A economia europeia está
em crise desde 2008, e vem piorando principalmente desde 2011, agora com
destaque negativo para 2012. Além dos famosos PIIGS que estão excessivamente
endividados. A economia sólida de países como Alemanha, Inglaterra e França
também começam a sofrer maiores problemas nesta fase da crise. Fora da Europa, a
economia japonesa também merece atenção devido à recessão econômica.
Enquanto diversas partes
do planeta apresentam problemas, a China não para de crescer de forma
assustadora e adquirindo cada vez mais espaço dentro da América, África e mais
recentemente de forma intensa também na Europa.
Jonathan Kreutzfeld
A economia da zona euro
voltou a encolher no terceiro trimestre de 2012, com o Produto Interno Bruto
(PIB) caindo 0,1% em relação aos três meses anteriores, entrando em recessão
técnica, segundo dados da agência oficial de estatísticas da União Europeia
(UE), Eurostat.
Destaque negativo para a
Alemanha onde o seu Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 0,5% no quarto
trimestre de 2012, pior performance trimestral desde que a Alemanha caiu em
recessão durante a crise financeira global de 2008/09, e apenas a segunda
contração desde que essa fase acabou.
O governo deve publicar
uma estimativa para o crescimento de 2013 em breve. Uma autoridade do
Ministério da Economia antecipou que a previsão será de expansão de 0,4% este
ano, menos da metade da atual estimativa do governo de 1%. Até agora, o
desemprego permanece baixo e os salários devem subir de novo neste ano. Mas se
as famílias alemãs sentirem as adversidades da crise do euro em ano eleitoral,
as esperanças da chanceler Angela Merkel de um terceiro mandato podem ser
afetadas.
A China avança sobre a economia
da Europa
De
vinícolas Bordeaux a fábricas na Alemanha, do porto de Pireu, na Grécia, a
empresas energéticas em Portugal, a China expande sua influência e seu poder na
Europa
A
China não está mesmo para brincadeiras em matéria de ambição econômica – e, em
decorrência, política.
Montada
em seus quase 3,5 trilhões de dólares em reservas, com meio trilhão de dólares
em investimentos geridos por seu fundo soberano, o China Investment Corporation
– do qual 60% dos recursos estão aplicados em empresas e produtos financeiros
dos Estados Unidos –, com acordos comerciais bilaterais se espalhando pela Ásia
e a América Latina, com milhões de hectares de terras cultiváveis adquiridos na
África (tema de futuro post), tendo aportado recentemente 43 bilhões de dólares
ao FMI e emprestando ao continente mais dinheiro do que o Banco Mundial, o
gigante chinês agora parece querer devorar a Europa.
Instalações
da gigante espanhola Enagás em Huelva: a China quer controlar (Foto: EFE)
A
mostra mais recente do interesse chinês está ocorrendo na Epanha. Dois ativos
tidos como “inegociáveis” até antes de o país mergulhar na crise econômica em
que se encontra são, agora, cobiçados pela China: o controle da Rede Eléctrica
de España (REE) e da Enegás, as duas empresas controladas pelo governo
responsáveis pelo transporte de energia na quinta maior economia da Europa.
O
ministro da Indústria espanhol, José Manuel Soria, resiste, mas não se sabe até
quando. Sua posição é por ora compartilhada por Ramón Aguirre, o presidente da
Sociedad Estatal de Participaciones Industriales (Sepi), espécie de holding
encarregada de manter o controle acionário do governo sobre uma série de
empresas públicas.
A
hidrelétrica de Alto Lindoso, em Portugal: capital chinês controla a ex-estatal
de energia do combalido país (Foto: engenium.net)
O
Estado espanhol, com 20% do capital mas maioria das ações com direito a voto,
detém o controle da REE, e sua participação tem valor em bolsa de 1 bilhão de
euros (2,5 bilhões de reais).
O
grupo estatal chinês State Grid, porém, por tratar-se de adquirir o controle,
teria disposição de colocar muito mais dinheiro sobre a mesa, sobretudo depois
de haver comprado ao igualmente combalido Portugal, por 600 milhões de euros
(1,5 bilhão de reais), o direito de mandar na ex-estatal Redes Energéticas
Nacionais (REN).
Os
chineses consideram que dispor dessa infraestrutura em toda a Península Ibérica
é mais rentável e estrategicamente mais favorável, e já possuem, também, parte
do capital da Energias de Portugal (empresa geradora).
Até
2020, até 1 trilhão de dólares de investimentos chineses
A
mesma State Grid chinesa deseja controlar a Enagás, um colosso empresarial que
conta com 10 mil quilômetros de gasodutos ligando centenas de diferentes
cidades da Espanha, três fábricas de regasificação (que transformam o gás
liquefeito), dois grandes depósitos subterrâneos e, entre outros interesses,
detém até um terminal de embarque e desembarque de gás no México.
peculiaridades da legislação espanhola, o governo detém o mando acionário tendo
apenas 5% do capital, que vale algo como 200 milhões de euros (500 milhões de
reais).
A
investida chinesa na Europa une a vastidão de seus recursos com a desesperada
necessidade de liquidez dos países europeus. Para os chineses, à diversificação
de seus investimentos no exterior se soma, também, o acesso a tecnologias de
que precisam.
Segundo
cálculos dos jornalistas espanhóis Heriberto Araújo e Juan Pablo Cardenal,
autores do livro La Silenciosa Conquista China (“A silenciosa
conquista chinesa”, Editora Crítica, Barcelona, 2011, 400 páginas), os
investimentos da China na Europa chegaram a 36,7 bilhões de dólares (algo como
77 bilhões de reais) em 2010 e subiram no ano passado para 52,1 bilhões (109,4
bilhões de reais). “Estas cifras poderiam ser rapidamente superadas se se
contam os mais de 30 bilhões de dólares que Pequim injetou em seu fundo
soberano exclusivamente para aquisições no Velho Continente”, escreveram eles
em recente artigo. E devem alcançar, pasmem!, 1 trilhão de dólares em 2020.
O
porto de Pireu, anexo a Atenas, o mais importante da Grécia: chineses já têm a
concessão (Foto: picturepush.com)
A
diversificação é grande – seus interesses vão do setor vinícola francês (vinho
Bordeaux, para ser mais exato) à gestão do porto de Pireu, o mais importante da
Grécia, cuja concessão obtiveram por 35 anos, passando por empresas alemãs que
dispõem de tecnologia avançada.
Foi
o caso da compra, pela chinesa Sany (como todas as grandes companhias,
controlada de alguma forma pelo Estado), da sua concorrente alemã Putzmeister,
o que a transformará em líder mundial na fabricação de máquinas de mistura e
bombeamento de concreto.
Comprando
a Putzsmeister alemã (na foto, uma das fábricas), os chineses levaram sua
principal concorrente mundial na fabricação de máquinas de mistura e
bombeamento de concreto (Foto: pmsolid.com)
O
avanço chinês não se dá, porém, sem preocupação. Vastos setores europeus,
embora bendigam a vinda de investimentos, preocupam-se com a influência que a
China pretende obviamente obter sobre a Europa com seu poderio econômico –
sendo, como é, uma ditadura que não respeita os direitos humanos, adota
práticas comerciais predatórias e, por meio de empresas que recebem
financiamentos e subsídios estatais de todo tipo, tendem a concorrer
deslealmente com empresas europeias no futuro.
Nesse
sentido, dirigentes políticos, analistas e outros meios já lamentam que a
Europa venha se calando em relação ao aumento da repressão chinesa aos
dissidentes, diferentemente do que ocorre com os Estados Unidos, que dependem
cada vez mais da China no comércio e na colocação de seus títulos públicos, mas
não deixaram, por exemplo, de conceder asilo ao advogado e militante dos
direitos humanos Chen Guangcheng.
Fonte: