terça-feira, 14 de março de 2017

Centenário da Revolução Russa e o Movimento Feminista

No ano de 2017 temos o centenário da revolução russa, que mesmo sabendo não ter sido a ideologia que predominaria no mundo no século XX e muito menos no XXI, foi de grande importância para a reflexão de diversos temas que sozinho, o capitalismo provavelmente nem discutiria.

1917, A Revolução Russa

O desenvolvimento da sociedade russa ocorreu de forma diferente das sociedades capitalistas da Europa Ocidental. Em vez da constituição de uma sociedade industrializada baseada na ação da burguesia e amparada pela propriedade privada dos meios de produção, o que se verificou foi um processo de industrialização e modernização social cujo centro era o Estado.  Em geral, essa seria a principal diferença entre um modelo econômico e outro. (O que vemos em debate hoje é um radicalismo de penduricalhos opinativos entre esquerda e direita interminável e beirando a infantilidade).

O Estado soviético passou a ser o detentor da propriedade dos meios de produção. Essa centralidade da propriedade proporcionou aos controladores do Estado, burocratas do partido bolchevique e administradores das empresas, uma capacidade de planejamento econômico e social cuja amplitude não havia sido experimentada em lugar algum.

Neste momento, podemos dizer que se existe alguma vantagem em uma ditadura, ela seria a possibilidade de planejar ações de médio e longo prazo com mais facilidade que as democracias permitem.

Mas para compreender os resultados da Revolução Russa, é necessário antes acompanhar os caminhos do processo revolucionário.

As mulheres de fevereiro de 1917, o estopim das revoluções.


O Império Russo foi um dos principais interessados na Primeira Guerra Mundial, iniciada em 1914. Mas o exército russo não foi páreo paras as forças militares alemãs. Um dos resultados foi a deserção em massa de soldados da linha de frente. Outro foi a intensificação da fome entre a população que se mantinha em território russo.

Nos dias finais de fevereiro de 1917, uma manifestação pelo Dia Internacional da Mulher, em São Petersburgo, transformou-se em uma manifestação contra a fome vivenciada por boa parte da população. A manifestação conseguiu o apoio dos soldados insatisfeitos com a guerra. A insatisfação foi aumentando e as manifestações ganharam força.

Vale ressaltar que durante as 2 grandes guerras do século XX tivemos importante participação feminina “nos trabalhos de homens”. E isso aconteceu no oriente, no ocidente, no norte e no sul.


A força desta grande manifestação trouxe frutos: em 1917 foi aprovado o Representation of the People Act: depois de várias manifestações que dominaram as ruas e dos esforços de guerra, as mulheres conquistaram o direito ao voto e à participação cívica

É interessante que, foram as mulheres, e o 8 de março, que produziram mais um ajuste em tempo real nas posições de Lênin, em 1917. Foram elas que chamaram, contra as diretrizes do partido, uma manifestação feminista que serviu de estopim à revolução branca de fevereiro, precursora e condição da revolução vermelha de outubro.
Outro grande êxito das lutas feministas, além do sufragismo (direito de votar), foi o desenvolvimento de uma consciência social para a causa feminista. Lembrando que dentro da esquerda ou da direita sempre houve um machismo muito forte, que por ali começava uma tentativa de mitigar o mesmo.

O 8 de março

Muita gente conhece a história do 8 de março, como sendo uma história de mulheres em uma fábrica morrendo de forma passiva. E isso acaba sendo uma forma de tentar tirar o protagonismo e ativismo do movimento feminista que não só do lado soviético tinha adeptas.

Na imagem, o incêndio da fábrica Triangle Shirtwaist Company, em 25 de março de 1911, popularmente tido como o marco que deu origem ao Dia da Mulher.



A principal teórica no Brasil a trabalhar o tema do 8 de março é a socióloga Eva Blay, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e coordenadora do USP Mulheres. Blay explica que a criação da data foi motivada “por fortes movimentos de reivindicação política, trabalhista, greves, passeatas e muita perseguição policial”, e não somente pela morte de dezenas de mulheres exploradas pelo capital.

Segundo ela, desvincular o 8 de março, hoje considerado um dia festivo e capitalista – em que patrões e empresas insistem em “presentar” funcionárias com maquiagem, flores e serviços em salões de beleza – da luta de operárias por melhores condições de trabalho, é uma maneira de apagar a o protagonismo das mulheres em sua própria história social e política.

Jonathan Kretuzfeld

Fonte:






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