Na
educação básica brasileira, os principais documentos norteadores do que hoje é colocado em
prática nas escolas, em geral foram criados por leis da década de 1990.
No
entanto, os documentos nunca especificavam quais os conteúdos obrigatórios para
cada nível de ensino.
Aí
por duas décadas, quem determinou o que deveria ser ensinado em cada componente
curricular e a profundidade do mesmo eram determinados das seguintes formas:
-
SISTEMA DE ENSINO (MATERIAL DIDÁTICO);
-
ESCOLA;
-
PROFESSOR.
Basicamente,
cada escola/professor/material fazia o que considerava mais importante em cada
série de ensino e sendo assim, as mudanças de escola poderiam ser trágicas. O
aluno poderia rever todo o conteúdo da 1ª série novamente numa nova escola,
estudando na 2ª série.
Aí
nos anos 2010, de forma mais contundente, reuniões e “consultas populares”
passaram a definir o que hoje chamamos de BNCC do Ensino Médio. Esta vende a
ideia de uma revolução na educação e que todos os estudantes vão ter acesso aos
mesmos conteúdos em qualquer localização do país e que ao mesmo tempo vão poder
compor um itinerário por área.
A Geografia na BNCC
do Ensino Médio
Eu
não vou me ater aos detalhes da base no seu contexto geral ou de outros níveis
e área. Vou focar apenas na disciplina de Geografia no Ensino Médio.
Mas professor, não existe mais disciplinas na BNCC!
ERRADO!
Seja lá qual for o nome dado (componente, disciplina, gaveta...) a Geografia
antes de qualquer normativa, assim como as demais, é uma ciência. E a Geografia
como ciência, pertence à área das Ciências Humanas que se entrelaçam sim, mas
continuam sendo ciências diferentes em todo seu contexto de formação acadêmica.
O
texto de Competências e Habilidades criado para compor a BNCC ao meu ver nada
mais é do que um amontoado de frases abrangentes e com ampla possibilidade de
interpretação. Para compor o que já aparecia em Planos de Ensino e materiais de
Sistemas de Ensino competentes e que já buscavam contemplar plenamente os
conteúdos previstos por cada CIÊNCIA que compõe a grade curricular da Educação
Básica brasileira.
O
governo vende a ideia de que todos terão os mesmo direitos de aprendizagem a
partir de uma futura homologação da BNCC. Isso é uma grande mentira! As únicas
coisas que garantem direitos de aprendizagem em quantidade e qualidade são
COMPETÊNCIA e COMPROMETIMENTO do profissional que entra na sala de aula. Planos
e Bases, não fixam nem garantem que algum conteúdo seja contemplado, muito
menos padronizado. As desigualdades na qualidade da educação nacional vão
continuar, (e obviamente o governo sabe, mas insiste vender outra ideia) o que
de fato deve melhorar são as referências. Sendo que referência é uma coisa que
todos os bons profissionais deveriam ter a partir do momento em que se formam
na universidade. Mas isso é outro assunto que poderia ser amplamente discutido
em outro texto.
Conforme
já dito anteriormente, os conteúdos continuam existindo plenamente e estão
entremeados nas competências e habilidades que analisaremos abaixo.
COMPETÊNCIAS
ESPECÍFICAS DE CIÊNCIAS HUMANAS E
SOCIAIS APLICADAS
PARA O ENSINO MÉDIO: COMENTÁRIOS SOBRE O CONTEXTO GEOGRÁFICO
1. Analisar processos
políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais nos âmbitos local,
regional, nacional e mundial em diferentes tempos, a partir de procedimentos
epistemológicos e científicos, de modo a compreender e posicionar-se
criticamente com relação a esses processos e às possíveis relações entre eles.
Comentário: Aqui temos todos
os conteúdos hoje contemplados em assuntos de Geografia Regional do Brasil e do Mundo onde abordamos processos
políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais. E obviamente há a
necessidade de relacionar com assuntos atuais ou enfatizar o que mais se
destaca em cada situação.
Comentário: Sobre as
habilidades da Competência 1 temos o conteúdo que já foi identificado, no contexto da Cartografia tanto da parte
conceitual como na análise de escala. Da evolução tecnológica/política/econômica/social
que os territórios estão submetidos.
2. Analisar a formação
de territórios e fronteiras em diferentes tempos e espaços, mediante a
compreensão dos processos sociais, políticos, econômicos e culturais geradores
de conflito e negociação, desigualdade e igualdade, exclusão e inclusão e de
situações que envolvam o exercício arbitrário do poder.
Comentário: Bastante voltada
para a formação histórica do território, vai ser contemplada na Geografia com
os conteúdos de População/Demografia
bem como os tradicionais temas de Geopolítica
e Geoeconomia que de certa forma estão contemplados parcialmente na
Competência 1.
Comentário: Sobre as
habilidades da Competência 2 temos então o conteúdo de população e tudo que cerca o tema, além de Terra no Espaço / Movimentos
da terra.
3. Contextualizar,
analisar e avaliar criticamente as relações das sociedades com a natureza e
seus impactos econômicos e socioambientais, com vistas à proposição de soluções
que respeitem e promovam a consciência e a ética socioambiental e o consumo
responsável em âmbito local, regional, nacional e global.
Comentário: Esta competência
visa abordar conteúdos sobre sustentabilidade
no contexto da descrição de Biomas,
Atmosfera, Geologia, Hidrografia.
Comentário: Bastante abrangente,
envolve Organizações internacionais,
Espaço Urbano (Industrial/Serviços) e Rural (Agropecuária/Extrativismo) bem
como as atividades econômicas desenvolvidas em cada ambiente bem como seus
fluxos de problemas socioambientais.
4. Analisar as
relações de produção, capital e trabalho em diferentes
territórios, contextos e culturas,
discutindo o papel dessas relações na construção, consolidação e transformação
das sociedades.
Comentário: A competência 4 em
princípio se assemelha bastante as anteriores, mas se diferencia no enfoque aos
Direitos Humanos, Desigualdade Social,
que já costumam ser abordados no contexto das Organizações Internacionais e ou Espaço Urbano ou Demografia...
5. Reconhecer e
combater as diversas formas de desigualdade e violência, adotando princípios
éticos, democráticos, inclusivos e solidários, e respeitando os Direitos
Humanos.
6. Participar, pessoal
e coletivamente, do debate público de forma consciente e qualificada,
respeitando diferentes posições, com vistas a possibilitar escolhas alinhadas
ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia,
consciência crítica e responsabilidade.
A
Base sozinha não muda nem engessa o conteúdo que atualmente é abordado na
educação nacional. Vendem uma ideia de inovação e itinerários, mas isso
meramente representa uma necessidade de tentar adequar às necessidades dos
estados em cumprir leis sobre acesso a educação e oferecer conteúdos de acordo
com a existência maior de algum nicho de professores do que outro.
Creio
que a escola privada vai continuar muito parecida com o que já é, seja ela de
qual vertente for e a pública da mesma forma para pior. Considerando que a
falta de profissionais é responsável por grande parte da reestruturação do
Ensino Médio. Quando não tenho profissionais adequados, ofereço apenas o que
tenho disponível.
É uma opinião
bastante pessimista? Talvez sim, na verdade penso que muitos profissionais tem
feito a diferença na educação e que por outro lado os governos em todas as
esferas têm buscado muito mais a melhoria de indicadores do que a qualidade da
educação de fato.
Jonathan Kreutzfeld
Jonathan Kreutzfeld
Fonte: