(Mais próxima do que você imagina)
Por: Giovana Masiero, Maiara Stanczak e Tiago Rafael Ittner.
Por: Giovana Masiero, Maiara Stanczak e Tiago Rafael Ittner.
Orientador: Paulo
Francisco Junior
Este trabalho
aborda um tema de extrema relevância humana: a violência doméstica contra a
mulher, e cria perguntas cujas respostas obteremos, em um outro momento,
através de profundas análises sociais.
Nele, será apresentado,
inicialmente, a situação em que se encontra a mulher na sociedade, visando um
maior entendimento do público a respeito do assunto. Em seguida, o conteúdo será
afunilado a nível regional: falaremos dos casos de agressões que acontecem no
nosso município, com dados disponibilizados pela Delegacia de Polícia da
Comarca de Timbó. Finalizando, daremos ao leitor uma breve introdução do movimento
Feminista, visando a conscientização de alguns conceitos básicos.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Teresa
Kleba Lisboa (doutora em Sociologia e professora do Departamento de Serviço
Social da UFSC) e Eliane Aparecida Pinheiro (mestre em Serviço Social pela UFSC
e Assistente Social) diferem claramente os títulos “Violência contra a mulher”
e “Violência doméstica”, explicando que o primeiro surge nos anos 70,
juntamente com o movimento feminista, e pode ocorrer tanto dentro de casa como
fora dela. Já o segundo é definido por Teles e Melo (2002, p.19) como “[...] o
que ocorre dentro de casa, nas relações entre pessoas da família, entre homens e
mulheres, pais/mães e filhos, entre jovens e pessoas idosas”. Ou seja, na
violência doméstica, o espaço é delimitado para o ambiente domiciliar. Em
ambos, o motivo para os atos violentos contra as mulheres está no fato de os
homens pensarem que elas devem obediência a eles.
Segundo
Carla de Jesus Marques Andrade (doutoranda na USP em 2007), e Rosa Maria Godoy
Serpa da Fonseca (pós-graduanda em Enfermagem na USP em 2007), a violência
doméstica continua invisível para grande parcela da sociedade, o que faz com
que ela ocorra diariamente, sem ninguém perceber. As estudantes ainda citam que
a mulher se torna mais vulnerável a sofrer violência quando não é sujeito da
própria vida, ou seja, é dependente do cônjuge.
Maria
da Penha teve seu caso exposto a âmbito mundial após a publicação do livro
autobiográfico “Sobrevivi... posso contar” (1994), onde relata a sua história e
critica a sociedade brasileira que, através de toda a burocracia que a mulher
violentada deve passar antes de adquirir justiça, acaba por encobrir a
violência doméstica, evidenciando um certo machismo.
“Ninguém nasce mulher. Torna-se mulher” (BEAUVOIR,
Simone, 1949, p. 9-10). Esse trecho célebre de Simone Beauvoir é fundamental
para o entendimento do que ocorre com o sexo feminino na sociedade. Esse, a
partir do nascimento, adquire uma imagem frágil construída pelo corpo social, o
que resulta no pensamento de inferioridade da mulher perante o homem. Outra
passagem marcante do livro já citado é “A humanidade é masculina, e o homem
define a mulher não em si, mas relativamente a ele; ela não é considerada um
ser autônomo” (BEAUVOIR, Simone, 1949, p. 14). Esse último fragmento retrata
perfeitamente o que acontece com as que são violentadas em meio doméstico: o
homem, decorrente talvez não de si, mas da sociedade, acredita que o corpo da
esposa é de sua posse, o que faz com que ele passe a agredi-lo.

É importante
entender que o desrespeito para com o sexo feminino não está distante dos
nossos olhos; muito pelo contrário, está a nossa frente. A ruptura da dignidade
humana da mulher é, muitas vezes, silenciada pela vítima, que é oprimida,
chantageada, morta internamente. Talvez seja este o real motivo de não
enxergarmos os abusos que ocorrem aqui e ali, na nossa família e na nossa casa.
Sim, as mulheres são abusadas diariamente, seja verbal ou fisicamente, mas nem
percebemos. “É só uma piada”, dizem. “Está bêbada, não vai se importar se eu
transar com ela”. “Olhe essa roupa: está pedindo para ser estuprada”, como se a
vestimenta da mulher desse ao homem o direito de agredi-la e violenta-la. O que
ainda não é uma realidade para a grande maioria dos brasileiros – incluímos
aqui os timboenses e demais pessoas da região – é que a piada mata, e o sexo
sem consentimento é estupro. Você conhece mulheres que foram violentadas? Será
que aqui cabe o senso comum de que, se não são nulas, a quantidade é baixa? O
fato é que, segundo dados oficiais, uma mulher sofre violência a cada três
horas em Santa Catarina. Então, por qual motivo conhecemos tão poucos casos?
