terça-feira, 23 de agosto de 2016

O Custo das Olimpíadas do Rio 2016

Por Carla Mereles

Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), colunista do Uma Boa Dose e assessora de conteúdo do Politize!


Título original: 5 polêmicas sobre as Olimpíadas Rio 2016

As Olimpíadas Rio 2016 envolveram algumas polêmicas, como as desapropriações de casas para a construção de estádios ou alargamento de vias, as contas “maquiadas” e questionamentos sobre o processo licitatório. Mas agora que elas estão ocorrendo – e aparentemente estando tudo normal -, algumas dúvidas continuam. 

O Politize! vai responder algumas questões que os brasileiros – e também estrangeiros – fizeram desde que o Rio foi eleito a sede dos Jogos.

1. Afinal, quanto dinheiro público foi injetado nas Olimpíadas Rio 2016?

Existe uma polêmica em todos os Jogos Olímpicos sobre o valor gasto para realizá-la, uma vez que a infraestrutura de arenas, estádios, complexos esportivos, hospedagem, tudo será construído do zero. Sabe-se que os gastos não são poucos. Porém, desde que o Brasil foi escolhido como país para sediar o evento, os brasileiros se perguntam: quanto do nosso dinheiro foi usado para viabilizar as Olimpíadas?

Basicamente, de acordo com o Comitê Olímpico Internacional, 40% do gasto total será coberto com dinheiro público – incluindo o Governo Federal, Estadual ou Municipal – e 60% do investimento provém da iniciativa privada.

Como foram R$ 39,1 bi investidos nas Olimpíadas Rio 2016, os cofres públicos devem desembolsar R$ 15,65 bilhões. Porém, às vezes a conta não bate, nem para mais nem para menos. Não há um levantamento que explique detalhadamente a quantidade gasta, nem em quais setores.

No orçamento apresentado em agosto de 2015, não estavam inclusos na conta R$ 62 milhões que a Prefeitura do Rio iria gastar com móveis para os apartamentos das Vilas Olímpicas, os R$ 14 milhões para as obras de saneamento da Marina da Glória, ou os R$ 100 milhões que o Governo Federal anunciou pretender gastar na compra bolas, redes, obstáculos e barcos. As contas foram, portanto, maquiadas. Foram omitidos gastos vitais para a realização dos Jogos.

2. Quanto custou, de fato, organizar as Olimpíadas? E para quem?

A CANDIDATURA

Os gastos para a realização de Jogos Olímpicos começam muito antes de sequer as obras começarem. Começa pela candidatura do país que será a Sede das Olimpíadas. Portanto, desde que o Rio de Janeiro foi eleito para sediar as Olimpíadas, em 2009, o governo gastou bilhões de reais para publicizar, promover e divulgar a Rio 2016. O custo na candidatura foi de R$ 28,8 bilhões, em valores da época, hoje corrigido para R$ 44,39 bilhões.

O Ministério do Esporte teve um investimento de R$ 31.547.250,00. O dinheiro foi utilizado em publicidade – quase R$ 6 milhões de reais -, contratos para realização de capacitação e planos estratégicos em ações do Governo Federal – totalizando quase R$ 13 milhões -, e até consultoria técnica na realização de eventos esportivos – em que somam aproximadamente R$ 12 milhões.

Já o Comitê Olímpico Brasileiro teve gastos com diferentes finalidades, totalizando R$ 56.785.783,41 a menos nos cofres públicos. Os valores mais expressivos são: mais de R$ 7 bilhões com prestação de serviços e aquisição de materiais para organização da Visita de Avaliação Técnica do COI ao Rio de Janeiro, de abril a maio de 2009; quase R$ 4 milhões com custo de despesas dos responsáveis pela elaboração do Dossiê da Candidatura Olímpica. Há muitos outros gastos que podem ser verificados no Portal da Transparência.

O EVENTO

Em agosto de 2015, o gasto total com as Olimpíadas do Rio de Janeiro foi estimado em R$ 38,7 bilhões de reais. Esse valor foi inflacionado em R$ 400 milhões de reais, chegando a R$ 39,1 bilhões em janeiro de 2016.

