O que é Black Bloc

Caracterização do
grupo
As
roupas e máscaras pretas - que dão nome à tática e visam garantir o anonimato
dos indivíduos participantes, a igualdade entre eles e caracterizando-os, em
conjunto, como um único e imenso "bloco".
Como atuam

Cronologia de
atuações no mundo
Inicialmente
as grandes redes de comunicação de massa difundiram o entendimento de que black
bloc seria uma organização internacional. Mais recentemente, ficou claro que
black bloc não é uma organização ou grupo mas uma tática utilizada por vários
indivíduos anticapitalistas, que não mantêm muitas conexões entre si. Na mesma
manifestação, podem formar-se diversos blocos negros, com diferentes objetivos
e ações. Esses blocos podem até mesmo entrar em confronto entre si, a exemplo
do que ocorreu nas protestos contra o G8, em Gênova (2001) e Montebello
(Quebec), em 2007, durante a Cúpula de Líderes da América do Norte (também
conhecida como Three Amigos Summit ou "Cúpula dos Três Amigos", a
saber: Estados Unidos, México e Canadá), quando alguns policiais se infiltraram
no black bloc. A polícia negou que os agentes tivessem atuado como
provocadores, mas um dos policiais infiltrados foi filmado com uma grande pedra
na mão.
Como se compõem os
grupos
O
black bloc geralmente é formado por anarquistas e integrantes de movimentos
afins (anticapitalismo e antiglobalização), que se juntam para determinada ação
de protesto. O objetivo pode variar em cada caso, mas, em termos gerais, trata-se
de expressar solidariedade diante da ação repressiva/opressiva do Estado e de
veicular uma crítica, segundo a perspectiva anarquista, acerca do objeto do
protesto no momento.
Alguns
também consideram um equívoco considerar o bloc como violento. Para John Zerzan
(teórico anarquista considerado como uma espécie de ideólogo dos movimentos de
multidão) no documentário Surplus, não se pode falar em violência contra
objetos: não se violenta uma mesa, cadeira ou vidraça. Segundo Zerzan, a
violência só pode ser exercida contra outros seres vivos, coisa que não
acontece com o black bloc. "Veteranos" do bloco confirmam essa visão:
"Não somos violentos, jamais atacamos pessoas (...) Não é violência
destruir os símbolos do capitalismo selvagem, da exploração, da
globalização". Esses símbolos seriam lojas, caixas automáticos, carros de
luxo. Os blocs nunca andam armados. Objetos simples, muitas vezes encontrados
pelo caminho (pedras, extintores de incêndio, placas de trânsito, vergalhões de
aço encontrados em canteiros de obras), são transformados em armas
improvisadas. O importante, para o sucesso da tática, é ser imprevisível,
incontrolável e visível apenas no breve momento da ação, graças à inconfundível
máscara e às roupas pretas.
A história do Black
Bloc

A
mesma denominação foi posteriormente utilizada em inglês - Black Bloc - nos
Estados Unidos, durante as manifestações contra o Pentágono (1988) e durante os
protestos contra a Primeira Guerra do Golfo (1991). Outras aparições
significativas dos black bloc ocorreram em Seattle (30 de novembro a 4 de
dezembro de 1999) durante as manifestações contra a conferência de ministros
dos países membros da OMC, em Praga (26 a 28 de setembro de 1999), quando a
cidade foi ocupada durante a reunião dos países membros do Fundo Monetário
Internacional e do Banco Mundial. O black bloc também apareceu em Gotemburgo
(14 e 15 de junho de 2001) nas manifestações contra o Conselho Europeu. Em
Gênova (20 de julho de 2001), durante a cúpula do G8, as manifestações
destruíram partes da capital da Ligúria. Na época, houve suspeitas de que
provocadores estivessem infiltrados no black bloc, atuando em cumplicidade com
a polícia. Mais tarde, ficou claro que havia policiais infiltrados no
"bloco". Além disso, os black bloc foram criticados por outros
ativistas, por provocarem uma violenta reação da polícia, o que, além de
inviabilizar as manifestações pacíficas de diferentes organizações, resultou na
morte do jovem Carlo Giuliani, por um policial.
Em
20 de abril de 2001, durante a Cúpula das Américas, o black bloc derrubou parte
da cerca metálica de 3,8 quilômetros (chamada o muro da vergonha pelos
manifestantes) que protegia o local da reunião.
Em
2009, a City, o centro financeiro de Londres, foi transformada em praça de
guerra durante os protestos contra a reunião do G-20. A tropa de choque tentou
dispersar os manifestantes, e um homem acabou morto. Em todas as ocasiões, o
padrão das ações do black bloc basicamente se repete. Na Rio de Janeiro e na
São Paulo, em 2013, não foi diferente: enfrentaram a polícia com paus e pedras,
quebraram vitrines de lojas e bancos (que consideram símbolos do capitalismo),
fizeram barricadas incendiando lixeiras, destruíram veículos (principalmente
carros da polícia).
Em
alguns casos, porém, a reação policial às ações do black bloc pode ser muito
mais violenta. Em Gênova (2001), depois de atirar e passar duas vezes por cima
do corpo de Carlo Giuliani com um carro, a polícia realizou, na noite de 20
para 21 de julho, um ataque ao complexo de escolas A. Diaz. No local,
funcionavam a coordenação do Genoa Social Forum ("Fórum Social de
Gênova") e a sala de imprensa da Indymedia, além de um dormitório
improvisado. O motivo da invasão teria sido a suspeita de que lá haveria
adeptos black bloc. Na sequência, os policiais passaram a espancar
indistintamente todas as pessoas se encontravam no prédio. Ao final, 61 pessoas
foram feridas e levadas a hospitais, três das quais em estado grave e uma (o
jornalista britânico Mark Covell) em estado de coma; 93 foram presas e, dentro
das instalações da polícia, continuaram a maus-tratos. Relatos publicados pela
imprensa da época descreveram o episódio como um massacre. Posteriormente, 125
policiais foram indiciados pelas agressões. A invasão da escola foi tema do
filme Diaz - Don't Clean Up This Blood (em português, Diaz
- Não limpe esse sangue), de Daniele Vicari.
O Surgimento do Black
Bloc no Brasil
Durante o mês de junho as manifestações massivas
contra o aumento das tarifas fizeram emergir novas dinâmicas no cenário
político brasileiro, uma renovação da organização social que questiona os
limites legais do estado e situação atual das coisas. A inovação e o choque
desse outono de 2013 aconteceram porque a desobediência civil - tática
histórica de movimentos contestatórios - teve uma aceitação popular jamais
vista no Brasil desde a proclamação da república (sempre é bom lembrar que a
proclamação da república foi uma quebra da institucionalidade).
Surgiram alternativas de
luta, cada qual com suas táticas. A ação direta não violenta das multidões veio
em Porto Alegre no levante contra o aumento das tarifas, reforçado pelo
Movimento Passe Livre (MPL) de São Paulo. Foram bloqueios de vias, abertura de catracas,
escrachos (denúncia públicas de pessoas acusadas de violações de direitos, como
ex-agentes da ditadura) e ocupações de prédios públicos.
São ações questionadoras
da ordem que, em muitas ocasiões, despertam resposta violenta da polícia e
tentativas de criminalização por parte da grande mídia. Ao mesmo tempo, essas
ações se colocam diretamente contra o Estado e os efeitos da exclusão
econômica, partindo sem intermediários para a disputa do modelo de sociedade.
Black Bloc. Paralelo a essa estratégia - e independente do MPL e congêneres - se
manifestou nesse período a tática do Black Bloc, em grande parte como resposta
à violência policial. O Black Bloc é composto por pequenos grupos de afinidade,
muitas vezes feitos na hora, que atuam de forma independente dentro das
manifestações. Mas, ao contrário do MPL, o Black Bloc não é uma organização ou
coletivo e sim uma ideia, uma tática de autodefesa contra a violência policial,
além de forma de protesto estética baseada na depredação dos símbolos do estado
e do capitalismo. A dinâmica Black Bloc lembra mais uma rede descentralizada
como o Anonymous do que um movimento orgânico e coeso.
Utilizada primeiramente
pelos movimentos autonomistas da Itália e da Alemanha, é muito presente na
Europa e EUA, e mais recentemente nos países árabes, mas nunca havia encontrado
condições para se desenvolver em solo brasileiro.
