sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Brasil: Violento dentro e fora dos presídios


Massacre do Carandiru
Final de julho de 2019, uma rebelião com cinco horas de duração deixou 58 mortos no Centro de Recuperação Regional de Altamira , no Sudoeste do Pará. O massacre é o maior ocorrido em um mesmo presídio desde o do Carandiru, em 1992, quando 111 detentos foram assassinados, e o quinto com alta letalidade registrada no sistema prisional do país desde janeiro de 2017. Em dois anos e meio, o saldo é de 227 vítimas fatais. O mais recente ocorreu em unidades prisionais de Manaus, em maio, e deixou 55 mortos. 16 detentos foram decapitados e sim, todos os envolvidos cometeram crimes.

A questão que me levou a fazer este levantamento e consequentemente este texto é a grande repercussão positiva em redes sociais sobre o ocorrido. Discursos de ódio sem nenhuma análise sobre alguns pontos que julgo bem importantes:

Quem são os detentos brasileiros? Quais tipos de crime cometeram? (sim eu acho que tem muita diferença) Quem somos nós para dizer que podem morrer de forma cruel? Se sim, é cristão pensar dessa forma (já que nosso país é laico mas “nós somos cristãos”)?

Não, eu não tenho pena de bandido, porém eu tenho certeza de que tem muita gente presa que não cometeu crimes muito graves e por ter contato com gente realmente perigosa, na cadeia acaba tendo que se aliar aos grandes grupos criminosos do país e em grande parte das vezes não sairá melhor do que entrou cadeia. Pra piorar, aqueles que morrem sob a tutela do Estado, terão indenizações para suas famílias, e todos nós pagamos por isso também.

Por fim, penso que entulhar os presídios não está dando certo, pois a escalada de homicídios, furtos e roubos em cidades médias, por exemplo, não param de crescer. Penso que não é simples a solução no curto prazo, mas no caso do Brasil, melhorar a saúde e educação da população certamente diminuiria drasticamente o envolvimento dos jovens no mundo do crime. Mas, por enquanto observamos calados a retirada de dezenas de bilhões de reais da educação e da saúde do país.

Superpopulação carcerária

Neste julho de 2019 o Brasil tinha pelo menos 812.564 presos, segundo o Banco de Monitoramento de Prisões, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Os dados do CNJ apontam para o aumento da população prisional brasileira que cresce a um ritmo de 8,3% ao ano.

Nessa marcha, o número de presos pode chegar a quase 1,5 milhão em 2025, o equivalente à população de cidades como Belém e Goiânia. Atualmente, o Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos (2,3 milhões) e da China (1,7 milhão).

Estamos prendendo as pessoas erradas?

Pablo Escobar
Este assunto me fez lembrar de uma entrevista que já tinha lido. A entrevista de 2012 da Istoé com o ex-secretário Nacional de Justiça Pedro Abramovay que é um dos principais nomes da sociedade civil na defesa da descriminalização do uso de drogas. E que acredita que o encarceramento em massa não vem resolvendo o problema. Vale ressaltar que grandes traficantes, muitos talvez até de colarinho branco não estão indo pra cadeia. Ou seja, por aqui só se vê traficante grande sendo preso ou morto em séries do Netflix.

Segue abaixo trecho da entrevista.

ISTOÉ – Há propostas em debate no Congresso Nacional para mudar a Lei de Drogas, que aumentou as penas para o tráfico e acabou com a prisão de usuários. Isso é positivo?

Pedro Abramovay – É preciso uma definição clara sobre quem é usuário e quem é traficante. A lei atual diz que o juiz vai avaliar a partir das circunstâncias sociais para dizer se a droga era para consumo pessoal ou para venda. O que acontece é que, sem critério, uma grande massa nessa fronteira acaba sendo presa como traficante, e colocar essas pessoas na prisão significa entregá-las de bandeja para o crime organizado, que será sua única opção quando saírem da cadeia. Para se ter a dimensão disso, desde que a lei foi aprovada, em 2006, o número de presos por tráfico dobrou. Saímos de 62 mil para 125 mil presos em 2011.

ISTOÉ – Esse número não é uma vitória no combate ao tráfico?

Pedro Abramovay – Resolver o problema das drogas significa diminuir o consumo e a violência relacionada ao tráfico. Nada disso está acontecendo, o que indica que estamos prendendo as pessoas erradas. Mais de 60% dos presos por tráfico carregavam pequenas quantidades, eram réus primários e nunca tinham se envolvido em outros crimes. Não é atrás dessas pessoas que a polícia tem que ir, mas do crime organizado. Para isso, é fundamental que se discutam critérios mais claros para separar quem é usuário de quem é traficante.

Resolver o problema da violência no Brasil, certamente não é simples e nenhuma solução simples irá resolver. Sobre o armamento da população penso que seria mais uma solução simplista que manteria a população mais pobre (que não teria dinheiro pra comprar uma arma), ainda mais refém da situação. E que na média, os brasileiros não estão preparados mental e educacionalmente para isso. Falta muito, muito mesmo.

Sugiro também a leitura do texto acessando o seguinte link:


Jonathan Kreutzfeld

Fonte:




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