terça-feira, 30 de maio de 2017

Nova Rota da Seda – Nova Ordem Mundial?

No dia 15 de março de 2017, o líder chinês Xi Jinping promoveu um grande evento para apresentar seu mais novo ambicioso projeto. De antemão é importante saber que hoje a China já ocupa a 2ª posição em PIB e orçamento militar além da 3ª posição no poder bélico. E tendo ciência de que em todos esses itens a China possui um crescimento vertiginoso nas últimas décadas, podemos ter em breve uma nova superpotência. E isso incomoda e muito os Estados Unidos, na economia, na política e principalmente no EGO.

Em harmonia com a sua proposta de estabelecer uma nova Rota da Seda, revivendo no século 21 as rotas comerciais milenares que conectavam o Ocidente e o Oriente, a China firmou acordos de cooperação com 68 países e organizações internacionais no âmbito da iniciativa Um Cinturão, Uma Rota (One Belt, One Road).

O grande acordo na verdade pretende ser um grande fundo com alguns muitos bilhões de dólares. O fundo “um cinturão, uma rota”, que já contava com US$40 bilhões, recebeu a promessa de aporte de mais US$70bilhões do governo chinês. O fórum também serviu como uma espécie de chamado para novos contribuintes, estatais e privados.

Apesar das incertezas sobre os projetos que comporão a “nova rota da seda” e sobre os valores a ela concernentes, algumas publicações chegam a mencionar investimentos da ordem de US$900 bilhões entre projetos já realizados e a realizar nos próximos anos. Apenas para ilustrar a quantia estipulada, de acordo com dados do Banco Mundial, em 2015, somente 15 países possuíam PIB, em preços correntes, acima de 1 trilhão de dólares.

Ferrovia que interliga países do "Chifre da África"
A iniciativa é ambiciosa também do ponto de vista geográfico. Envolve acordos com mais de 60 países entre a Ásia, a África e a Europa para o estabelecimento de corredores de transporte e comunicação. O que é extremamente inteligente, principalmente quando se trata de investir por exemplo na África, que durante tanto tempo é explorada por todos e só agora começa a receber alguns investimentos. Não que isso não seja de forma exploratória. É sim, por isso mesmo representa hoje a China fazendo o que EUA e Europa fizeram ao longo de toda história.

Todavia, a disposição de Pequim em financiar e organizar esta iniciativa não deve surpreender os observadores mais atentos. Proponho uma breve análise deste fato considerando aspectos recentes da economia e da política externa chinesa.

O desempenho econômico chinês das últimas décadas é amplamente comentado. Em um primeiro momento, não se diferenciou muito daquilo que outros países asiáticos já haviam praticado: atração de investimentos diretos direcionados a manufaturas de exportação, controle estatal do câmbio e de conglomerados industriais estratégicos, bem como amplas políticas educacionais em ciências básicas e engenharias. Por outro lado, características culturais e a atuação do Estado resultaram em altas taxas de poupança-investimento

Após décadas de insistência no combate ao hegemonismo respaldados pelos princípios da não-intervenção, a China, em contexto já distinto, incorporou novos princípios em sua política externa. Visando a manutenção de um ambiente favorável ao seu crescimento econômico e uma postura mais transparente em relação às potências ocidentais, passou a publicar “livros brancos” sobre defesa e segurança internacional, onde o tema econômico passou a ter evidente importância.

A China vem investindo faz algum tempo pra dentro de seu país, além das Zonas Econômicas Especiais.


A China vem querendo, portanto ampliar seus laços econômicos com o mundo, exatamente num momento onde os EUA parecem remar contra a maré. E países influentes como o Reino Unido que recém saiu da União Europeia estão bastante interessados em estabelecer novas parcerias.

A necessidade de Infraestrutura

A infraestrutura para um projeto que em reais é da ordem de 3 trilhões, vai muito além das rotas portuárias. Vai por terra em ferrovias, estradas, gasodutos e oleodutos.



As multinacionais que operam na China vêm estabelecendo fábricas no interior do país em busca de mão de obra mais barata. Mas isso tem uma desvantagem: essas fábricas podem ficar a mais de mil quilômetros da costa.

Ferrovias já interligam a Eurásia
Para as companhias que exportam para a Europa - ainda um dos maiores mercados para os produtos chineses - o transporte por ar de Chongqin ou outras cidades do interior é caro demais. O transporte de produtos em caminhões ou trens para os portos de Xangai ou Yantian, em Shenzhen, e depois em navios para a Europa ocidental pode levar 40 dias.

Para a Hewlett-Packard (HP), que produz notebooks em Chongqin, há uma alternativa: uma rede internacional de trens de carga que liga a China à Europa. Desde 2011, a HP já transportou 4 milhões de notebooks pela rota ferroviária de 11.179 km, inaugurada no ano passado pelas autoridades ferroviárias de Chongqin e do governo central chinês.

Ela começa em Chongqin e atravessa Cazaquistão, Rússia, Bielorrúsia e Polônia, antes de chegar a Duisburg, na Alemanha. Uma linha separada sai do norte da China e vai até a Ferrovia Transiberiana, que percorre 9.288 km de Vladivostock a Moscou.

Com planos de transportar também suas impressoras a jato de tinta via trem, a HP diz que intensificará o uso da ferrovia da média de um trem por semana para 1,5 em 2013. "Fomos pioneiros na ida para o oeste da China e somos pioneiros no desenvolvimento dessa rota", diz Tony Prophet, vice-presidente sênior de operações para sistemas de impressão e pessoais da HP.

Porto no Sri Lanka
O embarque de um contêiner em um trem custa cerca de US$ 10 mil, um terço do preço do transporte aéreo, diz Prophet. Embora o custo ferroviário seja duas vezes maior que o do transporte marítimo, a carga demora apenas 21 dias de Chongqinq até a Europa ocidental. No entanto, a "pegada de carbono" deixada pelo transporte ferroviário representa a trigésima parte da do transporte aéreo.

Companhias de produtos eletrônicos como a Foxconn e a Acer, ambas com fábricas em Chongqin, também estão embarcando produtos para a Europa por trem, segundo a companhia de transporte internacional Far East Land Bridge, com sede em Viena. Henry Wang, porta-voz da Acer confirmou que a companhia está usando a ferrovia; a Foxconn não quis comentar.

Porto em Karachi no Paquistão
BMW, Audi e Volkswagen estão usando a ligação ferroviária para transportar autopeças produzidas na Alemanha para suas unidades de montagem na China. "Cada corrida vazia custa muito dinheiro, portanto é preciso um equilíbrio entre o Oriente e o Ocidente", diz Thomas Kargl, diretor-presidente da Land Bridge, acrescentando que sua empresa está administrando trens para todas essas companhias. Somente a BMW envia de três a sete trens por semana de Leipzig para a China, transportando autopeças para sua unidade de montagem em Shenyang.

Outros setores inclinados a adotar o transporte ferroviário incluem o siderúrgico, o de sucata, plásticos e produtos químicos, segundo Kargl. A DHL e a DB Schenker anunciaram no ano passado o lançamento de serviços mais frequentes. A DHL passou de um serviço de transporte noturno para um concorrente global em logística, incluindo o transporte ferroviário; ela é controlada pela Deutsche Post. A DB Schenker outra empresa de logística, é controlada pela Deutsche Bahn, uma companhia ferroviária alemã.

Os chineses estão entusiasmados com as conexões ferroviárias com a Europa. O governo cogita a possibilidade de financiar a construção de trilhos em vizinhos da Ásia central como o Uzbequistão e o Quirguistão, segundo relatos da agência de notícias estatal Xinhua News Agency.

O premiê Wen Jiabao referiu-se à ligação ferroviária China-Europa como parte de uma nova Rota da Seda, a rota terrestre que ligou o oeste da China com o leste do Mediterrâneo por mais de mil anos. Os russos também estão gostando: a Russial Railways, a empresa ferroviária estatal, é acionista da Far East Land Bridge. "Ter tranquilidade nos negócios com os russos é muito importante. Eles controlam a linha", diz Kargl. "Se você tiver o apoio deles, tudo correrá bem."

Jonathan Kreutzfeld

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