terça-feira, 28 de agosto de 2018

Iêmen: ruim para homens, um inferno para mulheres

Após 33 anos de ditadura, em meio a Primavera Árabe, Ali Abdullah Saleh foi morto em 2011 acusado de traição pelo próprio povo. Na época, ele passou o comando do país para o seu então vice, Abd-Rabbu Mansour Hadi. Esta reviravolta deveria trazer estabilidade para o país, no entanto fracassou violentamente.

Iêmen: Ruim para os homens, um verdadeiro inferno para as mulheres.

Um detalhe muito importante sobre o Iêmen, é que entre sunitas e xiitas, o país é considerado um dos mais radicais do mundo, com registros de mortes violentas aos cristãos e atrocidades cometidas contra as mulheres. Condenações por apedrejamento para as mulheres, retirada de clitóris para findar o prazer das mesmas e queimadas vivas, são infelizmente violências mais comuns do que se imagina neste país.

Os rebeldes xiitas houthis entraram em Sanaa em setembro de 2014 e assumiram seu controle meses depois. Hadi enfrentou uma variedade de problemas, incluindo ataques da Al-Qaeda, um movimento separatista no sul, a resistência de muitos militares que continuaram leais a Saleh, assim como corrupção, desemprego e insegurança alimentar.

O movimento houthi, que segue uma corrente do islã xiita chamada zaidismo e havia travado uma série de batalhas contra Saleh na década anterior, tirou proveito da fraqueza do novo presidente e assumiu o controle da província de Saada, no nordeste do país.

Desiludidos com a transição, muitos iemenitas – incluindo os sunitas – apoiaram os houthis e, em setembro de 2014, eles entraram na capital, Sanaa, montando acampamentos nas ruas e bloqueando as vias.

Em janeiro de 2015, eles cercaram o palácio presidencial e colocaram o presidente Hadi e seu gabinete em prisão domiciliar. O presidente conseguiu fugir para a cidade de Áden no mês seguinte.

O conflito armado se transformou em uma guerra de grande escala no Iêmen em 2015, aumentando as já enormes necessidades médicas e humanitárias e restringindo gravemente o acesso a cuidados de saúde.

Os Houthis continuaram a avançar em 2015, tomando o palácio presidencial em Sanaa, em janeiro. O presidente Hadi fugiu para Aden e uma coalizão liderada pela Arábia Saudita que apoia seu governo deu início a ataques aéreos para recuperar o território perdido, inclusive o porto de Aden. Enquanto isso, a guerra fortaleceu a presença da Al Qaeda e do Estado Islâmico no país. Até o fim do ano, a ONU estimava que 2.800 pessoas tenham sido mortas e cerca de 2,5 milhões deslocadas internamente. O sistema de saúde foi dizimado: os profissionais médicos fugiram do país, instalações foram destruídas e materiais médicos, cortados.

A guerra civil no Iêmen, o país mais pobre do mundo árabe, deixa 22 milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade, segundo os dados mais recentes da Organização das Nações Unidas (ONU), que considera essa a maior crise humanitária global em curso atualmente.

Só em 2018, 85 mil pessoas já foram forçadas a deixar suas casas por conta do conflito iemenita, e o total de mortos ultrapassa 10 mil desde 2015.

Antagonismo regional

Sunitas com apoio saudita x Xiitas com apoio iraniano.
  

Em meio à guerra, o país sofre com bloqueios comerciais impostos pelos sunitas, que impedem que ajuda humanitária e itens básicos, como comida, gás de cozinha e medicamentos, cheguem a 70% da população iemenita.

Os anos de conflito não só provocaram uma escassez aguda de alimentos como destruíram o sistema de saúde do país, dificultando o combate a uma grave epidemia de cólera. Em dezembro, o número de casos suspeitos de cólera alcançou 1 milhão.


Por que essa guerra importa para o resto do mundo?

O Iêmen é estrategicamente importante, porque está no estreito de Bab-el-Mandeb, que faz ligação com a África e é rota de navios petroleiros. Além disso, muitas potências lucram indiretamente com a guerra iemenita: a coalizão saudita que bombardeia o Iêmen compra armas de países como Estados Unidos, Reino Unido e França. No entanto, é possível garantir que o conflito também tem muitas armas sauditas e iranianas. Ou seja, quase todos os envolvidos ganham dinheiro e quem se ferra é o povo iemenita.

Só as empresas britânicas teriam lucrado £6 bilhões ( R$27 bilhões, aproximadamente) com venda de armas à Árabia Saudita desde o início da guerra no Iêmen, segundo pesquisa da ONG War Child UK.

A coalizão alegou querer parar o contrabando de armas para os rebeldes do Irã, mas a ONU disse que as restrições poderiam desencadear "a maior crise de fome que o mundo já viu em décadas".

A crise humanitária

A população tem suportado o caos da guerra e sido constantemente vítima do que o conselho de direitos humanos da ONU chama de "incessantes violações do Direito internacional".

Os ataques aéreos da coalizão saudita foram as principais causas da morte de civis. A destruição da infraestrutura do país e as restrições de importação de comida, de medicamentos e de combustível causaram o que a ONU diz ser uma situação catastrófica.

Mais de 20 milhões de pessoas, incluindo 11 milhões de crianças, precisam de ajuda humanitária imediata. Há 7 milhões de pessoas dependentes de ajuda para comer e 400 mil crianças sofrendo de desnutrição.

Ao menos 14,8 milhões estão sem cuidados básicos de saúde, e apenas 45% dos 3,5 mil postos de saúde estão funcionando e lutando para conter a maior epidemia de cólera do mundo, que até o final do ano passado havia resultado em 2.196 mortes.

Jonathan Kreutzfeld

Fonte:






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