No
ano de 2017 temos o centenário da revolução russa, que mesmo sabendo não ter
sido a ideologia que predominaria no mundo no século XX e muito menos no XXI,
foi de grande importância para a reflexão de diversos temas que sozinho, o
capitalismo provavelmente nem discutiria.
1917, A Revolução
Russa
O
desenvolvimento da sociedade russa ocorreu de forma diferente das sociedades
capitalistas da Europa Ocidental. Em vez da constituição de uma sociedade
industrializada baseada na ação da burguesia e amparada pela propriedade
privada dos meios de produção, o que se verificou foi um processo de
industrialização e modernização social cujo centro era o Estado. Em
geral, essa seria a principal diferença entre um modelo econômico e outro. (O
que vemos em debate hoje é um radicalismo de penduricalhos opinativos entre
esquerda e direita interminável e beirando a infantilidade).
O
Estado soviético passou a ser o detentor da propriedade dos meios de produção.
Essa centralidade da propriedade proporcionou aos controladores do Estado,
burocratas do partido bolchevique e administradores das empresas, uma
capacidade de planejamento econômico e social cuja amplitude não havia sido
experimentada em lugar algum.
Neste
momento, podemos dizer que se existe alguma vantagem em uma ditadura, ela seria
a possibilidade de planejar ações de médio e longo prazo com mais facilidade que
as democracias permitem.
Mas
para compreender os resultados da Revolução Russa, é necessário antes
acompanhar os caminhos do processo revolucionário.
As
mulheres de fevereiro de 1917, o estopim das revoluções.
O
Império Russo foi um dos principais interessados na Primeira Guerra Mundial,
iniciada em 1914. Mas o exército russo não foi páreo paras as forças militares
alemãs. Um dos resultados foi a deserção em massa de soldados da linha de
frente. Outro foi a intensificação da fome entre a população que se mantinha em
território russo.
Nos
dias finais de fevereiro de 1917, uma manifestação pelo Dia Internacional da Mulher, em São Petersburgo, transformou-se em
uma manifestação contra a fome vivenciada por boa parte da população. A manifestação conseguiu o apoio dos
soldados insatisfeitos com a guerra. A insatisfação foi aumentando e as
manifestações ganharam força.
Vale ressaltar que durante as 2
grandes guerras do século XX tivemos importante participação feminina “nos
trabalhos de homens”. E isso aconteceu no oriente, no ocidente, no norte e no
sul.
A
força desta grande manifestação trouxe frutos: em 1917 foi aprovado o
Representation of the People Act: depois de várias manifestações que dominaram
as ruas e dos esforços de guerra, as
mulheres conquistaram o direito ao voto e à participação cívica.

Outro
grande êxito das lutas feministas, além do sufragismo (direito de votar), foi o
desenvolvimento de uma consciência social para a causa feminista. Lembrando que
dentro da esquerda ou da direita sempre houve um machismo muito forte, que por
ali começava uma tentativa de mitigar o mesmo.
O 8 de março
Muita
gente conhece a história do 8 de março, como sendo uma história de mulheres em
uma fábrica morrendo de forma passiva. E isso acaba sendo uma forma de tentar
tirar o protagonismo e ativismo do movimento feminista que não só do lado
soviético tinha adeptas.
Na imagem, o
incêndio da fábrica Triangle Shirtwaist Company, em 25 de março de 1911,
popularmente tido como o marco que deu origem ao Dia da Mulher.
A
principal teórica no Brasil a trabalhar o tema do 8 de março é a socióloga Eva
Blay, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e
coordenadora do USP Mulheres. Blay explica que
a criação da data foi motivada “por fortes movimentos de reivindicação
política, trabalhista, greves, passeatas e muita perseguição policial”, e não
somente pela morte de dezenas de mulheres exploradas pelo capital.
Segundo
ela, desvincular o 8 de março, hoje considerado um dia festivo e capitalista –
em que patrões e empresas insistem em “presentar” funcionárias com maquiagem,
flores e serviços em salões de beleza – da luta de operárias por melhores
condições de trabalho, é uma maneira de apagar a o protagonismo das mulheres em
sua própria história social e política.
Jonathan Kretuzfeld
Fonte:
Nenhum comentário:
Postar um comentário