DESLIZAMENTOS DE TERRA EM ÁREA URBANA NO MUNICÍPIO DE TIMBÓ – SC, NO DESASTRE DE NOVEMBRO DE 2008
Jonathan Kreutzfeld
Resumo: O levantamento sobre as localidades em área urbana de Timbó que foram atingidas por deslizamentos no ano de 2008 tem por finalidade avaliar as condições da região e dos eventos ocorridos. É um problema que surge devido a suas condições naturais e torna-se desastrosa devido à ocupação urbana desordenada. Apresentar-se-á uma pesquisa bibliográfica com enfoque qualitativo para avaliar as condições geográficas da região e em seguida haverá uma pesquisa de campo, onde serão coletadas imagens e informações dos deslizamentos para posterior análise, e por último, serão realizadas entrevistas semi-estruturadas, com moradores antigos da região, para que seja possível fazer um breve levantamento histórico-ambiental da região.
FRAÇÕES DO TRABALHO
No ano de 2008, o Vale do Itajaí novamente sofre com um desastre ambiental de grande magnitude, no entanto apesar dos grandes estragos provocados pelas cheias, desta vez o maior problema ocorrido se deve aos “escorregamentos que são movimentos coletivos de massa e ou material sólido encosta abaixo, como solos, rochas e vegetação sob a influência direta da gravidade” (KOBYIAMA, 2006, p.52). Esses fenômenos foram potencializados pela ocupação desordenada e mau uso do solo.
A Geografia tem como base de estudos, o espaço geográfico, espaço esse que se transforma constantemente. Novas técnicas práticas e estudos foram criados para aperfeiçoar esta ciência.
O ensino da Geografia deve também promover a apropriação do conhecimento geográfico para que a prática faça com que os alunos compreendam melhor a relação homem e meio. A prática de campo aliada com projetos nessa área, além de auxiliar na obtenção de novos conhecimentos, faz com que o aluno compreenda melhor a função e o conceito de pesquisa. Assim sendo este percebe melhor os conceitos abordados em sala e aprende a trabalhar de acordo com a metodologia.
A sala de aula é um excelente lugar de aprendizado, no entanto, para o aluno muitas vezes um simples trabalho em equipe, a confecção de um cartaz, slides, seminários, aproxima o aluno da ciência e da pesquisa.
O trabalho com projetos, pesquisa, é baseado na problematização e o aluno torna-se sujeito de seu próprio conhecimento, investiga, registra dados, formula hipóteses, toma decisões para resolver um problema. A Metodologia de Projetos apresenta um caráter investigativo.
Atualmente, porém já não se observa esse enfoque exagerado na formação do cientista mirim. Observa-se também, uma crescente diminuição do interesse na formação do pesquisador, do cientista. Essas formações como enfatizam diversos autores, é muito importante para o indivíduo do novo milênio. Ao mesmo tempo, surge a reflexão proposta por Weber (1963) quando fala sobre a vocação que o indivíduo tem ou não para a Ciência. Essa vocação deve ser respeitada se quer formar verdadeiros pesquisadores.
Daí, a relevância da formação do aluno pesquisador, verificando em que medida torna-se possível a realização de um projeto interdisciplinar para a formação do aluno pesquisador desde o Ensino Médio, favorecendo a formação do futuro cientista, do futuro pesquisador.
A cidade de Timbó teve em seu território a ocorrência de 12 deslizamentos (Figura 3), em área urbana houveram três deslizamentos, os dados foram fornecidos pela defesa civil do próprio município. Os que ocorreram em área urbana foram na Rua Wilhelm Milke, no Morro Arapongas e também na Rua Alfredo Hansen. Este projeto inicial enfatizou o ocorrido no Morro Arapongas que foi o evento de maior dimensão em área urbana.
FIGURA 3 – Pontos de deslizamentos em Timbó 2008.
Fonte: Defesa Civil de Timbó-SC
5.2 Localização
O Morro Arapongas possui cerca de 580 metros de altitude, fica a cerca de 5km do centro da cidade de Timbó (Figura43). As coordenadas no sopé do morro são S 26º 50’ 37” e W 49º 17’ 21”. Fora da região do Morro Azul onde ficam as maiores altitudes, este é o maior morro da cidade.
FIGURA 4 – Localização Morro Arapongas
Fonte: www.googlemaps.com (Acesso em 23/07/2009)
5.3 O morro Arapongas
No dia 16 de julho de 2009 uma equipe formada pelos alunos Rafaela, Letícia, Martin, Maurício, juntamente com o professor Jonathan (todos do Centro Educacional Timbó S/A) estiveram no local. (Figura )
Para fazer o levantamento sobre o ocorrido a equipe fez uso de um GPS e se baseou em informações contidas em um mapa fornecido pela Defesa Civil do município.
FIGURA 5 – A equipe (Rafaela, Letícia, Jonathan, Maurício e Martin)
Fonte: Arquivo pessoal
O morro fica localizado no bairro Araponguinhas, em um lugar pouco povoado da área urbana da cidade. Nas redondezas, existem algumas casas, áreas com pequenas plantações e pastagens para alguns animais.
No sopé do morro existem algumas pequenas áreas em que estão plantados pés de cana-de-açúcar (Figura 6).
FIGURA 6 – Cana de açúcar no sopé do Morro Arapongas
Fonte: Arquivo pessoal
Subindo o morro já nota-se um solo argiloso de origem granítica. O solo possui marcas escuras, sinais do apodrecimento de material orgânico, os sedimentos são muito finos e o material se encontra bastante úmido.
A vegetação é do tipo Floresta Ombrófila Densa (Figura 7). É uma vegetação nova, devido as plantações principalmente de milho que existiam a cerca de 30 anos atrás. No lugar em que haviam essas plantações, a vegetação ainda é rasteira, com pequenas folhas.
FIGURA 7- Sopé do Morro (Floresta Ombrófila Densa)
Fonte: Arquivo pessoal
Do sopé ao cume, a extensão do deslizamento é de 500m, e a largura no sopé é de aproximadamente 30 metros. A inclinação mede entre 45º e 50º. Ao sopé do deslizamento, as coordenadas são S 26º 50’ 37.7” e W 49º 17’ 26” e a altitude de 77 metros (figuras 8 e 9).
FIGURA 8 – figura representando o evento no Morro Arapongas
FIGURA 9 – Visão geral do Morro Arapongas
Fonte: Arquivo pessoal
O solo, que devido ao deslizamento foi revirado, deixou à mostra grandes rochas que haviam no inferior. Muitas árvores foram derrubadas e deslizaram juntamente com a vegetação e a terra (Figura 10 e 11), formando uma extensa clareira de aproximadamente 150 metros no cume deixando o solo desprotegido. Como o evento ocorreu em novembro de 2008, o solo começou uma fase de recuperação, com o crescimento de uma vegetação rasteira.
FIGURA 10 – Rochas expostas FIGURA 11 – Árvores derrubadas
Apesar de já começar a crescer essa pequena vegetação, o deslizamento ainda não está estabilizado. Ainda há chances de novos deslocamentos de terra, porém pequenos, já que as árvores caídas ajudam a segurar a terra.
Atualmente não existem atividades antrópicas no local, porém, há algumas décadas atrás havia uma companhia madeireira que tinha retirado praticamente toda a madeira do morro. Com base nos depoimentos de moradores da vizinhança, descobriu-se que haviam duas pequenas casas no topo do morro, onde moravam duas famílias. Antes do deslizamento também havia uma lagoa (Figura 12) no sopé do morro e também passava um pequeno riacho de aproximadamente 1 metro de profundidade, este, teve que ser refeito artificialmente devido ao acúmulo de material no sopé (Figura 13).
FIGURA 12 – Riacho reconstruído
Fonte: Arquivo pessoal
Atualmente há apenas um pequeno escoamento de água. O solo onde passava a água, hoje é muito úmido, formando um tipo de banhado, pois armazena a água que escoa do morro. Na região do sopé do deslizamento havia também uma lagoa (artificial), que deixou de existir pelo mesmo motivo.
FIGURA 13 – Lagoa (no sopé) coberta de terra após evento
Fonte: Arquivo pessoal
Durante a visita fomos recebidos por um morador do local, este morador foi diretamente afetado pelo deslizamento e fez algumas contribuições para a pesquisa fornecendo informações sobre a região e sobre o dia do ocorrido (Foto 13)
Segundo M. P. ainda há uma pequena lago no topo do morro, esta se formou com restos de arvores que devido a sucessivas remessas de “barro” criou uma represa de cerca de dez metros de diâmetro, ele e sua esposa temem que hajam novos deslizamentos devido a isso. O morador comenta também que no dia 28 de novembro, cinco dias depois do marco da catástrofe, a Defesa Civil junto com alguns Geólogos fez a instalação de uma câmera e filmaram o deslizamento acontecendo. M. P. diz que um dia antes do deslizamento acontecer, ele viu descer material orgânico do morro. No dia seguinte, começou a ouvir uns “estalos” das árvores, ele viu o mato se abrindo e viu acontecer o deslizamento logo em seguida. Por fim disse que a defesa civil tentou achar uma maneira de abrir aquela represa, mas seria muito difícil, pois precisariam perfurar uma camada de 5 metros de terra e por isso não o fizeram.
O morador comenta que seus pais já moraram nessa casa (que fica no sopé do morro) e que seus avós moraram em cima do morro no lugar onde hoje existe a tal lagoa. Explica também que antigamente tinham plantações de milho no morro, ele relata que havia um rio que passava por ali antes dos deslizamentos e que hoje ele está quase sem água, ele acredita que a razão disso é que as árvores e a terra estão retendo essa água.
FIGURA 14 – A equipe e o morador (à direita)
Fonte: Arquivo pessoal
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este levantamento teve grande relevância para contribuir no aprimoramento de conhecimentos dos alunos envolvidos.
No ano de 2010 este projeto teve sua devida continuidade através de participação em evento municipal relacionado ao Meio Ambiente (ANEXO 1) e ao trabalho de recuperação de Mata ciliar já efetuado na cidade. A partir da parceria firmada com a Prefeitura Municipal de Timbó (Secretaria de Meio Ambiente), Imobiliária Alternativa, e moldada pelas diretrizes do Projeto Piava, os alunos do Cetisa realizaram a primeira etapa do Projeto de Recomposição de Mata Ciliar em Timbó.
Estiveram envolvidos cerca de 60 alunos das turmas do ensino médio e foram plantadas aproximadamente 150 mudas de espécies arbóreas e arbustivas em um córrego situado paralelamente à Rua Emma Klitzke que se encontra com a Rua Mal. Floriano Peixoto, próximo ao Complexo Esportivo da cidade.
De acordo com (GUERRA, 2009, p. 76.):
“As matas ciliares correspondem a uma das mais importantes partes integrantes de uma bacia hidrográfica. Elas auxiliam na redução do volume de água que adentra os principais rios, sendo assim, não os sobrecarrega quando preservada. Desta forma, sua recomposição, minimiza impactos em momentos críticos de pluviosidade alta em um curto espaço de tempo. Diminuindo a intensidade de enchentes e principalmente de enxurradas.”
Além destes trabalhos, atualmente os alunos do Cetisa estão participando de um projeto organizado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Timbó que tem por finalidade recuperar nascentes em alguns ribeirões da cidade.
A natureza por si só tem esses eventos como naturais assim podendo somente ser evitado que ocorram desastres, que foi o que ocorreu em diversos lugares do Vale do Itajaí em Novembro de 2008. A ocupação de áreas próximas a morros na região é bastante ocorrente assim como as de segundo leito de rio. Desordenadamente a malha urbana se expande para essas áreas instáveis, trazendo preocupação para a sociedade que ali reside, provavelmente se fossem cumpridos os Planos Diretores municipais e a legislação ambiental em todas as esferas, não haveriam tantos problemas relacionados aos deslizamentos de terra ou deslocamentos de massas.
7 REFERÊNCIAS
BRANDÃO. C. R. (org.). Pesquisa participante. 8. ed. São Paulo: Brasiliense, 1999.
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Fundamental e Média. Parâmetros curriculares nacionais: Geografia. Brasília: MEC – SEF, 1998.
GALLIANO, Guilherme. Método científico: teoria e prática. São Paulo: Círculo do livro, 1986.
HAIDT, R. C. C. Curso de didática geral. 7.ed. São Paulo: Ática, 2003.
KLEIN, Roberto M. Selowia: Anais botânticos do Herbário “Barbosa Rodrigues”. 31ª edição. Itajaí, 1979.
KOBIYAMA, M. et al. Prevenção de desastres naturais: conceitos básicos. Curitiba: Ed. Organic Trading, 2006. 109p
MINAYO, Maria Cecília S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec, 2001.
WEBER, Max. Ensaios de Sociologia. São Paulo: Zahar, 1963.
Texto sobre as características da bacia do rio Itajaí. COMITÊ ITAJAÍ. http://www.comiteitajai.org.br (Acesso em: 11/08/2009)
INMET (Instituto Nacional de Meteorologia): Normal climatológica. http://www.inmet.gov.br/html/informacoes/glossario/glossario.html#N (Acesso em: 22/07/2009)
Se alguém quiser versão completa deve entrar em contato pelo e-mail jkreutzfeld@hotmail.com
Este blog tem por finalidade ampliar a interatividade no processo ensino-aprendizagem, bem como disponibilizar informações referentes ao ensino de Geografia, Atualidades, Santa Catarina, dicas de vestibular e algumas variedades.
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