quinta-feira, 7 de março de 2019

Brumadinho: hidrografia e dimensão do desastre ambiental


Nesta postagem escrevo sobre a dimensão e a localização geográfica do desastre em Brumadinho. Sabemos que desastre ou tragédia são palavras que remetem a evento, acontecimento que causa sofrimento e ou grande prejuízo de ordem física, social, moral. Eu até poderia mencionar negligência para este caso, mas no final é uma negligência que causa perdas e sofrimentos, então serve.

O maior pesadelo ecológico do Brasil em sua história teve uma reprise ainda pior que o recente ocorrido em Mariana – MG. No dia 25 de janeiro de 2019, o rompimento da barragem da Companhia Vale em Brumadinho, também em Minas Gerais, deixou um rastro de mortes e lama.

A barragem da mineradora Vale na região do Córrego do Feijão teve o rompimento informado à Secretaria do Estado de Meio-Ambiente às 13h37 de 25 de janeiro. O número de mortos deve chegar a 310 considerando confirmados e desaparecidos. O acidente de Brumadinho é o maior do mundo, entre mineradoras, em número de mortes. E a Vale já é a empresa responsável pela maior tragédia ambiental do Brasil, três anos atrás, em Mariana, quando 19 pessoas morreram soterradas pela lama, e o distrito de Bento Rodrigues foi apagado do mapa, soterrado.

O Ibama declarou que a tragédia de Mariana  despejou cerca de 50 milhões de metros cúbicos de rejeitos, contra 13 milhões de Brumadinho. Foram destruídos cerca de 270 hectares de terreno, que equivalem a 270 campos de futebol.

Localização

O desastre aconteceu na Bacia do Rio Paraopeba, este que por sua vez é uma sub-bacia do Rio São Francisco. 

Este rio tem extensão de 546,5 km, área de 12.054,25 km² e abrange 48 municípios mineiros, nos limites e ecraves da Mata Atlântica e do bioma Cerrado. O rejeito contaminado deixa toda essa rede de drenagem alterada, desde nascentes e curso do rio, com vazões interrompidas em alguns trechos e com variações ao longo de toda a bacia hidrográfica.

O desastre aconteceu em uma região da Serra da Mantiqueira, com aproximadamente 700m de altitude e as águas do Rio Paraopeba na imagem ao lado escoam na direção norte. No alto da figura podemos observar um grande reservatório de água já no curso principal do Rio São Francisco. Ali temos a Usina de Três Marias, que com 396MW de potência é uma das maiores hidroelétricas da região do São Francisco. Detalhe que a mesma foi inaugurada em 1962 e diferentemente do que acontece com as barragens de rejeitos, possui manutenção considerada adequada. Claro, porque ainda gera receita ao contrário do rejeito de mineração.

Já no mapa em detalhe abaixo, temos a Usina de Retiro baixo que fica 200km sentido jusante (abaixo) do desastre de Brumadinho e deve ser responsável por “decantar” os rejeitos do desastre, antes que as águas cheguem à barragem de Três Marias que já fica no curso do Rio São Francisco.

A Usina de Retiro Baixo de acordo com a Agência Nacional de Águas, foi desligada e deve ser por tempo indeterminado, responsável por reter a lama de rejeitos. Como sua potência é de apenas 30MW, tal desligamento não deve afetar o fornecimento de energia da região que atualmente está com as demais hidroelétricas em pleno funcionamento devido à grande quantidade de chuvas que tem acontecido na estação.

Grandes perdas ambientais

Segundo dados da SOS Mata Atlântica/INPE/MapBiomas, houve uma perda de 112 hectares de florestas nativas. Destes, 55 hectares eram áreas bem preservadas. Além disso, a bacia do rio Paraopeba é formadora e corresponde a 5,14% do território da bacia do rio São Francisco, além de ser um dos principais mananciais de abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte – desde a tragédia, o Paraopeba se manteve indisponível para qualquer tipo de uso.

























A comunidade da região, incluindo ribeirinhos, quilombolas, indígenas e agricultores, utilizam a água do Paraopeba para subsistência, atividades econômicas e, principalmente, para animais e lazer. Existe ainda, o impacto de valor imaterial – associado a cultura dessas comunidades -, que não vem sendo mensurado. Assim como no rio Doce, este dano silencioso é de impacto profundo em várias gerações.
O dano ambiental ocorreu logo após o período de piracema – época de reprodução de espécies que só ali vivem –, além daquelas que foram reintroduzidas pela Usina Hidrelétrica de Retiro Baixo, como o repovoamento de alevinos que tinha acabado de ser realizado. Após a tragédia, todas essas espécies foram perdidas.

Considerações finais

O desastre de Brumadinho é uma reincidência da negligência de uma atividade econômica de grande lucratividade que é a mineração. Porém esta lucratividade, ocorre com grandes perdas ambientais, mesmo quando tudo corre bem e possui baixíssimo valor agregado, ou seja, mantém o país em seu subdesenvolvimento. Pra piorar, infelizmente estamos nos acostumando a ver esse tipo de reincidência sem a devida aplicação do rigor da lei, isso que nem decidi por falar dos danos socioeconômicos indiretos provocados pelo desastre.

Jonathan Kreutzfeld

VEJA MAIS EM: 


Obs: abaixo seguem imagens anexas pois ficaram sem contexto na postagem e já tem bastante disso na internet.

Alguns ANTES e DEPOIS do desastre:





Fonte:







Nenhum comentário:

Postar um comentário