quinta-feira, 14 de março de 2019

Brexit: Como será a saída do Reino Unido?

O Parlamento britânico aprovou hoje dia 14/03/19 o pedido de adiamento do Brexit à União Europeia. Na mesma sessão, os parlamentares rejeitaram uma emenda para postergar a saída do Reino Unido do bloco. Isso aconteceu depois de uma grande derrota da primeira-ministra Theresa May na terça feira desta mesma semana referente ao texto proposto por ela, foram 391 contra e 242 votos a favor.

Diante da situação, a premiê pedirá à liderança da União Europeia para que a saída definitiva ocorra em outra data – antes, a previsão era que o Brexit ocorresse em 29 de março.

Integrantes do Parlamento votaram nesta quinta-feira uma série de emendas para decidir a saída do Reino Unido da União Europeia vai ou não ser adiada. Na quarta-feira, os parlamentares decidiram que o Brexit só poderá ocorrer caso haja acordo com o bloco.

Consequências possíveis

Caso o Brexit não tenha um acordo aprovado até junho, o Reino Unido poderá ter uma saída abrupta e sem participação em nenhum dos “sub-acordos” existentes no bloco. Só pra ter uma ideia, até mesmo uma simples ligação telefônica teria taxas muito altas caso não haja acordo. Bem como todo tipo de importação ou exportação do país com os demais membros da União Europeia teria taxação igual ao Brasil por exemplo, que obviamente não participa do bloco.

A grande verdade é que o Brexit aconteceu numa votação popular e não no parlamento então o parlamento coloca a batata quente nas mãos da atual primeira ministra pois não querem assumir as consequências negativas já percebidas na economia do Reino Unido. Muitas empresas já comunicaram que pretendem tirar suas sedes do Reino Unido se não houver um acordo. E mesmo havendo acordo, outro tanto de empresas e capitais devem sair de Londres para outra nação que pertença ao grupo maior da Europa que é a União Europeia.

Resumindo quase não é possível identificar vantagens reais para a economia do Reino Unido com o Brexit.

Abaixo temos o link de uma postagem realizada sobre o Brexit, na época em que foi votado.


Jonathan Kreutzfeld

quinta-feira, 7 de março de 2019

Brumadinho: hidrografia e dimensão do desastre ambiental


Nesta postagem escrevo sobre a dimensão e a localização geográfica do desastre em Brumadinho. Sabemos que desastre ou tragédia são palavras que remetem a evento, acontecimento que causa sofrimento e ou grande prejuízo de ordem física, social, moral. Eu até poderia mencionar negligência para este caso, mas no final é uma negligência que causa perdas e sofrimentos, então serve.

O maior pesadelo ecológico do Brasil em sua história teve uma reprise ainda pior que o recente ocorrido em Mariana – MG. No dia 25 de janeiro de 2019, o rompimento da barragem da Companhia Vale em Brumadinho, também em Minas Gerais, deixou um rastro de mortes e lama.

A barragem da mineradora Vale na região do Córrego do Feijão teve o rompimento informado à Secretaria do Estado de Meio-Ambiente às 13h37 de 25 de janeiro. O número de mortos deve chegar a 310 considerando confirmados e desaparecidos. O acidente de Brumadinho é o maior do mundo, entre mineradoras, em número de mortes. E a Vale já é a empresa responsável pela maior tragédia ambiental do Brasil, três anos atrás, em Mariana, quando 19 pessoas morreram soterradas pela lama, e o distrito de Bento Rodrigues foi apagado do mapa, soterrado.

O Ibama declarou que a tragédia de Mariana  despejou cerca de 50 milhões de metros cúbicos de rejeitos, contra 13 milhões de Brumadinho. Foram destruídos cerca de 270 hectares de terreno, que equivalem a 270 campos de futebol.

Localização

O desastre aconteceu na Bacia do Rio Paraopeba, este que por sua vez é uma sub-bacia do Rio São Francisco. 

Este rio tem extensão de 546,5 km, área de 12.054,25 km² e abrange 48 municípios mineiros, nos limites e ecraves da Mata Atlântica e do bioma Cerrado. O rejeito contaminado deixa toda essa rede de drenagem alterada, desde nascentes e curso do rio, com vazões interrompidas em alguns trechos e com variações ao longo de toda a bacia hidrográfica.

O desastre aconteceu em uma região da Serra da Mantiqueira, com aproximadamente 700m de altitude e as águas do Rio Paraopeba na imagem ao lado escoam na direção norte. No alto da figura podemos observar um grande reservatório de água já no curso principal do Rio São Francisco. Ali temos a Usina de Três Marias, que com 396MW de potência é uma das maiores hidroelétricas da região do São Francisco. Detalhe que a mesma foi inaugurada em 1962 e diferentemente do que acontece com as barragens de rejeitos, possui manutenção considerada adequada. Claro, porque ainda gera receita ao contrário do rejeito de mineração.

Já no mapa em detalhe abaixo, temos a Usina de Retiro baixo que fica 200km sentido jusante (abaixo) do desastre de Brumadinho e deve ser responsável por “decantar” os rejeitos do desastre, antes que as águas cheguem à barragem de Três Marias que já fica no curso do Rio São Francisco.

A Usina de Retiro Baixo de acordo com a Agência Nacional de Águas, foi desligada e deve ser por tempo indeterminado, responsável por reter a lama de rejeitos. Como sua potência é de apenas 30MW, tal desligamento não deve afetar o fornecimento de energia da região que atualmente está com as demais hidroelétricas em pleno funcionamento devido à grande quantidade de chuvas que tem acontecido na estação.

Grandes perdas ambientais

Segundo dados da SOS Mata Atlântica/INPE/MapBiomas, houve uma perda de 112 hectares de florestas nativas. Destes, 55 hectares eram áreas bem preservadas. Além disso, a bacia do rio Paraopeba é formadora e corresponde a 5,14% do território da bacia do rio São Francisco, além de ser um dos principais mananciais de abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte – desde a tragédia, o Paraopeba se manteve indisponível para qualquer tipo de uso.

























A comunidade da região, incluindo ribeirinhos, quilombolas, indígenas e agricultores, utilizam a água do Paraopeba para subsistência, atividades econômicas e, principalmente, para animais e lazer. Existe ainda, o impacto de valor imaterial – associado a cultura dessas comunidades -, que não vem sendo mensurado. Assim como no rio Doce, este dano silencioso é de impacto profundo em várias gerações.
O dano ambiental ocorreu logo após o período de piracema – época de reprodução de espécies que só ali vivem –, além daquelas que foram reintroduzidas pela Usina Hidrelétrica de Retiro Baixo, como o repovoamento de alevinos que tinha acabado de ser realizado. Após a tragédia, todas essas espécies foram perdidas.

Considerações finais

O desastre de Brumadinho é uma reincidência da negligência de uma atividade econômica de grande lucratividade que é a mineração. Porém esta lucratividade, ocorre com grandes perdas ambientais, mesmo quando tudo corre bem e possui baixíssimo valor agregado, ou seja, mantém o país em seu subdesenvolvimento. Pra piorar, infelizmente estamos nos acostumando a ver esse tipo de reincidência sem a devida aplicação do rigor da lei, isso que nem decidi por falar dos danos socioeconômicos indiretos provocados pelo desastre.

Jonathan Kreutzfeld

VEJA MAIS EM: 


Obs: abaixo seguem imagens anexas pois ficaram sem contexto na postagem e já tem bastante disso na internet.

Alguns ANTES e DEPOIS do desastre:





Fonte:







quarta-feira, 6 de março de 2019

Rio São Francisco: Características e Transposição

Por que ele é tão importante?

Bacia do Rio São Francisco
Também conhecido como Velho Chico ou ainda como Nilo brasileiro, o rio São Francisco é um dos mais importantes do Brasil. Ele nasce na Serra da Canastra, em Minas Gerais, atravessa a Bahia, Pernambuco e faz a divisa natural dos estados de Sergipe e Alagoas antes de desaguar no Atlântico. E por atravessar uma região semiárida sem secar é que o chamamos de Nilo brasileiro. Pela sua extensão e relevância, também é chamado de rio da integração nacional. Vale ressaltar que muitos dos seus 168 afluentes são intermitentes, estes ficam secos uma boa parte do ano.

A área de drenagem (638.576Km2) ocupa 8% do território nacional e sua cobertura vegetal contempla fragmentos de Cerrado no Alto e Médio, Caatinga no Médio e Submédio e de Mata Atlântica no Alto São Francisco, principalmente nas cabeceiras. A bacia concentra a maior quantidade e diversidade de peixes de água doce da região Nordeste. A vazão natural média anual do rio São Francisco é de 2.846 metros cúbicos por segundo, mas ao longo do ano pode variar entre 1.077m³/s e 5.290m³/s.

Mais de 14,2 milhões de pessoas, o equivalente a 7,5% da população do País, habitava a região em 2010, sendo a maioria habitante da região metropolitana de Belo Horizonte. A agricultura é uma das mais importantes atividades econômicas, mas a região possui fortes contrastes socioeconômicos, com áreas de acentuada riqueza e alta densidade demográfica e áreas de pobreza crítica e população bastante dispersa. Dos 456 municípios com sede na bacia, somente 93 tratam seus esgotos.

Como reflexo das principais atividades econômicas da Bacia, há necessidade de recuperação ambiental das áreas degradadas para mitigar os impactos sobre os recursos hídricos. A região vive extremos de secas e de cheias. O semi-árido, que extrapola a Bacia, é vulnerável e sujeito a períodos críticos de prolongadas estiagens, que têm sido responsáveis por êxodo de parte de sua população. Por outro lado, os moradores da região metropolitana de Belo Horizonte enfrentam enchentes frequentes.

Rica em recursos naturais, a bacia do São Francisco abriga uma diversidade de culturas, de locais históricos, de sítios arqueológicos e de importantes centros urbanos. Tudo isso associado à imensidão do rio e às belezas naturais da região oferece um grande potencial para o desenvolvimento do turismo, atividade ainda incipiente.

Usina Hidroelétrica de Três Marias - MG
O potencial hidrelétrico aproveitado da bacia é de 10.473 MW, distribuídos principalmente nas usinas Três Marias, Queimado, Sobradinho, Itaparica, Complexo Paulo Afonso e Xingó. Os reservatórios Três Marias e Sobradinho têm papel fundamental na regularização das vazões São Francisco. Um dos maiores desafios é que a bacia registra todos os tipos de usos dos recursos hídricos (irrigação, geração de energia, navegação, saneamento, pesca e aquicultura, atividades turísticas e de lazer), o que exige uma análise do conjunto para que se possa planejar adequadamente sua gestão.

No que consiste sua transposição?

É um projeto em andamento, com o objetivo de direcionar parte das águas do rio para o semiárido nordestino. Apesar das obras terem se iniciado em 2007, a ideia da transposição é muito mais antiga: começou a ser discutida em 1847 por intelectuais do Império Brasileiro de Dom Pedro II. No modelo atual, prevê o desvio de 1% a 3% (dados do governo) das suas águas para abastecer rios temporários e açudes que secam durante o período de estiagem. Para isso, conta com a construção de mais de 700 quilômetros de canais que farão o desvio do volume. A obra divide-se em dois grandes eixos. O Eixo Norte se encarrega de captar as águas em Cabrobó (PE) e levá-las ao sertão de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. O Eixo Leste, por sua vez, realizada a captação das águas em Floresta (PE) a fim de beneficiar territórios de Pernambuco e Paraíba.
Transposição do Rio São Francisco
Qual é a situação atual das obras? Por que o projeto virou um embate entre Lula, Dilma e Temer?

Divulgação do governo sobre o andamento das obras de transposição
A obra foi iniciada em 2007, mas vários contratempos a adiaram para 2015. O projeto, portanto, saiu do papel durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT). No entanto, o Eixo Leste da transposição foi inaugurado no início de março deste ano, isto é, pelo atual governo Temer. Como as diferentes etapas de implementação do projeto acabaram coincidindo com governos distintos, uma verdadeira batalha pela “paternidade” da obra vem sendo travada. Alguns dias após Temer inaugurar oficialmente a conclusão do eixo Leste, Lula e Dilma fizeram uma “reinauguração”. A previsão é que o Eixo Norte, que já tem 94,5% das obras concluídas, seja entregue até o fim do segundo semestre de 2017.

E por que transpor o Rio São Francisco? Quais os benefícios?

A segurança hídrica para a região semiárida brasileira é, sem dúvida, o maior dos proveitos. O aumento do abastecimento das áreas secas culminaria na elevação da produção de alimentos, queda da mortalidade de rebanhos e, portanto, favoreceria diretamente a produtividade e vida no campo. O impacto também se estenderia à saúde dos moradores da região, já que as águas do Rio São Francisco são de qualidade superior àquelas existentes nas bacias receptoras, diminuindo assim a incidência de doenças ligadas ao consumo de água imprópria.

Então, por que tantas pessoas são contra?

O tema é controverso porque uma obra desse porte induz uma série de novas interações e impactos sociais e ambientais.

Apenas 4% da água será destinada à população local, 26% ao uso urbano e industrial e 70% para irrigação da agricultura. O argumento contra é o de que a transposição serviria para expandir as fronteiras do agronegócio, beneficiando, sobretudo, latifundiários, pois grande parte dos canais passa por fazendas. Ou seja, uma obra que diz que vai ajudar uns mas acaba ajudando mais, outros.


Grande parte das críticas referem-se aos impactos negativos que a alteração traria para o ecossistema da região ao intervir no habitat natural de muitas espécies. Há também a possibilidade de salinização e erosão dos rios receptores devido ao volume de água repassado e o estado de fragilidade dos afluentes que alimentam o São Francisco.

A transposição poderia ameaçar a sobrevivência do rio. Só para ter uma ideia, próximo de sua foz como o rio tem menor volume de água, esta em curso uma salinização desta região devido ao volume maior de entrada de água do mar durante as marés altas. Este fato prejudica as cidades que captam suas águas no litoral

Outro fator que muitos criticam, é o fato de que os 10 bilhões de reais gastos com a obra poderiam ser gastos de forma mais eficiente com a construção de poços profundos e com alta qualidade de água.

Fonte:



terça-feira, 5 de março de 2019

A crise na Venezuela e as migrações

População: 31.108.083 habitantes
Área: 912.050 km²
PIB: 344 bilhões de dólares

Em 2012, faleceu o ex-presidente Hugo Chávez, um nome populista que por algum tempo promoveu melhorias na qualidade de vida dos venezuelanos, principalmente para as classes mais pobres. Quem assumiu o poder desde então foi Nicolás Maduro, que tentou aplicar em seu governo a mesma política de Chávez. As condições que o atual presidente encontrou, no entanto, eram bem diferentes das de quando Hugo assumiu: o preço do barril de petróleo, base da economia da Venezuela, baixou. Medidas de controle estatal próprias do chavismo, modelo de socialismo inspirado pelo bolivarianismo, se mostraram insustentáveis dentro de um contexto de crise política e econômica. Um detalhe interessante deste momento, é que coincide praticamente com a retirada de tropas americanas no oriente médio, praticamente findando o conflito no Iraque e também do Afeganistão. Ou seja, a decisão do Obama ajudou sem querer a ferrar com o preço do petróleo e consequentemente a Venezuela que se tornou tão dependente do mesmo.

Apesar da atual crise ser considerada muito grave, só pra ter uma ideia de como o PIB venezuelano é bom, este valor de PIB é superior ao do sul do Brasil com praticamente a mesma população. Neste caso, os problemas enfrentados pelo país possivelmente são fruto de uma péssima distribuição de renda. Afinal, o PIB não é ruim mesmo com o valor do barril do petróleo (que é a base absolutamente mais forte da economia do país) bem abaixo dos valores cobrados no final da década passada.



A exportação do país, de forma bruta representa sozinha quase 50 bilhões de dólares e os produtos mais comercializados são: petróleo, bauxita e alumínio, aço, produtos químicos, produtos agrícolas, manufaturados básicos. Curiosamente, apesar de o regime bolivariano criticar duramente os Estados Unidos e vice-versa, são grandes parceiros comerciais. Os Estados Unidos representam mais de um terço das exportações. Vale ressaltar que o petróleo venezuelano representa a maior reserva do recurso do planeta!
  
Cinco anos depois, venezuelanos enfrentam uma situação complicada. Nos mercados, faltam alimentos, produtos de higiene e remédios. A inflação se encontra acima de 800% ao ano, aumentando o preço de insumos básicos, quando esses conseguem ser encontrados. As ruas se enchem de uma oposição cada vez mais radical, que encontra uma resposta igualmente radical por parte do governo do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), já há 18 anos no poder.

O caos provocou uma forte onda migratória de venezuelanos miseráveis para os países vizinhos da América Latina, principalmente o Brasil. Cerca de 50 mil venezuelanos entraram aqui após o agravamento da crise no país.