O Comitê Olímpico Internacional (COI) é uma organização privada e o organizador das Olimpíadas. Tem sua receita advinda de patrocinadores e apoiadores. É responsável pelos gastos operacionais do evento e da competição. Os gastos incluem as refeições dos atletas, uniformes, hospedagem, transporte das equipes e material esportivo – que, na verdade, foi assumido pelo Governo Federal. O orçamento do COI é de R$ 7,4 bilhões.

Já a matriz de responsabilidades é a verba destinada diretamente realização dos Jogos Olímpicos, ou seja, para as próprias instalações olímpicas. Foram gastos R$ 6, 67 bilhões com essa infraestrutura até então, sendo R$ 2,67 bilhões de dinheiro público e R$ 4,2 bilhões de dinheiro da iniciativa privada, que investiu nas obras por meio das Parcerias Público-Privadas.

3. “Legado das Olimpíadas”: o que é, quanto foi investido e qual a utilidade dessas obras?

Sediar uma Olimpíada implica numa série de investimentos, incluindo obras públicas nas áreas de mobilidade, infraestrutura, estrutura esportiva e preservação do meio ambiente. Essas são consideradas as heranças que a realização dos Jogos, pois ficarão na cidade mesmo após seu término. Nesse legado, foram injetados R$ 24,6 bilhões de reais, sendo 57% pagos por dinheiro público.

Assim, a divisão desses R$ 24,6 bilhões aconteceu da seguinte forma: a Prefeitura do Rio de Janeiro gastou R$ 3,94 bilhões, o Governo do Estado do RJ, R$ 8,56 bilhões e o Governo Federal, R$ 1,45 bilhão. A iniciativa privada bancou os outros R$ 10,62 bilhões.

São 27 projetos de políticas públicas que não têm relação direta com os Jogos Olímpicos, mas sim com a sua realização. Eles têm o objetivo de viabilizar o transporte de pessoas até o Parque Olímpico com a nova linha 4 do metrô, de despoluir a Baía do Guanabara, já que nela os atletas vão competir, ou até mesmo dos complexos esportivos na Vila Olímpica.

O custo das arenas, que envolvem os estádios, os complexos (como o aquático, que custou 217 milhões de reais), quadras, entre outras construções foi de R$ 7,07 bilhões.

Mas existem três obras que são consideradas as maiores e os melhores legados para o Rio de Janeiro: VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), o Porto de Maravilha e o BRT Transolímpica e Transoeste.


4. As Olimpíadas dos outros países, em comparação com a brasileira, custaram quanto?

É bastante impróprio comparar os custos de uma Olimpíada com outra, visto que as realidades dos países-sede podem ser completamente diferentes umas das outras. Além do mais, existe um planejamento de qual serão as escolhas de tudo o que envolverá a Olimpíada – o que será lembrado pelas pessoas.

Há a discussão prévia e estimativa da quantidade de dinheiro que se quer gastar. Para além das obras, decide-se sobre gasto com efeitos como fogos de artifício, telões interativos, efeitos de luz, show de abertura, etc.

De qualquer forma, nenhuma competição desse porte sai barata – e desde as Olimpíadas de Sydney, em 2000, o seu custo vem aumentando consideravelmente.

Em ordem temporal: as de Atenas, em 2004, custaram o equivalente a 8,9 bilhões de euros, ou R$ 21,3 bilhões. Então, nos Jogos de Pequim, em 2008, houve um salto para mais de 42 bilhões de dólares, o equivalente a R$ 1,32 trilhão hoje! Depois, um pouco mais com os pés no chão, as Olimpíadas de Londres, em 2012, custaram R$ 36,5 bilhões de reais (8,92 bilhões de libras). Realizar alguma Olimpíada, afinal, vale a pena?

5. Desapropriações

Esse foi – e continua sendo – um dos pontos mais sensíveis quando se fala da Rio 2016: as desapropriações. Elas acontecem quando, normalmente o chefe do poder executivo em questão (federal, estadual ou municipal) determina uma utilidade pública para um local. As leis colocam várias situações em que pode haver as remoções e prevê indenização às famílias e donos das construções.

Em geral, para as Olimpíadas,  deveriam ser removidas as famílias que viviam na Vila do Autódromo, para que pudesse ser feito o acesso ao Parque Olímpico. Em princípio, haverá uma reurbanização no local depois dos Jogos, mas não há prazo para que se realize, segundo o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes.

Segundo a Secretaria Municipal de Habitação do Rio de Janeiro, desde o início das remoções – que começaram em 2013 – 585 famílias moravam no local. No início de 2014, 452 famílias queriam deixar o bairro, porém algumas famílias resistiam e não queriam deixar suas casas. Mesmo após protestos, moradores foram tiveram de deixar as suas casas e lugares como a Associação de Moradores da Vila Autódromo, pois foram derrubadas do dia para a noite.

De acordo com a Agência Pública, num trabalho extenso de mapeamento e entrevistas com as vítimas das desapropriações, 2.548 famílias teriam de deixar suas casas em nome das obras do das obras do legado olímpico – os BRTs, o Porto Maravilha e a reforma do Maracanã (na Copa do Mundo de 2014).

Não existem dados concretos disponíveis sobre as remoções que aconteceram – e estavam acontecendo até pouco tempo antes do início do evento – no Rio de Janeiro.

Contexto: as desapropriações na Copa do Mundo de 2014

No Complexo do Maracanã, a Escola Municipal Friedenreich, décima melhor escola do Brasil no IDEB, estava ameaçada de demolição para construção de uma quadra de aquecimento para a Copa.


Buscando diálogo com o poder público desde 2009, pais de alunos e professores não obtiveram qualquer resposta ou comunicação. Então, se mobilizaram juntamente ao Meu Rio com uma Panela de Pressão, mais de 2400 pessoas pressionaram, e a escola pôde ficar no seu lugar.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Urbanização de praias e as ressacas: Boqueirão e Copacabana

Uma forte ressaca inundou as duas pistas da avenida da praia de Santos, no litoral de São Paulo, causando interdições e estragos em vários trechos entre os canais 6 e 7, na tarde de domingo, 21 de agosto. O volume de água foi tão grande que chegou a invadir alguns prédios e clubes que ficam no bairro da Ponta da Praia. No início da noite, a prefeitura de Santos anunciou que funcionários públicos farão a limpeza da região e a drenagem das galerias pluviais já nesta segunda-feira.

O vídeo abaixo mostra a intensidade do evento.


Por que esses eventos devem ser cada vez mais comuns na orla de várias cidades brasileiras?

Um breve histórico da urbanização da orla de Santos

O aumento da largura e da profundidade do canal do Porto, as alterações de tamanho e energia das ondas e a intensificação da ocorrência de eventos climáticos extremos, associados à subida do nível do mar e a baixa declividade da própria praia são alguns dos fatores  causadores da erosão nas praias de Santos. 

Embora não sejam do mesmo ângulo, as imagens abaixo ajudam a compreender a urbanização da orla da Praia

1936

1957

 Atual

Porém o problema maior do Boqueirão não exatamente ter uma Orla muito ocupada "enfrenteando" o mar e sim o excesso de canalização de córregos, a impermeabilização excessiva do solo do entorno e aprofundamento do canal do porto.

Canalização dos córregos aceleram a velocidade que a água "tenta" sair da área urbana, e nas ressacas favorecem a entrada da água do mar na área urbana.
 

Resumindo, ao longo da história da região costeira de Santos, muitas transformações foram realizadas priorizando a balneabilidade sanitária das praias em detrimento dos cuidados com a erosão.

Somando a grande impermeabilização de solo, canalização de córregos, falta de mata ciliar e as já citadas grandes alterações físicas na orla. A praia central de Santos assim como muitas outras do Brasil se tornam vulneráveis aos processos erosivos.

A praia de Copacabana também passou por um processo semelhante e ainda mais invasivo ao longo de sua História.




Sem mais.

Jonathan Kreutzfeld

Fonte:






quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Países Olímpicos - 2016

Você é um daqueles que ficou impressionado com o número de países nas olimpíadas de 2016? Sim, foram 206 delegações que desfilaram mais a delegação dos refugiados que foi novidade nestes jogos.

Como os professores de Geografia não são enciclopédias ambulantes embora se esforcem muito para ajudar, resolvi postar uma dica!

A dica é que o Site do IBGE está com um Layout especial para te mostrar diversas informações sobre a localização destes países, história, economia...

É só acessar o link abaixo, escolher o continente e o país desejado!



Jonathan Kreutzfeld


Massificação Cultural, Globalização e Pokémon GO


O mundo “globalizado” criou na sociedade contemporânea uma grande contradição. A revolução técnico-científico-informacional colocou nas mãos do ser humano meios de comunicação e transportes que facilitam cada vez mais o contato entre os humanos e as coisas criadas por eles. Mas infelizmente nem sempre é o que acontece, temos uma tendência cada vez maior de solidão e desculturalização.

O maior instrumento da globalização cultural na sociedade tecnológica tem sido certamente a expansão das redes de comunicação de massa. A abrangência, extensão e eficácia dessas redes estão na raiz das grandes transformações ocorridas na virada do século XX. A redução do planeta a uma aldeia produziu uma verdadeira revolução espaço-temporal. Esse pensamento é bastante conhecido pela obra de Harvey que bem antes da internet viralizar já escrevia sobre isso em 1989.

O convívio humano que resulta de contatos primários é a característica dominante das sociedades pouco industrializadas, das zonas rurais ou de pequenos grupos sociais. A industrialização e a urbanização estabeleceram um modo de vida no qual o contato primário, interpessoal, foi reduzido, favorecendo a generalização dos contatos secundários e das relações impessoais.

Observa-se, assim, uma tendência inversa entre a formação de grandes aglomerados populacionais e o convívio humano. A instauração da sociedade de consumo e da sociedade de massa para o surgimento de um ser humano massificado.

O ser humano, nesse modelo social, deixa de ser considerado pessoa e passa a ser encarado como máquina devoradora de produtos, ideias ou mercadorias. Não se consideram valores pessoais ou anseios individuais. Por um processo de condicionamento gradual irreversível, vão sendo terminados seus anseios, de acordo com as necessidades de reprodução do sistema. Sua personalidade vai se transformando e seu comportamento se adaptando no sentido de atender aos objetivos dessa nova ordem. O ser humano deixa de ser um indivíduo e passa a ser apenas uma entidade numérica, parte de uma grande engrenagem, da qual é um simples objeto.

A complexidade urbana, a generalização do anonimato, o surgimento da selva de pedra e a massificação de alguns dos fatores que contribuem para a despersonalização dos indivíduos. Na sociedade pós-industrial, o contato em geral entre as pessoas é apenas físico; o significado das interações sociais fica reduzido a seus papéis sociais formais e suas funções profissionais. À medida que os contatos meramente formais se generalizam, expande-se o anonimato. Conforme afirma Delfim Soares.

“O homem vive no meio da multidão, mas não convive com ninguém, como pessoa; a multidão nas ruas, o congestionamento no trânsito, a moradia em apartamentos superpostos, as turbas nos estádios esportivos e os enxames humanos nas praias são manifestações sociais frequentes. Nelas, raramente se verifica convívio humano; mesmo as relações mais íntimas são, muitas vezes, mero contato de objetos humanos e não relações interpessoais. Os indivíduos não se encaram mais como pessoas, mas como objetos. Nesse contexto, cresce a sensação de solidão.”

Diante desse mundo massificado e cada vez mais homogêneo e isolado, vejo no Pokémon Go um novo passo sutil ao remodelamento social. Vivemos cada vez mais em um mundo virtual cada um dentro de sua casa onde nossos computadores e smartphones se transformam em um mundo paralelo.

O Pokémon Go pode nem durar muito tempo, mas já fez muita gente tirar a bunda do sofá e ir pra rua, ver pessoas reais. Assim ao menos eu enxergo. Mas deixo minhas palavras de lado e segue abaixo um vídeo do menino Adam feito pela BBC explicar melhor.


Tenho certeza que não foi só a vida de Adam que mudou e tenho certeza de que muitas novidades do gênero ainda vão surgir e fazer as pessoas saírem de casa!

Voltando ao contexto da massificação da cultura, deixo abaixo uma entrevista do famoso fotógrafo Sebastião Salgado à Paula Diniz (National Geographic) que percorreu o mundo buscando mostrar o que ele tem de DIFERENTE!

Jonathan Kreutzfeld

ENTREVISTA


Perto de completar 70 anos - 40 deles dedicados à fotografia -, Sebastião Salgado mantém o encantamento ao falar das experiências vividas durante a produção de Gênesis, seu mais recente projeto. Entre 2004 e 2011, ele visitou cinco continentes, em mais de 30 viagens para regiões quase sempre inóspitas, como Sibéria, Galápagos e Papua Nova Guiné. Pela primeira vez, Salgado documentou, como frisa, "outros animais além do homem". Retratou paisagens, fauna, flora e comunidades humanas que ainda vivem dentro de suas tradições ancestrais, imunes às transformações impostas pelo modo de vida contemporâneo.

Como foi a experiência de fazer Gênesis?

Com dois anos de preparação, oito de fotografia e mais dois de pós-produção, passei grande parte da minha vida dentro desse projeto. Foram, em média, oito meses por ano viajando, naquele que talvez possa considerar o período mais rico da minha carreira. Gênesis fecha um ciclo com os projetos que fiz antes, sobre as guerras na África, trabalhadores e refugiados. Agora, tive a chance de conhecer locais fabulosos e aprender a respeito da minha relação com o planeta e com outros seres humanos. Convivi com grupos que representam o que fomos 10 mil anos atrás. Fui bem recebido. O homem é um ser gregário por natureza. Minha impressão é que a agressividade surgiu depois de certa organização espacial.

Como foi a sua relação com os povos retratados?

Quando você passa um tempo com as pessoas e elas compreendem o seu trabalho, que você deseja mostrar a dignidade, a personalidade delas, a maneira como vivem, elas têm orgulho de participar. Os nenets, do norte da Sibéria, por exemplo. Eles montam e desmontam suas casas todos os dias. À noite a gente comia junto, discutia junto questões cotidianas. Se eles matam uma rena, também tomam o sangue, e sempre aparece alguém com uma garrafa de vodca. É como uma família.

Aprendi com eles algo que nós perdemos na nossa sociedade: o conceito de essencial. Temos uma quantidade enorme de coisas. Compramos, acumulamos e não usamos. Se você der aos nenets um presente que eles não possam transportar no trenó, eles não aceitam. Eles possuem apenas o necessário para subsistir em uma condição climática extrema e são tão felizes quanto uma pessoa que vive em um grande apartamento em São Paulo.

O que perdemos com a massificação global dos modos de vida?

Quando eu era menino, o Brasil tinha 90% de população rural. Hoje, 90% da população é urbana. Por outro lado, na Amazônia brasileira, restam povos ainda não contatados, que vivem como há 10 mil anos. São uma referência viva do nosso passado ancestral.

Exemplos desse tipo de contradição não faltam. A Índia acabou de lançar um automóvel de 2 mil dólares. Todo mundo vai comprar. Está todo mundo felicíssimo porque vai ter um carro, mas será que esse modelo consumista ocidental é o melhor para a Índia? Nossa espécie é nova, mas tomou conta do planeta. Escravizamos as outras espécies. Se tivéssemos a capacidade de enxergar a vida como uma evolução de dezenas de milhares de anos, compreenderíamos a nossa origem e o nosso lugar, até concluir algo simples e importante: somos natureza.

O que você diria aos jovens documentaristas brasileiros?

Que fotografem mais os nossos grupos indígenas. No início da história escrita da humanidade, na antiga civilização egípcia, pessoas já habitavam a Floresta Amazônica. Temos a obrigação de conhecer e proteger esse legado cultural e ambiental.
 
Qual a missão da fotografia?

As duas únicas linguagens que não necessitam de tradução são a fotografia e a música. E a fotografia é, possivelmente, a linguagem mais acessível e universal que possa existir.


Fonte: