quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Série: Crescimento dos BRICS - ÁFRICA DO SUL

Autores: Flávio Vilela Vieira[1] & Michele Polline Veríssimo[2]


África do Sul

A África do Sul, maior potência do continente africano vem, recentemente, ganhando destaque no cenário econômico internacional, tendo em vista a obtenção de uma taxa de crescimento do PIB ascendente nos anos 2000 (média de 4% entre 2000 e 2005). Rodrik (2006b) analisa os dilemas enfrentados pela economia da África do Sul, ressaltando que, apesar das grandes transformações econômicas ocorridas no período após a transição democrática em 1994, o desempenho da economia em termos de crescimento e de redução do nível de desemprego tem estado muito abaixo de outras economias emergentes, como as da China e Índia. O autor sugere que uma das razões para os elevados níveis de desemprego está associada aos elevados níveis salariais. Adicionalmente, tanto o alto desemprego como as taxas de crescimento moderadas estão associadas à redução do chamado setor não mineral da economia nos anos 1990 e à fragilidade do setor manufatureiro voltado para as exportações, que tem vivenciado uma redução de lucratividade, fator que compromete a geração de empregos e o estímulo ao crescimento da economia.

Banerjee et al. (2007), ao analisar as razões associadas aos elevados níveis de desemprego na África do Sul, desde meados dos anos 1990, investiga se tal elevação se deve às mudanças estruturais na economia ou aos choques negativos temporários. Os resultados do modelo logit indicam que a ocorrência de choques negativos tem sido responsável pela alteração da taxa de desemprego de equilíbrio da economia sul-africana. Outro aspecto importante analisado pela literatura sobre o desenvolvimento econômico da África do Sul diz respeito ao comportamento da taxa de câmbio e, nesse sentido, Frankel (2007) desenvolve uma investigação econométrica para o período de 1984- 2006. Os resultados indicam que os fundamentos econômicos são importantes para a determinação da taxa de câmbio
e que o comportamento do índice real de preços das commodities do setor mineral da África do Sul tem impacto sobre a renda real e a taxa de câmbio associado à apreciação cambial real no período mais recente (2003 a 2006). O que ocorre é que a política de altas taxas de juros domésticas aumenta a demanda internacional pela moeda local (rand) e aprecia a taxa de câmbio, controlando a análise econométrica para fatores como inflação esperada e risco-país.

Edwards e Lawrence (2006) analisam a política de comércio exterior da África do Sul, ressaltando que, no período do apartheid, tal política foi marcada por um elevado nível de protecionismo, limitando o desempenho das exportações e importações. Nesse contexto, a economia sul-africana passou a depender de choques internacionais favoráveis nos preços das commodities; caso contrário, a economia sofreria sérias restrições externas. Recentemente, tendo por base vantagens de dotação de recursos naturais, o país desenvolveu uma estratégia de competitividade para produtos primários e manufaturados com algum grau de intensidade de capital. Esse desenvolvimento pode ser explicado em função do padrão de proteção tarifária que não favorece a exportação de bens manufaturados que não sejam commodities, limitando, assim, o crescimento e a diversificação das exportações. Períodos marcados por baixa demanda internacional por commodities e por queda no preço do ouro no mercado internacional acabam refletindo um baixo crescimento econômico. O processo de liberalização comercial, ocorrido a partir de meados dos anos 1990, além de exercer um impacto favorável em termos de redução de custos dos insumos, tem mostrado efeitos relevantes ao estimular o setor exportador e mesmo em relação à diversificação da pauta.




[1] Professor do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisador do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e Fapemig (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais). Pós-Doutor – Bolsa Capes (University of Glasgow, UK).

[2] Professora do Instituto de Economia da UFU. Doutoranda em Economia (IE-UFU), Uberlândia, MG, Brasil.

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