terça-feira, 22 de março de 2011

O Brasil na fase B do quarto ciclo longo de Kondratiev

Este post é para quem se interessa por economia e por ciências sociais em geral. É um fichamento de parte de um artigo do grande advogado, economista e cientista social Ignácio Rangel. Que na sua grande obra estuda, define e analisa a economia brasileira sob uma ótica autêntica criada principalmente por orientações marxistas... Vale a pena ter o livro inteiro... :)


RANGEL, Inácio. O Brasil na fase B do quarto Kondratiev, p. 259-287, In: Obras Reunidas v2. 2ª ed. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005.

Jonathan Kreutzfeld
22/03/2011


RESUMO

Os ciclos longos de Kondratiev representam o ciclo de ascensão e recesso do regime capitalista. Nicolai Kondratiev definiu o capitalismo sob uma ótica independente e acabou desagradando tanto os comunistas, que não queriam acreditar em ascensão pós crise do capitalismo e os capitalistas não se agradaram por acreditarem ser capazes de impedir que as mesmas ocorressem. Com relação a fase recessiva do quarto ciclo proposto, Rangel explora os conceitos de Kondratiev e demonstra que o Brasil não enfrenta as crises da mesma forma que os principais países desenvolvidos e os de economia planificada.

DESENVOLVIMENTO

A fase “A” do quarto ciclo de Kondratiev ocorre entre os períodos de 1948, ou seja, no pós Segunda Guerra Mundial e termina no ano de 1973, quando a crise do petróleo assola os principais países envolvidos no conflito em especial os capitalistas. Esta fase ascendente triplica a produção dos Estados Unidos e praticamente quadruplica nas demais nações capitalistas. A fase “B” que se inicia a partir de 1973 foi considerada semelhante aquela ocorrida no ano de 1929.
Considerando a crise de 1929, vale lembrar que o Brasil da década de 30 foi revolucionário e onde ocorreu de fato o início da industrialização. Rangel destaca que o Brasil sempre tem encontrado meios de se ajustar a esta conjuntura dos ciclos. Em 1975 por exemplo o Proálcool desperta como uma das alternativas encontradas para reduzir as importações de petróleo. Lembrando que nesta época o Brasil ainda era extremamente dependente do petróleo externo. Outros países não tiveram tanta facilidade em se ajustar ao ciclo recessivo. Estes tiveram que reduzir substancialmente seus bens e serviços, repercutindo no menor conforto de seus habitantes, que ascenderam junto com o ciclo ascendente.
A Guerra Fria, ou o pós guerra, resultaram em grandes investimentos em pesquisa e desenvolvimento, o que acabava gerando sucessivas novas crises pois mais rapidamente o capital investido era substituído. Mas novas demandas foram surgindo e o desenvolvimento tecnológico tornou-se cada vez mais dinâmico. Por este motivo os ciclos de Kondratiev possuem sucessivos ciclos curtos dentro dos ciclos longos, pode se relacionar a esta dinâmica de “envelhecimento precoce”.
Diante dos problemas econômicos decorrentes dos ciclos longos em fase recessiva, vários países tomaram o planejamento como a essência da saúde econômica. Rangel cita a União Soviética que passou a desenvolver planos vintenal (1960-1980) e assim conseguiu verificar grande crescimento na geração de energia e por consequência disto na produção industrial também.
No Brasil havia alternativas inesgotáveis de geração de energia e assim o país as explorou, é o caso da energia hidráulica e é citada também a possibilidade nuclear que de forma mais branda o país também adotou. Embora nosso país então não precisasse se preocupar tanto com os seus recursos energéticos, acabou se tornando muito dependente dos combustíveis líquidos, e isso gerava uma demanda tecnológica intensa no que diz respeito à obtenção e o tratamento dos mesmos.
Durante o ciclo “B” de Kondratiev, os países do terceiro mundo em geral, tiveram que desenvolver-se tecnologicamente para enfrentar suas crises, e resolveram a partir da ampliação de sua produção industrial, energética e tiveram que fazer isso para substituir as importações. No Brasil o resultado aparente foi bom, mas para os planejadores surgia então um novo problema: “o exército de reserva” referindo-se ao campo que também precisaria de uma revolução tecnológica e como conseqüência geraria novas demandas nas cidades. E diante disto alterações institucionais também seriam necessárias, pois novos desafios surgiriam.

CONSIDERAÇÕES FINAIS


A fase “B” do ciclo de Kondratiev trouxe ao Brasil novos desafios, assim como em todos os países do terceiro mundo, planificados e os desenvolvidos. Não somente nesta fase recessiva em escala mundial, o Brasil consegue assegurar crescimento, mesmo que por alguns períodos de forma modesta. A substituição das importações foi parte do sucesso brasileiro perante outras nações semelhantes economicamente. As alternativas energéticas também tiveram substancial importância. Sucesso ou sorte o Brasil enfrentou de forma criativa os desafios que surgiram. Vale lembrar que este artigo de Rangel data de 1981 e considerando o que veio à seguir, mais precisamente na metade da década de 90, pode-se dizer que foi um período de estabilidade e aparelhamento “preparatório” para o próximo decênio que foi bastante ascendente. Embora, lógico não haja menção ao período em seu artigo.

Um comentário:

  1. Boa noite Professor, os ciclos do Kondratiev não deveriam durarm de 40 a 50 anos?

    Obrigado

    ResponderExcluir