Por que ele é tão
importante?
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Bacia do Rio São Francisco |
Também
conhecido como Velho Chico ou ainda como Nilo brasileiro, o rio São Francisco é
um dos mais importantes do Brasil. Ele nasce na Serra da Canastra, em Minas
Gerais, atravessa a Bahia, Pernambuco e faz a divisa natural dos estados de
Sergipe e Alagoas antes de desaguar no Atlântico. E por atravessar uma região
semiárida sem secar é que o chamamos de Nilo brasileiro. Pela sua extensão e
relevância, também é chamado de rio da integração nacional. Vale
ressaltar que muitos dos seus 168 afluentes são intermitentes, estes ficam
secos uma boa parte do ano.
A área de drenagem
(638.576Km2) ocupa 8% do território nacional e sua cobertura vegetal contempla
fragmentos de Cerrado no Alto e Médio, Caatinga no Médio e Submédio e de Mata
Atlântica no Alto São Francisco, principalmente nas cabeceiras. A bacia
concentra a maior quantidade e diversidade de peixes de água doce da região
Nordeste. A vazão natural média anual do rio São Francisco é de 2.846 metros
cúbicos por segundo, mas ao longo do ano pode variar entre 1.077m³/s e
5.290m³/s.
Mais de 14,2
milhões de pessoas,
o equivalente a 7,5% da população do País, habitava a região em 2010, sendo a maioria habitante da região
metropolitana de Belo Horizonte. A agricultura é uma das mais importantes
atividades econômicas, mas a região possui fortes contrastes socioeconômicos,
com áreas de acentuada riqueza e alta densidade demográfica e áreas de pobreza
crítica e população bastante dispersa. Dos 456 municípios com sede na bacia,
somente 93 tratam seus esgotos.
Como
reflexo das principais atividades econômicas da Bacia, há necessidade de
recuperação ambiental das áreas degradadas para mitigar os impactos sobre os
recursos hídricos. A região vive extremos de secas e de cheias. O semi-árido,
que extrapola a Bacia, é vulnerável e sujeito a períodos críticos de
prolongadas estiagens, que têm sido responsáveis por êxodo de parte de sua
população. Por outro lado, os moradores da região metropolitana de Belo
Horizonte enfrentam enchentes frequentes.
Rica
em recursos naturais, a bacia do São Francisco abriga uma diversidade de
culturas, de locais históricos, de sítios arqueológicos e de importantes
centros urbanos. Tudo isso associado à imensidão do rio e às belezas naturais
da região oferece um grande potencial para o desenvolvimento do turismo,
atividade ainda incipiente.
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Usina Hidroelétrica de Três Marias - MG |
O
potencial hidrelétrico aproveitado da bacia é de 10.473 MW, distribuídos
principalmente nas usinas Três Marias, Queimado, Sobradinho, Itaparica,
Complexo Paulo Afonso e Xingó. Os reservatórios Três Marias e Sobradinho têm
papel fundamental na regularização das vazões São Francisco. Um dos maiores
desafios é que a bacia registra todos os tipos de usos dos recursos hídricos
(irrigação, geração de energia, navegação, saneamento, pesca e aquicultura,
atividades turísticas e de lazer), o que exige uma análise do conjunto para que
se possa planejar adequadamente sua gestão.
No que consiste sua
transposição?
É
um projeto em andamento, com o objetivo de direcionar parte das águas do rio
para o semiárido nordestino. Apesar das obras terem se iniciado em 2007, a
ideia da transposição é muito mais antiga: começou a ser discutida em 1847 por
intelectuais do Império Brasileiro de Dom Pedro II. No modelo atual, prevê o
desvio de 1% a 3% (dados do governo) das suas águas para abastecer rios temporários
e açudes que secam durante o período de estiagem. Para isso, conta com a construção de mais de 700 quilômetros de
canais que farão o desvio do volume. A obra divide-se em dois grandes
eixos. O Eixo Norte se encarrega de captar as águas em Cabrobó (PE) e levá-las
ao sertão de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. O Eixo Leste,
por sua vez, realizada a captação das águas em Floresta (PE) a fim de
beneficiar territórios de Pernambuco e Paraíba.
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Transposição do Rio São Francisco |
Qual é a situação
atual das obras? Por que o projeto virou um embate entre Lula, Dilma e Temer?
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Divulgação do governo sobre o andamento das obras de transposição |
A
obra foi iniciada em 2007, mas vários contratempos a adiaram para 2015. O
projeto, portanto, saiu do papel durante os governos de Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT). No entanto, o Eixo Leste da transposição foi
inaugurado no início de março deste ano, isto é, pelo atual governo Temer. Como
as diferentes etapas de implementação do projeto acabaram coincidindo com
governos distintos, uma verdadeira batalha pela “paternidade” da obra vem sendo
travada. Alguns dias após Temer inaugurar oficialmente a conclusão do eixo
Leste, Lula e Dilma fizeram uma “reinauguração”. A previsão é que o Eixo Norte,
que já tem 94,5% das obras concluídas, seja entregue até o fim do segundo
semestre de 2017.
E por que transpor
o Rio São Francisco? Quais os benefícios?
A
segurança hídrica para a região semiárida brasileira é, sem dúvida, o maior dos
proveitos. O aumento do abastecimento
das áreas secas culminaria na elevação da produção de alimentos, queda da mortalidade
de rebanhos e, portanto, favoreceria diretamente a produtividade e vida no
campo. O impacto também se estenderia à saúde dos moradores da região, já
que as águas do Rio São Francisco são de qualidade superior àquelas existentes
nas bacias receptoras, diminuindo assim a incidência de doenças ligadas ao
consumo de água imprópria.
Então, por que
tantas pessoas são contra?
O
tema é controverso porque uma obra desse porte induz uma série de novas
interações e impactos sociais e ambientais.
Apenas 4% da água
será destinada à população local, 26% ao uso urbano e industrial e 70% para
irrigação da agricultura. O argumento contra é o de que a transposição serviria
para expandir as fronteiras do agronegócio, beneficiando, sobretudo, latifundiários,
pois grande parte dos canais passa por fazendas. Ou seja, uma obra que diz que
vai ajudar uns mas acaba ajudando mais, outros.
Grande
parte das críticas referem-se aos impactos negativos que a alteração traria
para o ecossistema da região ao intervir no habitat natural de muitas espécies.
Há também a possibilidade de salinização e erosão dos rios receptores devido ao
volume de água repassado e o estado de fragilidade dos afluentes que alimentam
o São Francisco.
A
transposição poderia ameaçar a sobrevivência do rio. Só para ter uma ideia,
próximo de sua foz como o rio tem menor volume de água, esta em curso uma
salinização desta região devido ao volume maior de entrada de água do mar
durante as marés altas. Este fato prejudica as cidades que captam suas águas no
litoral
Outro
fator que muitos criticam, é o fato de que os
10 bilhões de reais gastos com a obra poderiam ser gastos de forma mais
eficiente com a construção de poços profundos e com alta qualidade de água.
Fonte: