No
dia 15 de março de 2017, o líder chinês Xi Jinping promoveu um grande evento
para apresentar seu mais novo ambicioso projeto. De antemão é importante saber
que hoje a China já ocupa a 2ª posição em PIB e orçamento militar além da 3ª posição
no poder bélico. E tendo ciência de que em todos esses itens a China possui um crescimento vertiginoso nas
últimas décadas, podemos ter em breve uma nova superpotência. E isso incomoda e muito os Estados Unidos,
na economia, na política e principalmente
no EGO.
Em
harmonia com a sua proposta de estabelecer uma nova Rota da Seda, revivendo no
século 21 as rotas comerciais milenares que conectavam o Ocidente e o Oriente,
a China firmou acordos de cooperação com 68 países e organizações
internacionais no âmbito da iniciativa Um
Cinturão, Uma Rota (One Belt, One Road).
O
grande acordo na verdade pretende ser um grande fundo com alguns muitos bilhões
de dólares. O fundo “um cinturão, uma rota”, que já contava com US$40 bilhões,
recebeu a promessa de aporte de mais US$70bilhões do governo chinês. O fórum
também serviu como uma espécie de chamado para novos contribuintes, estatais e
privados.
Apesar
das incertezas sobre os projetos que comporão a “nova rota da seda” e sobre os
valores a ela concernentes, algumas publicações chegam a mencionar investimentos da ordem de US$900 bilhões
entre projetos já realizados e a realizar nos próximos anos. Apenas para
ilustrar a quantia estipulada, de acordo com dados do Banco Mundial, em 2015,
somente 15 países possuíam PIB, em preços correntes, acima de 1 trilhão de
dólares.
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Ferrovia que interliga países do "Chifre da África" |
A
iniciativa é ambiciosa também do ponto de vista geográfico. Envolve acordos com mais de 60 países entre
a Ásia, a África e a Europa para o estabelecimento de corredores de transporte
e comunicação. O que é extremamente inteligente, principalmente quando se
trata de investir por exemplo na África, que durante tanto tempo é explorada
por todos e só agora começa a receber alguns investimentos. Não que isso não
seja de forma exploratória. É sim, por isso mesmo representa hoje a China fazendo o que EUA e Europa fizeram ao longo de
toda história.
Todavia,
a disposição de Pequim em financiar e organizar esta iniciativa não deve
surpreender os observadores mais atentos. Proponho uma breve análise deste fato
considerando aspectos recentes da economia e da política externa chinesa.

Após décadas de
insistência no combate ao hegemonismo respaldados pelos princípios da
não-intervenção, a China, em contexto já distinto, incorporou novos princípios
em sua política externa. Visando a manutenção de um ambiente favorável ao seu
crescimento econômico e uma postura mais transparente em relação às potências
ocidentais, passou a publicar “livros brancos” sobre defesa e segurança
internacional, onde o tema econômico passou a ter evidente importância.
A
China vem investindo faz algum tempo pra dentro de seu país, além das Zonas
Econômicas Especiais.
A
China vem querendo, portanto ampliar seus laços econômicos com o mundo,
exatamente num momento onde os EUA parecem remar contra a maré. E países
influentes como o Reino Unido que recém saiu da União Europeia estão bastante
interessados em estabelecer novas parcerias.
A necessidade de
Infraestrutura
A infraestrutura para um projeto que em reais é da ordem de 3 trilhões, vai muito além das rotas portuárias. Vai por terra em ferrovias, estradas, gasodutos e oleodutos.
As
multinacionais que operam na China vêm estabelecendo fábricas no interior do
país em busca de mão de obra mais barata. Mas isso tem uma desvantagem: essas
fábricas podem ficar a mais de mil quilômetros da costa.
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Ferrovias já interligam a Eurásia |
Para
as companhias que exportam para a Europa - ainda um dos maiores mercados para
os produtos chineses - o transporte por ar de Chongqin ou outras cidades do
interior é caro demais. O transporte de produtos em caminhões ou trens para os
portos de Xangai ou Yantian, em Shenzhen, e depois em navios para a Europa
ocidental pode levar 40 dias.
Para
a Hewlett-Packard (HP), que produz notebooks em Chongqin, há uma alternativa:
uma rede internacional de trens de carga que liga a China à Europa. Desde 2011,
a HP já transportou 4 milhões de notebooks pela rota ferroviária de 11.179 km,
inaugurada no ano passado pelas autoridades ferroviárias de Chongqin e do
governo central chinês.
Ela
começa em Chongqin e atravessa Cazaquistão, Rússia, Bielorrúsia e Polônia,
antes de chegar a Duisburg, na Alemanha. Uma linha separada sai do norte da
China e vai até a Ferrovia Transiberiana, que percorre 9.288 km de Vladivostock
a Moscou.
Com
planos de transportar também suas impressoras a jato de tinta via trem, a HP
diz que intensificará o uso da ferrovia da média de um trem por semana para 1,5
em 2013. "Fomos pioneiros na ida para o oeste da China e somos pioneiros
no desenvolvimento dessa rota", diz Tony Prophet, vice-presidente sênior
de operações para sistemas de impressão e pessoais da HP.
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Porto no Sri Lanka |
O
embarque de um contêiner em um trem custa cerca de US$ 10 mil, um terço do
preço do transporte aéreo, diz Prophet. Embora o custo ferroviário seja duas
vezes maior que o do transporte marítimo, a carga demora apenas 21 dias de
Chongqinq até a Europa ocidental. No entanto, a "pegada de carbono"
deixada pelo transporte ferroviário representa a trigésima parte da do
transporte aéreo.
Companhias
de produtos eletrônicos como a Foxconn e a Acer, ambas com fábricas em
Chongqin, também estão embarcando produtos para a Europa por trem, segundo a
companhia de transporte internacional Far East Land Bridge, com sede em Viena.
Henry Wang, porta-voz da Acer confirmou que a companhia está usando a ferrovia;
a Foxconn não quis comentar.
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Porto em Karachi no Paquistão |
BMW,
Audi e Volkswagen estão usando a ligação ferroviária para transportar autopeças
produzidas na Alemanha para suas unidades de montagem na China. "Cada
corrida vazia custa muito dinheiro, portanto é preciso um equilíbrio entre o
Oriente e o Ocidente", diz Thomas Kargl, diretor-presidente da Land
Bridge, acrescentando que sua empresa está administrando trens para todas essas
companhias. Somente a BMW envia de três a sete trens por semana de Leipzig para
a China, transportando autopeças para sua unidade de montagem em Shenyang.
Outros
setores inclinados a adotar o transporte ferroviário incluem o siderúrgico, o
de sucata, plásticos e produtos químicos, segundo Kargl. A DHL e a DB Schenker
anunciaram no ano passado o lançamento de serviços mais frequentes. A DHL
passou de um serviço de transporte noturno para um concorrente global em
logística, incluindo o transporte ferroviário; ela é controlada pela Deutsche
Post. A DB Schenker outra empresa de logística, é controlada pela Deutsche
Bahn, uma companhia ferroviária alemã.
Os
chineses estão entusiasmados com as conexões ferroviárias com a Europa. O governo
cogita a possibilidade de financiar a construção de trilhos em vizinhos da Ásia
central como o Uzbequistão e o Quirguistão, segundo relatos da agência de
notícias estatal Xinhua News Agency.
O
premiê Wen Jiabao referiu-se à ligação ferroviária China-Europa como parte de
uma nova Rota da Seda, a rota terrestre que ligou o oeste da China com o leste
do Mediterrâneo por mais de mil anos. Os russos também estão gostando: a
Russial Railways, a empresa ferroviária estatal, é acionista da Far East Land
Bridge. "Ter tranquilidade nos negócios com os russos é muito importante.
Eles controlam a linha", diz Kargl. "Se você tiver o apoio deles,
tudo correrá bem."
Jonathan Kreutzfeld
Fonte:
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