O primeiro sinal de
propaganda Black Bloc no país ocorreu no início dos anos 2000, durante o
surgimento do movimento anticapitalista global (antiglobalização), mas foi
descartado pelos ativistas autônomos da época por avaliarem a ação direta não
violenta, manifestada principalmente nos protestos contra a Área de Livre
Comércio das Américas (ALCA), estrategicamente melhor para o cenário
brasileiro. Anos depois essa opção pela ação direta não violenta combinada com
trabalho de base, organização horizontal e uso intensivo da internet
influenciou a criação do MPL e outros movimentos autônomos, como a Bicicletada,
o Centro de Mídia Independente e o Rizoma de Rádios Livres.
No entanto, a ideia do
Black Bloc nunca morreu, manifestando-se em escala menor e de forma bem isolada
em manifestações anteriores. Nada muito significativo ou mesmo duradouro, sendo
impulsionado por elementos anônimos que não deram continuidade à sua atuação.
Mas a ideia estava lá, sempre lá, e na primeira oportunidade se manifestava em
algum canto do País, geralmente como recurso para a autodefesa.
Violência policial e
autodefesa. Em junho o cenário de
manifestações criou um ambiente favorável para o florescimento do Black Bloc
brasileiro na sua forma de autodefesa. Em diversas capitais as mobilizações
extrapolaram a capacidade organizativa dos grupos e movimentos que as desencadearam,
criando movimentos multicêntricos onde cabem diversas estratégias, táticas e
narrativas mobilizadoras. Como na maioria das cidades esse crescimento veio
pela solidariedade popular pós-repressão, é coerente afirmar que a violência
policial foi o fermento da indignação que levou a população às ruas no auge das
jornadas de junho; e serviu como justificativa moral, segundo seus defensores,
para a disseminação descentralizada da tática Black Bloc.
Reações de autodefesa
começaram a surgir no meio da massa de manifestantes, de forma cada vez mais
organizada. No Rio de Janeiro, devido à intensidade da repressão e às condições
geográficas e sociais da cidade, que aproximam bairro e favela, jovem de classe
média e jovem da periferia, a intensidade da repressão policial e da resposta
dos manifestantes foi maior.
Apoio aos irmãos
cariocas. Recentemente, na
sexta-feira 26 de julho, houve um ato na avenida Paulista denominado "Ato
em apoio aos irmãos cariocas versão sem pelegos". Esse ato pode ser
considerado um ponto de virada na narrativa do Black Bloc brasileiro. Pela
primeira vez a ideia e a tática se manifestaram em sua plenitude na forma da
manifestação direcionada para a destruição de propriedades privadas e públicas.
Cerca de 300 pessoas percorreram o trajeto do Masp até a 23 de Maio destruindo
bancos, bases policiais e veículos da mídia hegemônica. A polícia acompanhou a
movimentação de longe, alegando esperar o reforço da Força Tática para iniciar
a dispersão do ato.
Na terça-feira 30, o ato
chamado pelo Facebook, reuniu manifestantes contrários ao governador paulista,
Geraldo Alckmin, e ao governo de Sérgio Cabral, no Rio de Janeiro. Alguns
manifestantes picharam paredes, quebraram o vidro de uma concessionária e de
agências bancárias na região. A Força Tática e a tropa de Choque da Polícia
Militar seguiram atrás dos manifestantes.
A retomada da polícia já
havia sido prometida na página da Secretaria de Segurança Pública na internet,
com o órgão dizendo que a PM agiria “com a energia necessária para evitar atos criminosos,”
após agências bancárias e bases policiais terem sido danificadas na avenida
Paulista na última sexta-feira. Com a ação de 220 oficiais, segundo a
própria corporação, foram detidos 20 manifestantes. Destes, cinco ainda
continuam presos por suspeita de formação de quadrilha, resistência à prisão,
desacato e dano ao patrimônio público.
Os protestos recentes e
especificamente as manifestações Black Bloc têm sido usados como pretexto para
pautar soluções repressoras. A mídia tem feito o trabalho de recortar as
imagens de depredação e confronto sem o mínimo de contextualização, imprimindo
a narrativa que melhor lhe convém, e muitas vezes criminalizando pessoas não
envolvidas nos confrontos. Do outro lado, iniciativas midialivristas e os
demais veículos de esquerda têm trazido outros pontos de vista sobre a questão,
forçando uma pequena mudança na linha editorial dos meios hegemônicos como
demonstrou o caso do ativista carioca Bruno, incriminado injustamente de ter
atirado molotovs na polícia.
Vale nos questionarmos
como o Black Bloc vai impactar na disputa de imaginário da sociedade e como o
estado e os demais movimentos vão lidar com essa novidade política. Com a
expansão dessa tática será possível realizar novas ações diretas não violentas
de multidão, convocadas pela internet, sem essas terminarem, necessariamente,
em confronto físico?
Como diferenciar o Black
Bloc do agente provocador infiltrado, que está na manifestação apenas para
criar fatos que justifiquem a repressão? A suspeita sobre os P2 levanta outra
questão: até que ponto a violência por parte dos manifestantes serve aos
interesses de determinado governo?
Cada caso é um caso, e só
nos resta avaliar cada conjuntura com lucidez, a fim de que não sejamos levados
a tomar opinião direcionados por interesses ocultos. Formação política, clareza
dos objetivos e capacidade de análise de conjuntura serão dos fatores
determinantes para o futuro da ação direta urbana no Brasil, seja ela violenta
ou não violenta.
Como o Black Bloc matou as manifestações
Com
desrespeito às instituições, intolerância e práticas violentas, mascarados
expulsaram o cidadão comum dos protestos. Agora, tentam justificar a morte de
um cinegrafista citando “outras mortes da PM”. Agem, assim, como quem tolera a
ação de justiceiros
Joao Marcello Erthal
Bomba atinge a cabeça de
cinegrafista da TV Bandeirantes que gravava cenas do protesto no Rio de Janeiro (Agência
O Globo)
Os mascarados consideram
que todo homem fardado deve levar bomba. Uma delas acertou Santiago Andrade
Em um vídeo
de apoio às manifestações, publicado em outubro do ano passado, a atriz
Camila Pitanga lançava a pergunta: “Vai precisar ter morte? Porrada já está
rolando”, alertava, seguida de uma sequência de depoimento de famosos. O
testemunho de Camila, assim como todas as críticas “à violência” nas
manifestações, tratava a truculência como uma exclusividade das forças
policiais, e culpava “a mídia” por acobertar esses abusos. Brasil afora, houve
e há excessos da PM em situações muito além dos protestos – e é “a mídia” quem
os apresenta. A morte pela qual ansiavam os mascarados veio na última
quinta-feira, e, mais uma vez, graças às câmeras de fotógrafos e cinegrafistas
“da mídia”, soube-se que os assassinos eram mascarados – um desastre para quem
torcia por um assassinato com assinatura da polícia.
A página do grupo Black
Bloc no Facebook foi invadida por uma onda comentários chamando os mascarados
de “assassinos”. Os administradores e apoiadores da “tática” rejeitam o rótulo,
ignoram o fato de Andrade ter sido morto por dois dos seus e chamam os críticos
de alienados. Dizem que são gente que “não quer mudar” e que não enxerga “a
luta por mudança”. Na tarde desta terça-feira, Elisa Quadros, a agora famosa
“Sininho”, foi hostilizada por
passageiros de um ônibus. O motorista do coletivo recusou-se a parar
para que a cineasta embarcasse.
Os radicais mascarados
repetem, assim, a cegueira e o desprezo pela divergência de opiniões que levam
à rua e às redes sociais desde junho. O Black Bloc apropriou-se de tal forma
dos atos públicos que afastou das manifestações o cidadão comum, verdadeira
força de um movimento popular. Atraiu uma antipatia que prejudica, hoje, as
causas merecedoras da indignação dos cidadãos – entre elas, obviamente, a má
qualidade dos transportes, da saúde, da polícia e da política. Do
"milhão", as passeatas recuaram para os milhares e, finalmente, as
centenas, como nas últimas duas ocasiões.
Em junho, o país
conheceu, quase simultaneamente aos black blocs, a "mídia ninja", um
grupo que, com uso de celulares, câmeras e computadores, transmitia em tempo
real os protestos, os confrontos e o que quisessem – mas só o que quisessem.
Ninja é sigla de “narrativas independentes, jornalismo e ação”. Ironicamente, não
havia narrativa: o que se via era uma transmissão direcionada, com uma locução
que, independentemente do que era mostrado, reafirmava bordões do radicalismo e
culpava a polícia por todo tumulto. Não importa se um policial ardia nas chamas
de um coquetel molotov. O culpado era um PM, um infiltrado.
Os black blocs receberam
apoio de instituições. Na mais grotesca manifestação de apoio, o Sindicato
Estadual dos Profissionais de Educação do Rio (Sepe), em meio a uma greve
altamente contaminada por interesses políticos, adotou os mascarados
como sua força de defesa "contra o abuso policial". O mesmo
sindicato considerou "pacífica" uma manifestação que teve um baleado
e 190 detidos. O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), que tem em seu
gabinete um assessor que comanda uma ONG que se dedica a prestar assistência
jurídica a manifestantes detidos - e não importa o que tenham feito, de
vandalismo a ataques ao patrimônio público e privado - está agora às voltas
para explicar sua relação com os mascarados. Ele próprio já reconheceu: as
manifestações estão "fora de controle".
Antes de Santiago
Andrade, a tal narrativa – que, caso fosse realmente nova e interessante,
poderia envolver a população – foi assassinada pelos black blocs. O roteiro dos
protestos passou a ser o mesmo, sempre: um movimento chamado de “pacífico” que,
em um determinado momento, abria fileiras para um bando de mascarados armados
com bombas, coquetéis molotov, pedras e paus. Vinham, é óbvio, as bombas de
efeito moral da PM, e tinha-se a imagem de guerrilha urbana. Em segundos,
ninguém se lembrava mais da causa do protesto, e o que se tinha é a mesma
“narrativa”: pancadaria, vidros quebrados, lojas saqueadas e clara intenção
golpista.
“Não vai ter copa”, “Fora
Cabral”, “PM assassina”, “Cadê Amarildo?”. Em cada uma das causas há,
indiscutivelmente, razões reais para a indignação. Os projetos olímpicos são
caros e precisam de fiscalização. O governador Sérgio Cabral bateu recorde de
impopularidade e, no meio dos protestos, VEJA revelou seu hábito de se deslocar
a lazer nas aeronaves do governo do Estado. A PM de fato precisa se aprimorar e
expurgar os maus policiais e os vícios de corrupção. O pedreiro Amarildo de
Souza foi vítima de uma série de práticas abjetas da PM, numa favela ocupada
pela ‘nova polícia’ do secretário José Mariano Beltrame, na era das Unidades de
Polícia Pacificadora (UPPs).
Nenhum dos caminhos dos
protestos, no entanto, escolheu uma rota que passe pelas instituições
competentes, pelos instrumentos do jogo democrático. Os mascarados querem
suspender a Copa "no grito". Querem depor Sérgio Cabral, num golpe.
Consideram que todo homem fardado deve levar bomba. Uma delas acertou Santiago
Andrade.
É possível – e provável –
que o morteiro não tivesse o cinegrafista como alvo. Mas outros cinegrafistas,
fotógrafos e repórteres foram hostilizados em muitos momentos ao longo das
manifestações. Equipes de VEJA foram xingadas e sofreram intimidação; e, na
segunda-feira, pouco depois de ser diagnosticada a morte cerebral de Andrade,
uma equipe da TV Globo foi hostilizada em uma manifestação no Centro.
Não há, em nenhuma
página, discurso ou mesmo na “nota de condolências” da página “Black Bloc RJ”,
uma referência ao que matou o cinegrafista. Para os mascarados, parece ter sido
obra do destino. Eles – e, por incrível que pareça, também o Sindicato dos
Jornalistas Profissionais do Rio – falam da tragédia como um erro “das empresas
de comunicação”, ou culpam o Estado. Também rebatem a revolta de quem viu
Andrade ser atingido pelo morteiro, indo ao chão desacordado, com uma lembrança
de “tudo que a PM já fez”.
Nesta forma de justificar
o injustificável está oculto mais um perigo do que pretendem os mascarados.
Quando lembram “outras mortes” para atenuar o que fizeram com Santiago Andrade,
os black blocs agem como quem tolerou a ação de justiceiros e a cena de um
garoto de 15 anos amarrado pelo pescoço a um poste, com uma tranca de bicicleta
– preso porque “é bandido”.
Veja também um resumo sobre as manifestações de 2013 no Brasil.
Jonathan Kreutzfeld
Fonte:
Canais, Vídeos e Sites
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