei que muitos não concordam com nossa opinião. E eu continuo pensando também que é difícil hoje sempre definir quem são as "pessoas de bem".

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