terça-feira, 28 de agosto de 2018

O Irã e o Programa Nuclear

O Irã (República Islâmica do Irã) e anteriormente conhecido como Pérsia, é um país localizado na Ásia Ocidental. Tem fronteiras a norte com Armênia, Azerbaijão e Turcomenistão e com o Cazaquistão e a Rússia através do Mar Cáspio; a leste com Afeganistão e Paquistão; ao sul com o Golfo Pérsico e o Golfo de Omã; a oeste com o Iraque; e a noroeste com a Turquia. Composto por uma área de 1.648.195 quilômetros quadrados é a segunda maior nação do Oriente Médio e a 18ª maior do mundo. Com mais de 77 milhões de habitantes, o Irã é o 17º país mais populoso do mundo.

O Irã é uma República Islâmica  que é o nome dado à república que constitui seu corpo instituicional de maneira compatível com os preceitos do islamismo. Na prática, cada um dos países que adota o republicanismo islâmico tem sua maneira própria de aplicar os preceitos islâmicos às instituições republicanas. Entre os países no mundo que adotam o regime incluem as repúblicas islâmicas do Irã, Paquistão, Afeganistão e a Mauritânia.

Economia

A economia iraniana é extremamente dependente da exportação de petróleo, isso significa que enquanto havia restrição a compra de petróleo iraniano, o mundo teve uma alta de preço pois se um dos maiores produtores deste recurso não está no mercado a oferta diminuía. E para o Brasil o petróleo caro tem dois lados:

- por um lado é bom para a Petrobrás lucrar mais e viabilizar projetos caros e;
- por outro lado seria interessante para nós usuários caso o nosso preço de combustíveis também caísse.

Mas devemos olhar para a economia iraniana não como um rival petroleiro e sim como um gigante e potencial cliente dos produtos brasileiros, principalmente alimentos. Com um PIB de quase 1 trilhão de dólares e muita coisa que não conseguem produzir, o Irã pode ser um grande parceiro econômico de qualquer nação produtora de alimentos.

Exportações
66,37 mil milhões
Produtos exportados
Petróleo (80%), produtos químicos e petroquímicos, frutas e nozes, tapetes
Principais parceiros de exportação
República Popular da China 21,4%, Japão 9,1%, Turquia 8,8%, Índia 8,1%, Coreia do Sul 8%, Itália 5,3%
Importações
66,97 mil milhões 
Produtos importados  
Matérias-primas e bens intermediários, bens de capital, alimentos e outros bens de consumo, serviços técnicos
Principais parceiros de importação
Árabes Unidos 30,9%, República Popular da China 17,4%, Coreia do Sul 7,1%, Alemanha 4,8%, Turquia 4,2%
Dívida externa bruta  
9,452 bilhões 

Outro aspecto interessantíssimo da economia iraniana é sua pequena dívida externa que corresponde a cerca de 10% do PIB, só pra ter uma ideia, os EUA possuem dívida externa equivalente a quase 100% do seu PIB e a Noruega mais de 800%.


Situação atual: "Pior negócio de todos os tempos", diz Trump

O acordo nuclear marcou a maior realização estrangeira do ex-presidente americano Barack Obama. Trump, no entanto, chamou o pacto de "desastre" e de "o pior negócio de todos os tempos" e tem trabalhado para desfazer grande parte das agendas de política interna e externa deixadas por Obama.

O atual presidente dos EUA critica o acordo por não incluir o programa de mísseis balísticos do Irã ou o apoio governamental iraniano a grupos como o Hezbollah e a ajuda enviada por eles ao presidente sírio Bashar Assad. Trump também critica o fato de os termos do acordo terem data para expirar. Ele afirma que o pacto "deu à ditadura do Irã uma linha de vida política e econômica".

O primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu, um dos inimigos do Irã, também critica a negociação. Buscando garantir a retirada de Trump do pacto, ele apresentou na semana passada o que disse ser provas de que o Irã mentiu sobre suas ambições nucleares nos anos 2000. Porém as informações utilizadas por Netanyahu parecem coincidir com as que a AIEA já informara anteriormente sobre o programa nuclear de Teerã.

Enquanto isso, muitos iranianos dizem que não viram os benefícios econômicos que o presidente Hassan Rohani prometeu com o acordo. O público foi atingido pela espiral inflacionária, que alimentou protestos pelo país em dezembro e janeiro.

O acordo sobre o Programa Nuclear Iraniano aprovado por Obama em 2015

As grandes potências e o Irã concluíram em 14 de julho de 2015 em Viena, após meses de intensas negociações, um acordo final sobre o programa nuclear iraniano, destinado a garantir a natureza estritamente pacífica do programa em troca do levantamento das sanções internacionais contra o Irã. Uma constatação importante é a de que Barack Obama se arriscou bastante encabeçando um acordo que é relativamente arriscado.

Entre os principais "parâmetros" do acordo estão:

'Breakout time'

O objetivo é fixar um ano, no mínimo, e pelo menos dez anos, o "breakout time", o tempo necessário para o Irã produzir material físsil suficiente para a fabricação de uma bomba atômica, e para tornar uma tal tentativa imediatamente detectável. Este período é atualmente de 2 a 3 meses.

Enriquecimento de urânio

O enriquecimento de urânio por meio de centrífugas abre caminho para diferentes utilizações, segundo a taxa de concentração de isótopo U-235: 3,5 a 5% para combustível nuclear, 20% para uso médico e 90% para uma bomba atômica. Esta última etapa, a mais crucial, é também tecnicamente a mais rápida a produzir.
- O número de centrífugas do Irã passará de mais de 19.000 atualmente, incluindo 10.200 em atividade, a 6.104 - uma redução de dois terços -, durante um período de 10 anos.
Apenas 5.060 entre elas serão autorizadas a enriquecer urânio, a um nível que não ultrapassará 3,67% durante 15 anos. Trata-se exclusivamente de centrífugas de primeira geração.
Contudo, o Irã poderá prosseguir com suas atividades de pesquisa com centrífugas mais modernas e começar a fabricação, após oito anos, dos IR-6, dez vezes mais eficazes que as máquinas atuais, e ao IR-8, com desempenho 20 vezes superior.
- Teerã reduzirá a 300 kg, por um período de 15 anos, seu estoque de urânio enriquecido (LEU), atualmente de 10.000 kg.
- Teerã aceitou não construir nenhuma nova instalação de enriquecimento de urânio durante 15 anos.
- O Irã concorda em interromper o enriquecimento de urânio por pelo menos 15 anos na usina de Fordo, enterrada sob as montanhas e, portanto, impossível de destruir por ação militar.
Não haverá material físsil em Fordo por pelo menos 15 anos.
O local permanecerá aberto, mas não enriquecerá urânio.
Cerca de dois terços das centrífugas de Fordo será removido do local.
- Natanz: é a principal instalação de enriquecimento iraniano, com cerca de 17.000 centrífugas IR-1 de primeira geração, mil de IR-2M, e com capacidade de acomodar um total de 50.000.
Teerã concordou em torná-la sua única usina de enriquecimento e manter apenas 5.060 centrífugas, todas IR-1. As centrífugas IR-2M serão retiradas e colocadas sob controle da AIEA.

Controle

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), já presente no Irã, será responsável por controlar regularmente todas as instalações nucleares iranianas, e terá suas prerrogativas reforçadas consideravelmente.
- O campo de competência da AIEA se estenderá a todo programa nuclear iraniano, da extração de urânio à pesquisa-desenvolvimento, passando pela conversão e o enriquecimento de urânio. Os inspetores da AIEA poderão ter acesso às minas de urânio e aos locais onde o Irã produz o "yellowcake" (um concentrado de urânio), durante 25 anos.
- O Irã também concedeu um acesso limitado a suas instalações não-nucleares, principalmente militares, em caso de suspeita de atividade nuclear ilegal, pelos inspetores da AIEA como parte do Protocolo adicional ao Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) que os países se comprometeram a aplicar e ratificar.

Plutônio

O acordo visa a tornar impossível a produção pelo Irã de plutônio 239, outro componente que pode compor uma bomba nuclear.
- O reator de água pesada em construção em Arak será modificado de modo a ser incapaz de produzir plutônio de qualidade militar. Os dejetos produzidos serão enviados ao exterior durante toda a vida do reator.
- Teerã não poderá construir um novo reator de água pesada durante 15 anos.

Sanções

O Conselho de Segurança das Nações Unidas deve adotar uma nova resolução para aprovar o acordo e anular todas as resoluções anteriores contra o programa nuclear iraniano.
Algumas medidas serão, no entanto, mantidas como exceção.
- As sanções americanas e europeias relacionadas com o programa nuclear iraniano visando os setores das finanças, energia e transporte, serão levantadas "assim que o Irã implemente" seus compromissos nucleares, atestado por um relatório da AIEA, o que não deve acontecer antes de 2016.
- As sanções da ONU sobre as armas: vão ser mantidas por cinco anos, mas exceções poderão ser concedidas pelo Conselho de Segurança. Todo comércio de mísseis balísticos com capacidade de transportar ogivas nucleares permanece banido por um período indeterminado.

Considerações finais

O fim do embargo recolocava o Irã na economia mundial em uma época de crise econômica global, a atual gestão dos EUA prefere o distanciamento do Irã e o isolamento econômico do mesmo.

Jonathan Kreutzfeld

Fonte:






                       

Iêmen: ruim para homens, um inferno para mulheres

Após 33 anos de ditadura, em meio a Primavera Árabe, Ali Abdullah Saleh foi morto em 2011 acusado de traição pelo próprio povo. Na época, ele passou o comando do país para o seu então vice, Abd-Rabbu Mansour Hadi. Esta reviravolta deveria trazer estabilidade para o país, no entanto fracassou violentamente.

Iêmen: Ruim para os homens, um verdadeiro inferno para as mulheres.

Um detalhe muito importante sobre o Iêmen, é que entre sunitas e xiitas, o país é considerado um dos mais radicais do mundo, com registros de mortes violentas aos cristãos e atrocidades cometidas contra as mulheres. Condenações por apedrejamento para as mulheres, retirada de clitóris para findar o prazer das mesmas e queimadas vivas, são infelizmente violências mais comuns do que se imagina neste país.

Os rebeldes xiitas houthis entraram em Sanaa em setembro de 2014 e assumiram seu controle meses depois. Hadi enfrentou uma variedade de problemas, incluindo ataques da Al-Qaeda, um movimento separatista no sul, a resistência de muitos militares que continuaram leais a Saleh, assim como corrupção, desemprego e insegurança alimentar.

O movimento houthi, que segue uma corrente do islã xiita chamada zaidismo e havia travado uma série de batalhas contra Saleh na década anterior, tirou proveito da fraqueza do novo presidente e assumiu o controle da província de Saada, no nordeste do país.

Desiludidos com a transição, muitos iemenitas – incluindo os sunitas – apoiaram os houthis e, em setembro de 2014, eles entraram na capital, Sanaa, montando acampamentos nas ruas e bloqueando as vias.

Em janeiro de 2015, eles cercaram o palácio presidencial e colocaram o presidente Hadi e seu gabinete em prisão domiciliar. O presidente conseguiu fugir para a cidade de Áden no mês seguinte.

O conflito armado se transformou em uma guerra de grande escala no Iêmen em 2015, aumentando as já enormes necessidades médicas e humanitárias e restringindo gravemente o acesso a cuidados de saúde.

Os Houthis continuaram a avançar em 2015, tomando o palácio presidencial em Sanaa, em janeiro. O presidente Hadi fugiu para Aden e uma coalizão liderada pela Arábia Saudita que apoia seu governo deu início a ataques aéreos para recuperar o território perdido, inclusive o porto de Aden. Enquanto isso, a guerra fortaleceu a presença da Al Qaeda e do Estado Islâmico no país. Até o fim do ano, a ONU estimava que 2.800 pessoas tenham sido mortas e cerca de 2,5 milhões deslocadas internamente. O sistema de saúde foi dizimado: os profissionais médicos fugiram do país, instalações foram destruídas e materiais médicos, cortados.

A guerra civil no Iêmen, o país mais pobre do mundo árabe, deixa 22 milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade, segundo os dados mais recentes da Organização das Nações Unidas (ONU), que considera essa a maior crise humanitária global em curso atualmente.

Só em 2018, 85 mil pessoas já foram forçadas a deixar suas casas por conta do conflito iemenita, e o total de mortos ultrapassa 10 mil desde 2015.

Antagonismo regional

Sunitas com apoio saudita x Xiitas com apoio iraniano.
  

Em meio à guerra, o país sofre com bloqueios comerciais impostos pelos sunitas, que impedem que ajuda humanitária e itens básicos, como comida, gás de cozinha e medicamentos, cheguem a 70% da população iemenita.

Os anos de conflito não só provocaram uma escassez aguda de alimentos como destruíram o sistema de saúde do país, dificultando o combate a uma grave epidemia de cólera. Em dezembro, o número de casos suspeitos de cólera alcançou 1 milhão.


Por que essa guerra importa para o resto do mundo?

O Iêmen é estrategicamente importante, porque está no estreito de Bab-el-Mandeb, que faz ligação com a África e é rota de navios petroleiros. Além disso, muitas potências lucram indiretamente com a guerra iemenita: a coalizão saudita que bombardeia o Iêmen compra armas de países como Estados Unidos, Reino Unido e França. No entanto, é possível garantir que o conflito também tem muitas armas sauditas e iranianas. Ou seja, quase todos os envolvidos ganham dinheiro e quem se ferra é o povo iemenita.

Só as empresas britânicas teriam lucrado £6 bilhões ( R$27 bilhões, aproximadamente) com venda de armas à Árabia Saudita desde o início da guerra no Iêmen, segundo pesquisa da ONG War Child UK.

A coalizão alegou querer parar o contrabando de armas para os rebeldes do Irã, mas a ONU disse que as restrições poderiam desencadear "a maior crise de fome que o mundo já viu em décadas".

A crise humanitária

A população tem suportado o caos da guerra e sido constantemente vítima do que o conselho de direitos humanos da ONU chama de "incessantes violações do Direito internacional".

Os ataques aéreos da coalizão saudita foram as principais causas da morte de civis. A destruição da infraestrutura do país e as restrições de importação de comida, de medicamentos e de combustível causaram o que a ONU diz ser uma situação catastrófica.

Mais de 20 milhões de pessoas, incluindo 11 milhões de crianças, precisam de ajuda humanitária imediata. Há 7 milhões de pessoas dependentes de ajuda para comer e 400 mil crianças sofrendo de desnutrição.

Ao menos 14,8 milhões estão sem cuidados básicos de saúde, e apenas 45% dos 3,5 mil postos de saúde estão funcionando e lutando para conter a maior epidemia de cólera do mundo, que até o final do ano passado havia resultado em 2.196 mortes.

Jonathan Kreutzfeld

Fonte: