terça-feira, 16 de outubro de 2018

O Desmantelamento da Iugoslávia (1945-2003)


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O assunto voltou um pouco à tona em noticiários talvez em função do grande resultado da Croácia que foi segunda colocada na Copa do Mundo de 2018 bem como alguns comentários de ódio envolvendo Sérvios e Croatas durante o evento na Rússia. 

Vejamos abaixo um resumo sobre a história envolvendo o cruel desmantelamento da Iugoslávia que existiu oficialmente apenas desde o final da Segunda Guerra Mundial até 2003.

A Iugoslávia surgiu após a Primeira Guerra Mundial, com o desmantelamento do Império Austro-húngaro em 1918, sob o nome de Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos. A partir de 1929, foi adotada a denominação de Reino da Iugoslávia, que era liderado por uma monarquia controlada pelos sérvios. Esse governo estendeu-se até 1941, quando o país foi invadido pelos alemães e um Estado fantoche de nacionalistas croatas foi criado na região.

Em 1945, a união de seis repúblicas (Sérvia, Eslovênia, Croácia, Bósnia e Herzegovina, Montenegro e Macedônia), e de duas províncias autônomas (Kosovo e Vojvodina), deu origem à República Federal Socialista da Iugoslávia. Instituída sob o regime comunista, e governada com mão de ferro entre 1945 e 1980 pelo marechal Josip “Tito” Broz, a Iugoslávia foi capaz de resistir por 35 anos às diferenças dos povos que a formavam. Mas não foi para sempre. A morte de Tito, em 1980, e o enfraquecimento do sistema comunista ao longo da década seguinte (culminando com a queda do muro de Berlim, em 1989), fez com que os comunistas começassem a perder o controle do país. Com isso, divergências do passado começaram a se agravar. O palco se tornou favorável para vários tipos de discursos, do nacionalismo sérvio à crença de que era chegada a hora para eslovenos, croatas, bósnios e kosovinos fundarem seu próprio país.

Josip Broz Tito - Morto em 1980
Os primeiros a agirem foram Eslovênia e Croácia, que em 25 de junho de 1991, via referendo, declararam independência. A decisão desagradou o presidente sérvio Slobodan Milosevic. O primeiro alvo de Milosevic foi a Eslovênia, numa guerra de “tiro curto” que durou 10 dias. Depois de algumas bombas e ameaças, um acordo foi firmado pelo governo esloveno e a Iugoslávia. Resolvida a questão da Eslovênia (que sempre foi mais “Ocidental” do que “Oriental”, e continha pequena representatividade sérvia no país), o exército iugoslavo – sob o comando de Milosevic – focou seus esforços na Croácia e, prontamente, invadiu o país com a ajuda das milícias sérvias locais. Com o sangue respingando nas coberturas televisivas (mesmo que em doses homeopáticas), ONU e Comunidade Europeia intervieram no conflito.

Slobodan Milosevic
Seguindo os passos da Eslovênia e da Croácia, a Bósnia e Herzegovina foi a terceira república da antiga Iugoslávia a declarar independência, em fevereiro de 1992 (também via referendo). Contrários à decisão, os sérvios, que defendiam a permanência da Bósnia na Iugoslávia, deram início aos confrontos na capital Sarajevo. Pelo país, integrantes de diferentes culturas e religiões estavam se aniquilando. Começou um processo de limpeza étnica liderado pelos sérvios. Valia tudo, desde massacres coletivos a estupros sistemáticos de mulheres bósnias, que, pela lei vigente, tendo filhos de pais sérvios, dariam à luz a crianças “sérvias legítimas”.

Desde o fim da guerra na Bósnia, em 1995, a tensão entre a província autônoma de Kosovo, de maioria albanesa, e o que restou da Iugoslávia também começou a crescer. Em 1998, os confrontos entre as forças de segurança sérvias e o Exército de Libertação de Kosovo (ELK) se intensificaram. Na luta pela independência, separatistas de Kosovo chegaram a controlar parte da província – quando tiveram sua autonomia ‘castrada’ por Milosevic, graças ao fechamento do parlamento kosovino e a entrada em ‘campo’ das tropas sérvio/iugoslavas. A situação chegou ao extremo em 1999, quando após uma tentativa fracassada de assinar um acordo de paz com os sérvios, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) atacou a Iugoslávia em março daquele ano – no centro de Belgrado, capital da Sérvia, até hoje prédios que foram alvo do ataque restam intocados, e destruídos.

Em 2008 Kosovo conquistou, finalmente, sua independência. Porém, 13.500 pessoas foram mortas no período, conforme levantamento do Humanitarian Law Center (HLC). Este episódio, ainda não bem resolvido, segue sendo um dos motivos que barram a entrada da Sérvia na Comunidade Europeia.

Ponte em Mostar - Bósnia e Herzegovina
Fruto desta série de episódios, a Iugoslávia deixou de existir, oficialmente, em 2003, dando lugar a um ‘novo país’, chamado Sérvia e Montenegro. Em 2006, porém, as duas nações também se separaram, após referendo, criando os hoje independentes países da Sérvia e de Montenegro. O espólio da guerra, entretanto, ficou com a Sérvia, por motivos óbvios. No total, nove enfrentamentos armados foram registrados envolvendo as seis repúblicas da antiga Iugoslávia e as duas unidades autônomas, num número aproximado de 140 mil mortos, outra centena de milhares de desaparecidos e, pelo menos, 2,2 milhões de refugiados, entre 1991 e 2001.

Entre os inúmeros conflitos, destacam-se a Guerra da Bósnia e Herzegovina e da Independência da Croácia que seguem:


A Guerra de independência da Croácia

Franjo Tudjman da Croácia, foi um dos principais arquitetos da dissolução da Iugoslávia e o ressurgimento do nacionalismo nos Bálcãs.

Franjo Tudman
A guerra de ocorreu de 1991 a 1995 e resultou na morte de 14 mil croatas e 7,5 mil sérvios. (Aqui da para entender um grande motivo para a rivalidade entre Sérvia e Croácia no futebol)

Inicialmente, foi uma guerra entre a Croácia e o Exército Popular jugoslavo (JNA), que se opôs à independência croata. Mais tarde, o conflito levou a combates entre as forças armadas da recém-independente Croácia e as forças rebeldes da minoria sérvia, que proclamou a República Sérvia de Krajina. Os sérvios foram apoiados pela Iugoslávia. O lado croata destinava-se a estabelecer a soberania da República da Croácia, uma antiga república socialista na República Socialista Federativa da jugoslávia, enquanto os sérvios queriam permanecer como parte da Iugoslávia, procurando novas fronteiras em partes sérvias da Croácia com uma maioria ou uma minoria sérvia influentes. A guerra foi particularmente notável pela sua brutalidade em uma sociedade relativamente desenvolvida na Europa e nos tempos modernos.


Guerra na Bósnia e Herzegovina: Cerco de Sarajevo e o túnel da esperança

A Guerra na Bósnia e Herzegovina durou três anos, oito meses e oito dias. Começou em 6 de abril de 1992 (data em que o país foi admitido como membro da ONU) e só acabou em dezembro de 1995. A independência da multiétnica república da Bósnia – então habitada por bósnios muçulmanos (44%), sérvios ortodoxos (31%) e croatas católicos (17%) – havia sido definida por um referendo pouco tempo antes do início do conflito, em em 29 de fevereiro de 1992. Só que os sérvios não levaram a independência a sério e decidiram estabelecer, dentro da Bósnia, sua própria República (Srpska). Estava lançada mais uma guerra no território da antiga Iugoslávia.

O conflito deixou aproximadamente 100 mil mortos. Entre as vítimas, 40 mil civis. Cerca de 50 mil mulheres bósnias foram estupradas e 1,5 milhão de pessoas ficaram desabrigadas ou refugiadas. Foi o primeiro caso de genocídio na Europa pós-Segunda Guerra Mundial. Campos de concentração também se tornaram comuns.

Na linha de combate se enfrentaram os representantes de cada etnia da então República: sérvios e bósnios de origem sérvia (representantes da República de Srpska, apoiados pelo exército Iugoslavo (JNA), de Slobodan Milosevic), croatas e bósnios de origem croata, e bósnios de origem muçulmana – grupo que registrou as maiores perdas.

O mundo acompanhou ao vivo os principais momentos do conflito. Especialmente, o cerco da capital Sarajevo – o mais longo da história moderna, entre abril de 1992 e fevereiro de 1996 (cerca de dois meses após o fim da própria Guerra na Bósnia). Sem água ou energia elétrica e aprisionados em suas próprias casas, os moradores de Sarajevo estavam sendo dizimados pelas forças sérvias, que se posicionaram ao longo das montanhas que circundam a capital. A cobertura da imprensa fez com que a ONU tivesse que agir. Um acordo foi feito com as lideranças sérvias para que o aeroporto de Sarajevo servisse de base para a chegada de alimentos, roupas, cuidados de saúde e outros.

Com a criação da “zona livre de guerra”, representantes bósnios tiveram uma ideia: construir um túnel debaixo da pista do aeroporto – o que permitiria o ingresso de mais comida e utensílios que já não eram encontrados na cidade. O serviço foi executado por 133 pessoas, entre militares e civis, e durou quatro meses e quatro dias, entre março e junho de 1993. Abid Jasar, que trabalhou na construção do túnel comenta que: “Tínhamos duas equipes cavando em lados opostos sob a pista do aeroporto. A ideia era nos encontrarmos no meio do caminho abrindo, assim, o túnel para o transporte de mantimentos e deslocamento de pessoas. Tivemos sucesso, e, certamente, a iniciativa garantiu a sobrevivência da cidade, que estava completamente batida”, lembra o veterano que fez parte do exército bósnio e hoje mantém uma loja de souvenirs ao lado do túnel. O lugar, inclusive, é um dos principais pontos turísticos da cidade.

Mesmo duas décadas depois da Guerra, Sarajevo segue repartida e longe de ostentar o padrão de vida europeu, ou de capitais próximas, como Belgrado e Zagreb. O cerco de Sarajevo deixou cerca de 15 mil mortos (40% civis) e legou à Capital um impressionante número de cemitérios, muitos estabelecidos em espaços que antes do conflito serviam como parques abertos ao público.


Lideranças regionais durante todo o processo de desmantelamento da antiga Iugoslávia

De todo esse processo, surgiram lideranças étnicas que representavam politicamente seus grupos na Iugoslávia. Assim, destacaram-se os seguintes líderes das três etnias hegemônicas da região:

Alija Izetbegovic, líder dos bosníacos (bósnios-muçulmanos);

Franjo Tudman, líder dos croatos;

Slobodan Milosevic, líder dos sérvios.


Jonathankreutzfeld

Fonte:





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