Perguntas como essa nos motivaram a escolher este tema e, em nosso trabalho
científico-cultural, tentaremos esclarecer ao máximo o assunto, tão debatido a
nível mundial e nacional, e que será mais debatido ainda, embora a nível
regional, para que as pessoas tomem consciência de que um sexo não tem o
direito de agredir o outro. Nós estamos vivendo no século vinte e um e cada indivíduo
é dono do seu próprio corpo.
O nosso objetivo
vai além de adquirir conhecimento a respeito do tema: nós queremos, e eis aqui
a nossa justificativa, informar à população o quão alarmante os dados são.
Enquanto esse trabalho é lido, pelo menos uma mulher está sendo agredida no
Brasil. Levar esse assunto aos ouvidos das pessoas vai gerar, além de
conhecimento, consciência da gravidade da nossa sociedade, e talvez convencer
os ouvintes que o feminismo não busca a supremacia feminina; ele objetiva a igualdade
de gênero, para que casos de violência como esse não continuem a ocorrer e
degradar mais ainda uma imagem que já é pejorada simplesmente por existir.
Por que, em Timbó, pouco se fala em violência doméstica
contra a mulher? Qual será a incidência de casos? Será que ela não existe ou os
valores dominantes em nossa cidade impedem que as denúncias aconteçam? Por que
o tema ainda é tabu em nossa sociedade?
Objetivo geral: inserir-se
no universo da Pesquisa Acadêmica sobre a violência doméstica contra as
mulheres.
Objetivos
específicos: coletar dados a respeito da violência contra a mulher em Timbó,
compará-los, analisar se a incidência de violência cresceu ou decresceu nos
últimos anos, investigar os possíveis motivos para esse aumento ou diminuição, e
conscientizar a comunidade da importância de movimentos que lutam contra a
violência contra a mulher.
A metodologia
utilizada pelo grupo foi a exploratória. Para tanto, entrevistamos a Psicóloga
Policial Civil, Bianca Sabine Utpadel, da Delegacia de Polícia da Comarca de
Timbó, no dia 07/10/2016, que, além de fornecer o material pedido, nos deu uma
visão geral sobre tudo o que ela presencia diariamente. A reunião foi gravada com
permissão da entrevistada, e utilizada para ilustração das ideias encontradas
na Revisão Bibliográfica – além de subsidiar nossas discussões. A Revisão
Bibliográfica baseou-se, como se vê nas referências bibliográficas, em “O
Segundo Sexo” de Simone Beauvoir e também “Sobrevivi... posso contar”, de Maria
da Penha, que nos fizeram entender o que realmente ocorre na sociedade, bem
como o que se passa na mente de uma mulher sofre violência doméstica. Na
internet, encontramos dados da violência contra a mulher que ainda assombram a
nossa comunidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente
trabalho científico-cultural foi de suma importância para que nos déssemos
conta de que a violência doméstica não é algo utópico, que só ocorre na
televisão. Ela acontece diariamente ante os nossos olhos, talvez dentro de
nossa própria casa. O problema é que quase nunca percebemos e, quando
enxergamos, muitas vezes fingimos não ter visto, para não carregarmos conosco a
fama de “intrometido”. O que a maioria não sabe é que o silêncio de uns pode
significar o martírio de outros.
Esta pesquisa
tentou mostrar o quanto a sociedade ainda é machista e misógina acreditando que
o corpo feminino é de propriedade do homem e que, por isso, ele tem o direito
de controlá-lo e agredi-lo quando surgir vontade. Visando incentivar as
mulheres que sofrem diariamente a denunciar, o trabalho cita que é extremamente
inaceitável o fato de elas sempre arrumarem algum motivo que justifique a
agressão do marido, muitas vezes se culpando por ter apanhado.
Evidentemente,
há uma falha na sociedade, e é o nosso dever, enquanto cidadãos, apontar
soluções para, senão resolvê-la, no mínimo assegurar condições mínimas de vida ao
sexo feminino. Uma alternativa é aliar-mo-nos ao movimento Feminista. E isso
significa manifestar, distribuir panfletos, gritar nas ruas e segurar cartazes?
Sim, e é isso que faremos, enquanto pessoas justas. Sozinhos, pode parecer insignificante, mas,
unidos, somos capazes de torná-las livres! E tornando-as livres seremos mais
livres também!
DADOS OBTIDOS
No Brasil:
·
3 em
cada 5 mulheres jovens já sofreram violência em relacionamentos, aponta
pesquisa realizada em novembro de 2014.
·
Uma
mulher é violentada a cada onze minutos no país e, por incrível que pareça, 91%
dos homens dizem considerar que “bater em mulher é errado em qualquer
situação”.

·
A maioria
das vítimas de violência são mulheres negras (58%).
·
Há
anualmente 527 mil tentativas ou casos de estupros consumados no país, dos
quais 10% são reportados à polícia.
·
Machismo
(46%) e alcoolismo (31%) são apontados como principais fatores que contribuem
para a violência.
·
Como
podemos ver na imagem, o Ligue 180 recebeu, em 2015, 179 relatos de agressão
por dia, dos quais 92 eram física, 55 psicológica, 13 moral, 8 por cárcere privado
e 7 por violência sexual.
·
Vale
destacar que o serviço do Ligue 180 também funciona para brasileiras que estão
em outros 16 países além do Brasil, tais como Espanha, Portugal, Itália e
Estados Unidos.
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Os
dados mostram ainda que, em quase metade dos casos, a agressão ocorre
diariamente.
·
A violência
doméstica também atinge os filhos com frequência: em quase 65% dos casos, os
filhos presenciam a violência e, em outros 18%, além de presenciar, também
sofrem agressões.
·
Metade
dos relatos ao Ligue 180 trata de violência física. E em 82% dos casos, as
agressões são cometidas por homens com quem as vítimas mantêm ou mantiveram uma
relação afetiva.
Em Timbó:
·
Somente
no primeiro semestre de 2015, houve 105 relatos de violência contra a mulher em
Timbó. Em 2016, ocorreu um aumento de 27 denúncias nos mesmos seis primeiros
meses. Isso nos dá uma média de um relato por dia.
·
Até
julho do ano passado, registraram-se 12 autos de prisões em flagrante, número
pequeno se comparado ao mesmo período do atual ano, que é de 35.
·
No
primeiro semestre de 2015, encaminharam-se 78 medidas de proteção à mulher no
nosso município. Em 2016, o número já é mais elevado: 108.
·
Comparando
todos os dados de 2016 com 2015, 2014 e 2013, podemos notar que os números
aumentam a cada ano. Isso pode significar avanço, já que as mulheres passaram a
denunciar mais os casos de violência doméstica.

Criticar a batalha delas ou, pior, ter pensamentos
machistas, é a mesma coisa que ser a favor da inferioridade feminina, da
degradação da imagem delas, do seu olho roxo, do sangue que sai de sua boca, da
sua morte frequente nas esquinas ou até mesmo em sua casa.
Agora fica a seu critério ser feminista ou não. Mas como dizia um cartaz que achamos por aí em
uma manifestação qualquer: “A nossa luta é todo dia. Somos mulheres, e não
mercadoria”.
REFERÊNCIAS
Livros
BEAUVOIR, Simone. O Segundo Sexo, volume 1 (tradução
de Sérgio Milliet). São Paulo: Círculo do Livro, [198-].
------. O Segundo Sexo, volume 2. São Paulo: Difusão
Europeia do Livro, 1967, 2ª edição.
MAIA, Maria da Penha. Sobrevivi... posso contar. Brasil:
Armazém da Cultua, 1994.
Sites:
GEREMIAS, Daiana. Quem foi
Simone de Beauvoir, que causou polêmica no Enem 2015?. Mega Curioso.
Outubro 2015. Disponível na Internet: .
Acesso em: 14 out. 2016.
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a mulher. Revista Katálysis, Florianópolis, v. 8, n. 2, p. 199-210, jan. 2005. ISSN
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MALA1, Nina. Trecho do livro
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Disponível na Internet: .
Acesso em: 14 out. 2016.
ANDRADE, Clara de Jesus
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Disponível na Internet: .
Acesso em: 14 out. 2016.
CUNHA, Carolina. Cidadania:
Lei Maria da Penha completa 10 anos. UOL. Agosto 2016. Disponível na
Internet: .
Acesso em: 17 out. 2016.
CORRÊA, Hudson; LAZZERI, Thais;
GARCIA, Sérgio; HAIDAR, Daniel; RIBEIRO, Aline; GORCZESKY, Vinícius. A cada
11 minutos, uma mulher é violentada no Brasil. E ainda há quem diga que a culpa
é da vítima. Época. Maio 2016. Disponível na Internet: .
Acesso em: 17 out. 2016.
CASTILHO, Lucas. 11 mentiras
batidas sobre feminismo que precisam parar de ser repetidas. M de Mulher.
Abril 2015. Disponível na Internet: .
Acesso em: 18 out. 2016.
GOMES, Márcio Aurélio. SC
tem quase 50 mil casos de violência contra a mulher. Do total de homicídios,
96% são passionais. Acaert. Março 2016. Disponível na Internet: .
Acesso em: 19 out. 2016.
SEGURANÇA em números. Secretaria de Estado da Segurança Pública. 2015.
Disponível na Internet: .
Acesso em: 19 out. 2016.
Revistas:
VOLKERLING, Fernanda. Política,
substantivo feminino. DIÁRIO Catarinense, Santa Catarina, edição 45, p.
xx. Setembro. 2016.
Por favor continue seu blog, ele é perfeito para estudantes. Parabéns!!
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