A economia na Venezuela é pouco diversificada e dependente. A base dessa, aproximadamente 96% da renda (seja na extração, refino, transporte e distribuição...), está no petróleo, produto abundante no país, mas de valor que sofre oscilações. Itens de necessidade não são produzidos no país, dependendo da importação de países próximos, entre eles, o Brasil. O preço do barril de petróleo, de 120 dólares em 2008, caiu para menos de 50 dólares a partir de 2014. Além de perder a capacidade de importar, o país não pôde manter os investimentos sociais, um dos pontos mais positivos do governo de Chávez.

O controle nos preços, uma medida tomada por Hugo Chávez para evitar inflação, desestimulou investimentos de iniciativa privada dentro do país. Em alguns casos, a venda era desvantajosa para empresas privadas devido aos impostos, o que ajudou a fazer com que os produtos sumissem das prateleiras. A dependência do Estado na economia prejudica o país, quando esse não consegue, sozinho, suprir as demandas da população.

A migração em massa

Diante da ampliação da crise na Venezuela que leva cada vez mais venezuelanos a cruzarem as fronteiras rumo ao Brasil em busca de uma vida melhor, o Governo brasileiro assinou um decreto reconhecendo a "situação de vulnerabilidade" em Roraima. O Estado é a principal porta de entrada dos imigrantes que fogem da crise de abastecimento de alimentos, do colapso dos serviços públicos e de uma inflação de 700% no país vizinho. O presidente ainda editou uma medida provisória (MP) que acena com ações de assistência emergências para imigrantes venezuelanos no Estado em diversas áreas, como proteção social, saúde, educação, alimentação e segurança pública. Elas serão coordenadas por um comitê federal composto por representantes de distintos ministérios e conduzidas em parcerias entre União, Roraima e municípios.

A prefeitura de Boa Vista estima que cerca de 40.000 venezuelanos já tenham entrado na cidade, o que representa mais de 10% dos cerca de 330.000 habitantes da capital. Os abrigos estão lotados e milhares de imigrantes vivem em situação de rua. A maioria chega pelo pequeno município de Pacaraima, com 16.000 habitantes e depois segue para Boa Vista. Apesar de o fluxo de venezuelanos ter aumentado desde o fim de 2016, uma nova leva chegou após a Colômbia colocar mais travas para a entrada de refugiados no país.

Segundo o documento assinado por Temer, as medidas visam também ampliar as políticas de mobilidade, distribuição no território nacional e apoio à interiorização dos imigrantes venezuelanos, desde que eles manifestem essa vontade.

O deslocamento dos venezuelanos que chegam pela fronteira é complexo. Muitas vezes, por não terem dinheiro para custear passagens ou táxis, alguns imigrantes percorrem a pé o caminho de mais de 200 quilômetros que separa Pacaraíma, na fronteira, e Boa Vista.

Em fevereiro, o então ministro da Defesa, Raul Jungmann, já tinha anunciado a atuação das Forças Armadas na coordenação das ações humanitárias e que o efetivo militar também será duplicado, passando de 100 para 200 homens. Após visitar Roraima durante o carnaval, o presidente Temer ressaltou que “ninguém vai impedir a entrada de refugiados” no Brasil, mas que irá “ordenar” o ingresso no país. O plano, segundo o Governo, é que um hospital de campanha seja deslocado para a fronteira e os postos de controle no interior de Roraima sejam duplicados.

Quem são os imigrantes?

De acordo com Polícia Federal, em 2017 foram registrados 22.247 pedidos de refúgio por venezuelanos. Um recorde de solicitações nos últimos anos. Nem todos os venezuelanos são considerados refugiados porque o refúgio é concedido àqueles que sofrem perseguições políticas, étnicas e religiosas. Mas muitos já pedem esse visto porque ao conseguir apenas o documento de solicitação já podem emitir documentos e trabalhar legalmente no Brasil.

Além do refúgio, os estrangeiros agora também pedem a chamada residência temporária que foi permitida no ano passado e passou a ser gratuita a partir de agosto. No ano passado, foram registrados mais de 8.000 pedidos dessa nova modalidade.

Recentemente, o governo brasileiro anunciou que vai fazer um censo para identificar o perfil dos imigrantes venezuelanos no Brasil, mas não informou quando este levantamento será realizado.

Jonathan Kreutzfeld

Fonte: