Falei essa semana nas aulas de Espaço Rural, enquanto grandes latifundiários reclamam de juros, os pequenos não recebem financiamento, nem seguro em caso de problemas como a seca no oeste de SC.
Jonathan Kreutzfeld
Pequenos produtores de Santa Catarina podem ficar sem compensação por prejuízos causados pela seca
Apesar de acionarem o seguro agrícola, muitos ficarão sem receber pelas perdas
- Darci Debona
Foto: Sirli Freitas / Agencia RBS
Muitos produtores afetados pela seca em Santa Catarina não receberão compensação pelo prejuízo
As perdas provocadas pela estiagem levaram 3,2 mil pequenos produtores de Santa Catarina a acionar o seguro agrícola do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro). Mas, o início das avaliações técnicas deixou claro que muitos não receberão nenhuma compensação pelo prejuízo.
O gerente regional da Epagri de Chapecó, Valdir Crestani, afirma que vários produtores estão retirando o pedido feito ao banco para não ter que pagar o laudo.
O problema está na interpretação das regras do Proagro. Para ser beneficiado, o pequeno produtor precisa comprovar quebra de 30% da safra. A questão é que o percentual se refere à receita financeira prevista e não à produção. Por isso, o que deve ser levado em conta é o valor estimado de produção declarado ao banco. Por exemplo, se o produtor projetou colher 100 sacas em uma área ao preço de R$ 22 a saca, então a previsão de renda por hectare é de R$ 2,2 mil.
Alisson Baldissera, do escritório da Epagri de Chapecó, conta o caso de um agricultor que esperava colher 210 sacas por hectare e perdeu 50% da sua produção. Ele fez um financiamento de R$ 7,4 mil e gastou mais R$ 3 mil do bolso para plantar uma área de cinco hectares. Mas, apesar do prejuízo provocado pela quebra, a receita bruta das 105 sacas a serem colhidas significam R$ 15 mil, valor suficiente para quitar o empréstimo.
– O problema no caso do seguro é que o preço do milho está alto – diz o engenheiro agrônomo Ivan Tormen.
Ele foi à propriedade de Marino Basso, no interior de Nova Itaberaba, cidade de 4,3 mil habitantes do extremo-oeste. O agricultor acredita ter perdido metade da lavoura de milho, para a qual financiou R$ 8 mil.
Chegando lá, Tormen constatou que o produtor havia cortado 1,5 hectare da lavoura para as vacas, o que não é permitido. Além disso, nos 3,5 hectares restantes, ele deveria colher pelo menos 300 sacas ou R$ 8,1 mil, montante superior ao empréstimo.
Mesmo ficando sem renda, o agricultor foi orientado a não encaminhar o pedido de Proagro, porque ele seria negado e ainda teria que bancar o laudo, que custa R$ 190.
Basso, a exemplo de muitos agricultores do Oeste do Estado, perdeu a renda do milho e 30% da receita do leite. Não receberá o prêmio do Proagro, mas ficará em dia com o banco.
DIÁRIO CATARINENSE
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